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Música

- Publicada em 27 de Abril de 2022 às 16:57

Kiss promove uma divertida despedida dos palcos em show na Capital

Arena do Grêmio estremeceu com show da turnê de despedida do Kiss nessa terça-feira (26)

Arena do Grêmio estremeceu com show da turnê de despedida do Kiss nessa terça-feira (26)


ANDRESSA PUFAL/JC
O rock pesado é feito de lendas. Entidades que, mesmo eternas na música que criaram e no impacto que causaram em gerações, são formadas por seres humanos que, inevitavelmente, terão que se retirar dos palcos um dia. Porto Alegre teve a chance, na última terça-feira (26), de ter um último encontro com uma dessas lendas. "Vocês queriam o melhor, vocês terão o melhor. A banda mais quente do mundo: Kiss!", anuncia o sistema de som, em altíssimo volume, dando início ao terceiro (e, ao que tudo indica, o último) show dos roqueiros mascarados na Capital, na Arena do Grêmio. A apresentação da turnê End of the Road, que abriu o giro do grupo pelo País, resultou em uma despedida em alto nível, sem nenhuma dúvida.
O rock pesado é feito de lendas. Entidades que, mesmo eternas na música que criaram e no impacto que causaram em gerações, são formadas por seres humanos que, inevitavelmente, terão que se retirar dos palcos um dia. Porto Alegre teve a chance, na última terça-feira (26), de ter um último encontro com uma dessas lendas. "Vocês queriam o melhor, vocês terão o melhor. A banda mais quente do mundo: Kiss!", anuncia o sistema de som, em altíssimo volume, dando início ao terceiro (e, ao que tudo indica, o último) show dos roqueiros mascarados na Capital, na Arena do Grêmio. A apresentação da turnê End of the Road, que abriu o giro do grupo pelo País, resultou em uma despedida em alto nível, sem nenhuma dúvida.
Foi uma noite de muito respeito entre banda e público, acima de tudo. No palco, os lendários Paul Stanley (voz e guitarra) e Gene Simmons (voz e baixo) estavam claramente dispostos a dar o máximo, mas entendendo seus limites e pegando vários atalhos - quase como um time que, estando com a partida ganha, valoriza a posse da bola e deixa o tempo passar. O que não foi nenhum problema, já que tiveram diante de si uma plateia apaixonada e intensa, disposta a se divertir e jogar junto com os artistas, como uma boa torcida de futebol. Segundo a organização, cerca de 20 mil pessoas estiveram presentes.
A abertura da noite ficou a cargo da banda local Hit the Noise, que mostrou seu heavy/stoner rock em um show sólido. A banda trouxe faixas de seu álbum de estreia e alguns singles, além de uma canção nova, recebendo uma acolhida amistosa do público.

Impacto visual deixa fãs extasiados

Gene Simmons teve o público na mão durante show do Kiss na Arena do Grêmio

Gene Simmons teve o público na mão durante show do Kiss na Arena do Grêmio


ANDRESSA PUFAL/JC
A ansiedade crescia na medida em que se aproximava a hora da banda principal, emoções que entraram em ponto de explosão pouco depois das 21h, quando as luzes se apagaram e uma introdução, mostrando os músicos indo em direção ao palco, começou a passar nos telões. "Explosão", aliás, é uma palavra comum em shows dos mascarados norte-americanos: a abertura com Detroit Rock City foi cheia delas, e o estouro de fogos e labaredas se repetiu inúmeras vezes nos números seguintes. Os músicos, com exceção do baterista Eric Singer, foram descidos ao palco a partir de plataformas, em um efeito bastante impactante do ponto de vista visual.
Para os olhos, aliás, o show foi impecável. Usando as maquiagens e indumentárias que marcaram a história do rock, o quarteto teve a seu favor uma série de efeitos de palco, que não deixavam a adrenalina baixar em momento algum. Gene Simmons fez truques com fogo, cuspiu sangue na introdução da indefectível God of thunder, subiu e desceu em plataformas que pareciam levitar diante do público. Mais para o final do show, Paul Stanley perguntou se poderia ficar mais perto do público, e acabou içado até um palco secundário, no final da pista, onde cantou Love gun e I was made for lovin' you. Mesmo o guitarrista Tommy Thayer, relativo novato na banda, teve seu momento de brilho, soltando foguetes pelo braço de sua guitarra durante seu momento solo.
Musicalmente falando, era jogo ganho antes de começar. Sucessos não faltam no repertório do Kiss, e o quarteto fez uso deles com a experiência de quem está há meio século na estrada. Faixas como Shout it out loud, Calling Dr. Love, I love it loud e Lick it up são todas forjadas para fazer um público cantar, e a plateia gaúcha certamente não se fez de rogada. Mesmo faixas mais antigas, como Cold gin e Deuce, ou ligeiramente menos notórias, como Tears are falling, Say yeah e War machine, funcionam muito bem ao vivo, botando para pular mesmo quem eventualmente não estivesse familiarizado com elas.

Sinais de cansaço aparecem, mas banda ainda dá conta do recado

Paul Stanley compensou dificuldades na voz com carisma e profissionalismo

Paul Stanley compensou dificuldades na voz com carisma e profissionalismo


ANDRESSA PUFAL/JC
Mesmo em meio aos truques, porém, era possível ver sinais de cansaço na banda, em especial Paul Stanley. Um profissional do rock de altíssimo nível, ele entregou uma performance entusiástica e cheia de carisma, mas deu para perceber que boa parte das linhas vocais (algumas bem mais complicadas do que parecem, diga-se) eram pré-gravadas. Em momentos nos quais não podia contar com o escudo da mesa de som - em especial nas falas entre as músicas - sua voz surgia fina, quase afônica. Nas músicas cantadas por Gene Simmons (que também pareceu fazer uso de playback, mas em menor escala), Tommy Thayer segurava os backing vocals quase sozinho, e a voz de Stanley, quando aparecia, claramente lutava para segurar as notas.
Seja como for, fica em aberto a questão: até que ponto isso realmente importa? Para a apaixonada Kiss Army que se reuniu na Arena do Grêmio para celebrar o rock pesado, provavelmente nada disso tem a menor importância. Na escala de valores de um show do Kiss, a diversão é o que mais importa - e isso, curiosamente, contou ainda mais na medida em que todos tinham em mente e no coração que aquela seria a última vez. O setlist 'normal' encerrou-se com Black diamond, uma das faixas mais grandiosas do repertório da banda, e o retorno com a balada Beth deu margem para o momento mais lacrimejante do show. Quem aproveitou a chance para chorar o fim da jornada roqueira do Kiss precisou recompor-se rapidamente, já que a agitada Do you love me retomou o ritmo, abrindo espaço para o clássico dos clássicos, Rock and Roll All Nite.
O Kiss sempre foi um conjunto caricato, pela própria natureza de sua proposta. Ainda assim, nunca resvalou para a paródia - e a banda parece ter entendido que a hora de sair de cena é agora, antes de correr o risco de virar uma. Quase faltou fôlego, como dissemos; mesmo o apoteótico encerramento com Rock and Roll All Nite deixou escapar alguns backing vocals fora de tom e movimentos de palco mais contidos. Mas ainda funciona, e ainda bem. Foi uma despedida animada, para cima, na qual o tom festivo não deu espaço para melancolia. Com os punhos para cima, ao invés de lenços para enxugar as lágrimas do adeus. E muito divertida, o que é o mais importante de tudo.