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Música

- Publicada em 23 de Março de 2022 às 20:50

Dead Fish comemora três décadas de conquistas na cena hardcore em show no Opinião

Ingressos para apresentação da banda capixaba em Porto Alegre estão em terceiro lote

Ingressos para apresentação da banda capixaba em Porto Alegre estão em terceiro lote


DEAD FISH/DIVULGAÇÃO/JC
Igor Natusch
Atingir a marca de três décadas de música não é fácil para artista algum no Brasil. Quando se trata de fazer isso no underground, tocando um som sem concessões e de acentuada carga política, a façanha é ainda maior. E é para celebrar os 30 anos pelas trilhas do hardcore que a banda Dead Fish estará no Opinião (José do Patrocínio, 834) neste sábado, a partir das 19h, em sua Turnê 30+1.
Atingir a marca de três décadas de música não é fácil para artista algum no Brasil. Quando se trata de fazer isso no underground, tocando um som sem concessões e de acentuada carga política, a façanha é ainda maior. E é para celebrar os 30 anos pelas trilhas do hardcore que a banda Dead Fish estará no Opinião (José do Patrocínio, 834) neste sábado, a partir das 19h, em sua Turnê 30+1.
Os ingressos estão em terceiro lote, a partir de R$ 70,00, e podem ser adquiridos pelo site Sympla, na bilheteria do Auditório Araújo Vianna ou nas lojas Planet Surf (Shopping Bourbon Wallig) e Verse (Galeria Chaves). A abertura será a cargo da Atrack, outra banda com longa história nos palcos gaúchos e brasileiros.
O nome da turnê não é por acaso. Nascida em 1991, a banda capixaba não pôde comemorar a data no ano passado, diante das restrições ainda muito necessárias em função da pandemia. Concretizar essa celebração agora tem também um elemento político, como revela o vocalista Rodrigo Lima. "Sinceramente não sei se estamos seguros. O que sei é que decidimos, depois das vacinas e depois de perceber que há um plano de acabar com a cultura, principalmente os nichos de música que são questionadores, voltar a viver. Ir tateando e reencontrando as pessoas, reconectando nosso meio de novo e ir vendo o que vai acontecer", afirma.
Há também, é claro, a pura e sincera satisfação de voltar a tocar ao vivo. "Nesse momento, estou feliz de estar voltando pra estrada - até porque, quando eu queria comemorar 30 anos de banda, estava trancado dentro de casa. Voltar ao Opinião vai ser gigante, tenho muito amor pela casa, estamos felizes que ela exista ainda, é uma vitória ver que estamos resistindo. Só peço que todos e todas levem seus passaportes vacinais com todas as vacinas, ficaremos felizes com essa atitude."
Para uma banda que começou a tocar ainda na adolescência, inspirada pela paixão por bandas como Ramones, Bad Brains e Dead Kennedys, chegar aos 30 anos de existência desperta naturalmente algumas reflexões. "A gente tinha pouco tempo pra filosofar, digamos assim. Era carregar a van em Vitória, conferir tudo, de equipamento a merchandise, e seguir", relembra Rodrigo, falando sobre os primórdios da banda. "Quando percebemos, uma história mais ou menos longa já havia sido escrita, e estávamos muito satisfeitos com tudo que fizemos, mesmo tocando nada ou pouquíssimo em radio ou aparecendo na tevê. Acho que, olhando em retrospecto, ajudamos a construir algo, a abrir um caminho que nos orgulha", diz o cantor.
E quanto do próprio Rodrigo de 1991, do jovem apaixonado por música que começou a banda, permanece com o Rodrigo de 2022? "Eu era um moleque de 17 anos, bastante mais agressivo, bastante mais confuso, mas tinha descoberto um universo novo em paralelo ao skate, no punk e no hardcore. Os zines, as letras das bandas, as demos recebidas por correio. Aquilo era um big bang pra todos nós, um mundo se abriu diante dos nossos olhos e a gente queria muito mudar de rumo e ir de encontro a esse bando de gente maluca, sonhadora e barulhenta. Nós conseguimos, mudamos os rumos das nossas vidas graças a meia dúzia de fitas cassetes e uma dezena de zines mal xerocados", relembra. "Olhando pra trás, já com quase 50 anos, sinto saudades daquele sentimento de uma descoberta a cada carta aberta. Mas, como sou muito pouco nostálgico, prefiro seguir olhando para frente. O passado é o passado né? Faz parte do que a gente é hoje, do nosso tônus mental e corporal, digamos assim. Mas ele não volta."
É para frente que se anda, sem dúvida. Ou talvez com alguma dúvida, na verdade, já que a banda continua, três décadas depois, meio que forçada a cantar sobre as mesmas coisas. A discussão sobre problemas sociais sempre foi uma das marcas da Dead Fish, e a banda segue tendo os mesmos problemas (ou problemas ainda piores) para denunciar.
"É um eterno dia da marmota pra mim", lamenta Rodrigo. "Eu acho o Ponto cego (2019) um álbum a ser superado para ontem, tem que ficar datado e não fica. Parece que estamos dando voltas na nossa própria falta de conhecimento sobre nossa realidade. Eu achei que falar das privatizações lá no tempo do (ex-presidente) FHC mudaria tudo pra sempre, e hoje estamos aqui, vivendo um momento de absoluto neofascismo liberal cretino por todos os lados. É uma lástima, de verdade, mas seguiremos e a luta, pelo visto, é pra vida. Que a gente aprenda muito rápido em 2022 que o fascismo à brasileira nos quer todos mortos, e que a gente mude tudo isso para agora, independente de eleição ou não", afirma.
Celebrar a trajetória, no caso da Dead Fish, tem muito a ver com tomar fôlego para seguir na luta. E isso passa, garante Rodrigo, por novo material em breve. "Estamos nesse processo neste momento, de fazer sons novos. É bastante frustrante não ter podido tocar o Ponto cego no seu tempo, mas OK. Entendemos que podemos fazer isso em parte agora e ainda pensarmos em um trabalho novo". Músicas que, se depender de Rodrigo e seus colegas, ficarão bem longe do discurso conservador que vem se tornando cada vez mais audível no cenário rock brasileiro. "Se tornar tudo aquilo contra o que você cantou toda sua vida não faz o menor sentido. Pega uma letra dos Mutantes, passa por uma do Metallica, das mais antigas, e deságua numa música dos Replicantes que acho que todo mundo vai entender que o caminho tomado por parte do roqueiro médio é absolutamente inaceitável. Mas acredito profundamente que o rock, em sua essência, continua questionador, continua criativo e divertido. Basta procurar melhor na sua vizinhança."
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