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Cultura

- Publicada em 23 de Novembro de 2021 às 18:45

Trinta anos depois de sua morte, Freddie Mercury é o rockstar que nunca foi embora

Vocalista da banda Queen, Freddie Mercury foi uma das figuras mais superlativas da história do rock

Vocalista da banda Queen, Freddie Mercury foi uma das figuras mais superlativas da história do rock


FREDDIE MERCURY.COM/DIVULGAÇÃO/JC
Igor Natusch
Figuras que se tornam lendárias depois da morte, temos muitas; exemplos de pessoas que conquistam uma posição quase divina em vida e que, depois, desaparecem no esquecimento também não nos faltarão. Falecido há exatos 30 anos, em 24 de novembro de 1991, o cantor e compositor inglês Freddie Mercury é dos poucos que foi tão lenda em vida quanto o é após a morte; talvez até se possa dizer, não sem um toque de ousadia, que se trata de lendas diferentes, igualmente gigantes e imprescindíveis para a história do rock. Um dos mais emblemáticos frontmen da música, à frente do Queen, foi vitimado pela Aids sem nunca permitir-se ser derrotado pela doença, e segue um ícone quase inalcançável no mundo da música, estrela que ilumina caminhos justamente porque não há esperança de chegar perto.
Figuras que se tornam lendárias depois da morte, temos muitas; exemplos de pessoas que conquistam uma posição quase divina em vida e que, depois, desaparecem no esquecimento também não nos faltarão. Falecido há exatos 30 anos, em 24 de novembro de 1991, o cantor e compositor inglês Freddie Mercury é dos poucos que foi tão lenda em vida quanto o é após a morte; talvez até se possa dizer, não sem um toque de ousadia, que se trata de lendas diferentes, igualmente gigantes e imprescindíveis para a história do rock. Um dos mais emblemáticos frontmen da música, à frente do Queen, foi vitimado pela Aids sem nunca permitir-se ser derrotado pela doença, e segue um ícone quase inalcançável no mundo da música, estrela que ilumina caminhos justamente porque não há esperança de chegar perto.
Freddie Mercury trabalhou em novas músicas até não aguentar mais, quase literalmente. Depois de concluir a produção de Innuendo (1991), último trabalho lançado em vida, seguiu gravando músicas com seus colegas de banda, Brian May (guitarra), John Deacon (baixo) e Roger Taylor (bateria): a ideia, segundo relatos dos colegas de banda, é que eles tivessem músicas para finalizar depois que ele já não estivesse mais do lado de cá. A banda praticamente vivia dentro do estúdio, preparando material para que Freddie chegasse, nas poucas horas em que sentia bem, e registrasse as vozes. Esse material viraria, anos depois de sua morte, o emocional disco Made in heaven (1995); Mercury não teve forças para gravar o último verso de Mother love, e coube ao guitarrista May cantar a parte final em estúdio.
Boatos de que o cantor fosse portador do HIV existiam desde o começo dos anos 1980; o diagnóstico, de acordo com seu então namorado Jim Hutton, só seria confirmado nos primeiros meses de 1987. A figura extravagante dos shows, porém, era contrabalanceada por um Freddie reservado e quase tímido no trato pessoal, e o cantor optou por não revelar publicamente sua situação, mesmo diante da boataria crescente na mídia. O comunicado oficial só viria no dia 23 de novembro de 1991, cerca de 24 horas antes de seu falecimento. À época, não era capaz de gravar mais nada: fragilizado, não saía mais da cama, e recebia visitas de pessoas próximos quando faleceu - incluindo Mary Austin, com quem teve um relacionamento de muitos anos e a quem, mesmo separados, descrevia como a única verdadeira amiga que teve na vida.
Pode parecer estranho, que falemos tanto na morte antes de exaltarmos a vida de uma figura que emocionou e marcou a memória musical de multidões. Mas a escolha é consciente: afinal, seria triste um texto sobre Freddie Mercury que fosse se apagando rumo ao final, algo que nem o próprio músico vivenciou e que, certamente, não faria justiça à sua grandeza. Afinal, a vida de Freddie – nascido Farrokh Bulsara em 5 de setembro de 1946, em Zanzibar, então protetorado britânico e hoje parte da Tanzânia – foi um crescendo, quase como uma sequência de acordes que leva a um refrão grandioso. Depois de receber ensino básico de piano enquanto estudava na Índia, demonstrou uma vocação que parecia irresistível: depois de tocar com bandas de menor expressão na Inglaterra, encontrou no Smiler, dos amigos May e Taylor, a convergência de ideias perfeita para brilhar.
Com a chegada de Deacon para o baixo, foi Freddie quem convenceu os demais a adotar o nome Queen (“rainha”, em inglês): a escolha, além de sonora e de atmosfera grandiosa, fazia uma associação pouco sutil com a cena gay de Londres, o que estava dentro do plano o tempo todo. Um nome pretensioso, talvez, mas que encaixou perfeitamente com uma banda que conquistaria o mundo e que sempre teve a ousadia como um dos seus elementos principais.
Capaz de ser grudento e fácil de lembrar, o som do Queen era também complexo e cheio de mudanças de tempo e dinâmica – elementos que talvez tenham encontrado a expressão máxima em Bohemian rhapsody, escrita por Mercury para o álbum A night at the opera (1975) e que acabou se tornando um dos hit singles mais fora-da-caixa de todos os tempos. O quarteto foi também capaz de fazer o salto do rock superlativo para uma sonoridade mais pop com grande sucesso, empilhando sucessos como Radio Ga-Ga, Another one bites the dust e I want to break free, entre outros.
Tudo isso com uma técnica vocal que até hoje impressiona críticos e especialistas. Mesmo figuras como a cantora clássica Montserrat Caballé, com quem gravou o álbum Barcelona (1988), elogiavam de forma efusiva tanto sua técnica quanto a capacidade de conjugar todo o tipo de emoção imaginável em sua voz. Tudo isso enquanto elevava o conceito show de rock a níveis de teatralidade nunca vistos, como a lendária apresentação no Live Aid de 1985 (reproduzida no filme Bohemian rhapsody, de 2018) serve para ilustrar. Difícil imaginar um frontman que tenha sido tão completo em cima do palco: mais do que cantar ou interagir com o público, Freddie fazia do show uma experiência quase inédita de catarse coletiva. “Ele conseguia fazer até a pessoa mais ao fundo da arquibancada mais distante se sentir parte do show”, relembra Brian May, ainda hoje admirado com o encanto quase mágico que o colega exercia sobre a plateia.
Encanto tão poderoso que ainda nos atinge, três décadas depois de sua partida. Quase uma despedida em forma de música, The show must go on virou um sucesso mundial depois de seu falecimento; o show em tributo a Freddie, realizado em abril de 1992, foi exibido ao vivo para o mundo todo, e calcula-se que tenha sido assistido, ao todo, por cerca de um bilhão de pessoas. O Queen segue vivo, hoje associado ao vocalista Adam Lambert, e a decisão parece adequada quando se pensa na paixão que Freddie Mercury demonstrava pela música e pelas multidões. É um pouco como se o astro não estivesse mais no palco, mas ainda estivesse por aí, tão rockstar quanto sempre, estrela que nem mesmo a morte antes da hora chegou sequer perto de apagar.
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