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Cultura

- Publicada em 07 de Novembro de 2021 às 19:14

Gerbase aborda dilemas de jovem cineasta em seu novo livro

Autor cria suspense de toques surrealistas com 'O caderno dos sonhos de Hugo Drummond'

Autor cria suspense de toques surrealistas com 'O caderno dos sonhos de Hugo Drummond'


FERNANDO ANDRADE/DIVULGAÇÃO/JC
Igor Natusch
Quando pulam para o mundo real, os sonhos podem nos colocar em situações inesperadas. O jovem cineasta Hugo Drummond sabe bem disso: graças a alguns deles, anotados de forma diligente em caderno de capa azul, deixou de ser um instalador de câmeras de segurança para, com o auxílio da esposa e de alguns investidores, virar diretor de um longa premiado no exterior.
Quando pulam para o mundo real, os sonhos podem nos colocar em situações inesperadas. O jovem cineasta Hugo Drummond sabe bem disso: graças a alguns deles, anotados de forma diligente em caderno de capa azul, deixou de ser um instalador de câmeras de segurança para, com o auxílio da esposa e de alguns investidores, virar diretor de um longa premiado no exterior.
Saindo da interiorana Canela em direção a um encontro de produtores em Porto Alegre, Hugo é um nome em ascensão, com cartaz para negociar em boas condições seu segundo filme. Ao mesmo tempo, carrega na mochila uma série de dúvidas: seus sonhos, sugeridos para o próximo longa, vão sendo deixados de lado durante a criação do roteiro, e ele começa a se questionar se não está virando o mesmo instalador de câmeras de antes, apenas com um pouco mais de status.
Instalado no prédio que, há um século, foi o hotel mais luxuoso da Capital, o personagem principal de O caderno dos sonhos de Hugo Drummond (Diadorim, 136 págs., R$ 49,00), novo livro de Carlos Gerbase, vai aos poucos estranhando a atmosfera surreal, os personagens estranhos e os detalhes incompreensíveis em torno do evento. Em um cenário cada vez menos palpável e mais incômodo, Hugo passa a questionar tudo, inclusive a história que pretende filmar - e os sonhos, uma vez mais, ganham papel decisivo, trazendo perturbadores sinais de alerta para o irresoluto cineasta.
Unindo suspense e toques surrealistas, o livro terá lançamento nesta segunda-feira (8), às 18h, na Livraria Baleia (Fernando Machado, 85). No sábado (13), às 17h30min, o autor estará na Praça da Alfândega, no pavilhão de autógrafos da Feira do Livro de Porto Alegre.
Notório pela carreira como diretor de cinema, professor e um dos sócios da Prana Filmes, Gerbase conhece muito bem o universo de que está falando. Como um dos fundadores da banda punk Replicantes, também deixou sua marca no rock gaúcho e brasileiro. A literatura, seja como for, está longe de ser uma novidade: além de uma série de ensaios e aparições em coletâneas, já publicou contos, crônicas e dois romances anteriores, Professores (2006) e Todos morrem no fim (2012). Depois de quase uma década sem investir em um texto de ficção mais longo, a pandemia acabou permitindo colocar alguns sonhos no papel - no caso, quase que literalmente.
"Surgiu de um sonho, em 2019, essa é a verdade. Eu também tenho o costume de anotar os sonhos que podem servir para alguma coisa, ainda que dificilmente sirvam", conta Gerbase, rindo. "Sonhei com a parte básica, o cara que está sendo assediado para ceder um roteiro, e escrevi uma escaleta (sequência de eventos que orienta a criação do roteiro) para um filme. Ficou como algo para depois. Aí veio a pandemia (em 2020), ninguém podendo filmar, as perspectivas muito ruins. Lembrei da história e pensei que dava uma novela, que tinha elementos para virar literatura também."
O processo foi rápido, e contou com a ajuda decisiva de Julia Dantas e Caroline Joanello, escritoras e responsáveis pela Baubo, que ajuda autores na preparação de originais. "Nunca tinha feito isso (preparação de uma segunda versão) nesse nível de detalhe, com tanta concentração. A Diadorim também fez um trabalho muito bacana. Posso dizer com certa tranquilidade que é o meu original que está mais bem cuidado, com um acabamento mais legal", comemora.
Acostumado a fazer histórias acontecerem em diferentes formatos, Gerbase não se furta a falar sobre as diferenças (algumas bem drásticas) entre fazer uso das palavras escritas ou dos impulsos da tela grande. "Tem uma coisa fundamental: as histórias do livro não têm orçamento", ri. "Nessas décadas trabalhando com cinema, aprendi que o teu orçamento é a tua estética. Na literatura, não: tudo pode, o limite é da verossimilhança, da tua capacidade de descrição e do que você quer causar no leitor."
Não que escrever seja um passeio no parque, é claro. "Depois que o livro está impresso, é o fim, não pode mudar mais. No cinema, há todo um processo que começa no roteiro, continua no set, na montagem, na trilha. Às vezes, uma cena parece ruim e tu vais dando um jeito nela, e tu contas com o auxílio de pessoas muito talentosas para isso", pondera.
Em O caderno dos sonhos de Hugo Drummond, a tensão entre a pressão do mercado e a aspiração estética é um dos temas centrais - diretamente ligada, é claro, aos sonhos que se pode viver, em diferentes dimensões. E a inadequação de Hugo ao círculo de relações do cinema traz, obviamente, elementos de crítica. "O mundo do cinema, hoje, está organizado de uma forma muito mais profissional do que quando comecei a fazer Super-8 (nos anos 1980). Hoje tu tens uma competição em torno de filmes feitos e uma competição em torno de filmes futuros. Nem filmou ainda e tem gente julgando se é bom ou ruim. Isso é típico do cinema, e não é necessariamente ruim: é natural que as pessoas que investem em um filme queiram ter algum retorno de seu dinheiro. Mas, se isso superar completamente qualquer aspiração artística, aí eu acho que não vale a pena", reflete.
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