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LITERATURA

- Publicada em 13 de Junho de 2022 às 03:00

Vencedora do Sesc de Literatura, Taiane Santi Martins fala sobre o peso da lembrança

O livro 'Mikaia', de Taiane Santi Martins, deve ser lançado em novembro pela Editora Record

O livro 'Mikaia', de Taiane Santi Martins, deve ser lançado em novembro pela Editora Record


DAVI BOAVENTURA/DIVULGAÇÃO/JC
Lara Moeller Nunes
A construção da memória de três mulheres da mesma família é o fio condutor do novo livro de Taiane Santi Martins, Mikaia, que recentemente foi contemplado com o Prêmio Sesc de Literatura na categoria Romance. A obra, que fala também sobre guerra, violência contra mulher, dança, corpo e identidade cultural, foi desenvolvida pela escritora gaúcha, natural de Vacaria, durante a tese de Doutorado em Escrita Criativa na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. O lançamento pela Editora Record está previsto para novembro deste ano.
A construção da memória de três mulheres da mesma família é o fio condutor do novo livro de Taiane Santi Martins, Mikaia, que recentemente foi contemplado com o Prêmio Sesc de Literatura na categoria Romance. A obra, que fala também sobre guerra, violência contra mulher, dança, corpo e identidade cultural, foi desenvolvida pela escritora gaúcha, natural de Vacaria, durante a tese de Doutorado em Escrita Criativa na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. O lançamento pela Editora Record está previsto para novembro deste ano.
A trama, que mistura ficção e realidade, conta a história de personagens que viveram e fugiram da Guerra Civil de Moçambique. Há 20 anos no Brasil, avó e netas aprendem a enfrentar o passado traumático de maneiras diferentes, o que muitas vezes resulta em embates familiares. Enquanto a protagonista Mikaia tenta lembrar das suas origens depois de sofrer uma amnésia repentina minutos antes de entrar no palco para uma apresentação de ballet, sua irmã Simi tenta a todo custo esquecer das lembranças que possui daquele período e a avó, Shaira, busca o silenciamento.
"O livro tem como base o pensamento da construção da memória. Sou historiadora e a memória é um assunto que faz parte do meu estudo há muito tempo. Decidi trazer essa questão agora de forma ficcional, a partir de uma perspectiva nova, com conceitos que eu já vinha desenvolvendo dentro da área. As personagens se amam e possuem uma relação muito bonita, mas essas diferentes formas de lidar com as lembranças as colocam em conflito, e é a partir desses embates e dessas distintas formas de enfrentamento que desenvolvo a narrativa", explica a autora.
Desde que concluiu suas graduações em História e Letras, sempre teve a literatura africana como principal campo de estudo. Quando finalizou a dissertação de Mestrado, com foco na obra do costa-marfinense Ahmadou Kourouma, e começou a pensar nas possibilidades de temáticas para o Doutorado, encontrou em Moçambique tudo aquilo que procurava. Na época, por não ter tanto conhecimento específico sobre a região, procurou um professor especialista no assunto para lhe ajudar. Tinha medo de cometer gafes, estereotipar personagens e mistificar certos tipos de questões.
"Lembro que, em uma das nossas primeiras conversas, ele falou sobre como a guerra civil moçambicana tinha sido muito mais traumática e impactante para a população do que o processo de colonização. Isso me marcou muito, e foi nesse momento que decidi usar o conflito dentro da minha narrativa", conta. Ela garante que em nenhum momento teve o intuito de escrever sobre as motivações ou sobre o desenrolar da batalha, mas sim sobre a história das pessoas que, de alguma maneira, foram impactadas pela situação. Mais especificamente, Taiane queria falar sobre o reflexo do combate na vida das mulheres. "Uma coisa é saber os números e os registros oficiais, outra é entender a subjetividade do sujeito na guerra", reflete.
Para atingir esse objetivo, além de estudar muito sobre o histórico da região e sobre a cultura local, a escritora viajou até o país para entrevistar pessoalmente as moradoras. Ela queria poder enxergar cada uma delas dentro das suas particularidades, sem roteiro de pesquisa ou perguntas previamente pensadas. Queria estabelecer vínculos e conexões reais.
"Muitas vezes personagens negras construídas por pessoas brancas acabam caindo em estereótipos simplistas. Como se a totalidade daquele sujeito se resumisse à cor de pele e o único conflito possível a ser enfrentado por ele fosse o racismo", explica. Para fugir disso, Taiane propôs em seu livro um deslocamento de embate, tirando o foco do enredo das questões raciais e do preconceito. Pinceladas sobre o assunto obviamente acontecem ao longo da obra, mas a linha condutora segue por outro caminho.
"Mikaia não é um livro sobre a África. É um livro sobre Moçambique. E mesmo sendo sobre Moçambique, não é um livro que fala do país de modo geral. Ele apresenta uma pequena parcela de mulheres que fizeram parte de uma comunidade em uma região específica. Ele reforça a necessidade de olharmos para a especificidade de cada um com muito respeito, sem cair no senso comum e nos estereótipos comumente propagados a respeito do continente", acentua a autora.
 
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