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Patrimônio

- Publicada em 17 de Janeiro de 2022 às 19:57

Um tesouro ressurge nas paredes da Biblioteca Pública do Estado

Depois de décadas cobertos por tinta cinza, murais interiores da BPE passam por restauro

Depois de décadas cobertos por tinta cinza, murais interiores da BPE passam por restauro


SOLANGE BRUM/SEDAC/DIVULGAÇÃO/JC
Igor Natusch
Durante décadas, as paredes do hall de entrada da Biblioteca Pública do Estado (BPE) estiveram cobertas de monótonas camadas de tinta cinza. Quem olhasse de forma descuidada para o espaço, localizado na esquina da Riachuelo com a General Câmara, talvez nem conseguisse imaginar que, debaixo da pintura genérica, escondia-se um tesouro do patrimônio histórico de Porto Alegre. Agora, a cidade tem a oportunidade de reencontrar-se com um pedacinho da própria história: iniciada pela Associação de Amigos da Biblioteca Pública do Estado, a restauração dos murais originais já revela boa parte da exuberância que as paredes do espaço, um dos equipamentos da Secretaria de Estado da Cultura (Sedac), ostentou em tempos idos.
Durante décadas, as paredes do hall de entrada da Biblioteca Pública do Estado (BPE) estiveram cobertas de monótonas camadas de tinta cinza. Quem olhasse de forma descuidada para o espaço, localizado na esquina da Riachuelo com a General Câmara, talvez nem conseguisse imaginar que, debaixo da pintura genérica, escondia-se um tesouro do patrimônio histórico de Porto Alegre. Agora, a cidade tem a oportunidade de reencontrar-se com um pedacinho da própria história: iniciada pela Associação de Amigos da Biblioteca Pública do Estado, a restauração dos murais originais já revela boa parte da exuberância que as paredes do espaço, um dos equipamentos da Secretaria de Estado da Cultura (Sedac), ostentou em tempos idos.
O trabalho está sendo executado pela Studio1 Arquitetura, sob responsabilidade do arquiteto Lucas Volpatto. Os recursos iniciais somam R$ 125 mil, dos quais R$ 10 mil já foram desembolsados. A Sedac irá investir R$ 516 mil para a conclusão, a partir de recursos do programa Avançar na Cultura, do governo do Estado. "É importante frisar que todo esse projeto está sendo viabilizado com verbas dos cofres do Estado. Não há repasse de verbas federais", acentua Gilberto Schwartzmann, presidente da Associação de Amigos da BPE. A conclusão deve ocorrer no prazo de 12 meses.
O prédio, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado desde 1990, começou a ser erguido em 1912, a partir de projeto de Affonso Hebert. Os afrescos que estão reaparecendo agora datam da ampliação do edifício, a cargo do engenheiro Teófilo Borges de Barros. Essa etapa foi iniciada em 1919, com inauguração em 7 de setembro de 1922, como parte das comemorações do centenário da Independência do Brasil.
A pintura decorativa é de autoria do alemão Ferdinand Schlatter, que também assina decorações semelhantes em espaços históricos da Capital como a Casa Godoy, a sede do Iphan, a Santa Casa e alguns edifícios pertencentes à Ufrgs. "Cada sala foi pintada com um estilo diferente, direcionado a um período específico da história da arte. Um espaço tem motivos egípcios, o Salão Mourisco é de temática árabe, outra sala traz características neobarrocas. E o hall de entrada tem motivos mais voltados a um tipo de pintura típica do Renascimento na Itália, que, por sua vez, tem uma inspiração ainda mais antiga, no Império Romano", explica Eduardo Hahn, assessor especial de Memória e Patrimônio da Sedac.
Não há certeza sobre os motivos para que os afrescos fossem cobertos com tinta cinza - um processo que teve início em 1954 e foi se aprofundando nos anos seguintes. O pensamento da época, na qual o modernismo estava em seu apogeu, pode ter contribuído para a decisão: naqueles tempos, a arquitetura eclética e neoclássica do prédio não era vista com bons olhos. Havia também, segundo a atual diretora da BPE, Morganah Marcon, a justificativa de que os murais dispersavam a atenção de quem ia ler e estudar nas dependências da biblioteca. Eduardo Hahn, por sua vez, sugere outra hipótese, levando em conta os danos antigos encontrados em parte da decoração: talvez os gestores de então tenham optado por uma solução mais simples para padronizar o espaço, uma vez que não dispunham de mão de obra ou conhecimento técnico para uma restauração mais cuidadosa.
No momento, está sendo feita a decapagem das camadas mais recentes de tinta, com uso de um bisturi, revelando a arte que ficou escondida durante cerca de 60 anos. Esse processo está sendo conduzido pela conservadora e restauradora Anice Jaroczinski. Na medida em que as pinturas ressurgem, é feita uma fixação das partes mais deterioradas e que, no momento, apresentam risco de desprendimento. Após, será feita uma limpeza de toda a superfície, seguida da reintegração. "Todos os pontos em que a camada de policromia foi perdida serão restauradas com um tom (de cor) ligeiramente acima ou abaixo. A pessoa que chegar mais perto vai poder constatar que não é a pintura original, mas, vista um pouco mais de longe, vai estar preservada a composição harmônica do conjunto", descreve Hahn.
Como define o assessor especial de Memória e Patrimônio da Sedac, a BPE é "um universo imenso de ações necessárias", de forma que ainda há bastante coisa por fazer. A expectativa é que, até o final do ano que vem, se some às paredes restauradas a recuperação das fachadas da Biblioteca ("é importantíssimo", resume) e a restauração do mobiliário antigo, boa parte original da inauguração. Hoje, os móveis estão deteriorados e guardados dentro de um depósito, localizado dentro da própria biblioteca. "Estamos avançando, dentro das nossas possibilidades, subindo um ou dois degraus. Para finalizar, ainda vai levar muitos anos. A gente espera que esses avanços sejam um estímulo para gestões futuras."
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