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Cultura

- Publicada em 19 de Outubro de 2021 às 20:03

Carlos Badia propõe discussão sonora sobre a brasilidade

No álbum 'Voo', compositor se aproxima dos ritmos do Cone Sul

No álbum 'Voo', compositor se aproxima dos ritmos do Cone Sul


ANDRÉ FELTES/DIVULGAÇÃO/JC
Igor Natusch
O que são as fronteiras, na hora de definir a trajetória criativa de um artista? Em seus trabalhos anteriores, o compositor Carlos Badia dava uma sonoridade jazzística a brasilidades como o samba, bossa nova, baião e maracatu. Desta vez, o sabor musical que sai do caldeirão do músico é bem mais platino - mas quem poderá dizer que Voo, seu terceiro álbum, não é também música brasileira, mesmo que andando pelas trilhas do Cone Sul? Em 10 faixas, quase todas instrumentais, Badia traz uma reflexão musical sobre essa dificuldade de definição, e mostra que o aparente enigma não é, no final das contas, tão difícil assim de resolver.
O que são as fronteiras, na hora de definir a trajetória criativa de um artista? Em seus trabalhos anteriores, o compositor Carlos Badia dava uma sonoridade jazzística a brasilidades como o samba, bossa nova, baião e maracatu. Desta vez, o sabor musical que sai do caldeirão do músico é bem mais platino - mas quem poderá dizer que Voo, seu terceiro álbum, não é também música brasileira, mesmo que andando pelas trilhas do Cone Sul? Em 10 faixas, quase todas instrumentais, Badia traz uma reflexão musical sobre essa dificuldade de definição, e mostra que o aparente enigma não é, no final das contas, tão difícil assim de resolver.
Disponível nas plataformas digitais a partir desta quinta-feira (21), o álbum terá lançamento oficial nesta sexta-feira (22), às 21h, pela plataforma Cubo Play. No espetáculo, Badia estará acompanhado por Ricardo Arenhalt (bateria), Miguel Tejera (baixo) e Leonardo Bittencourt (piano), além das participações especiais de Sady Homrich, Matheus Kleber, Rafa Rafuagi & Job e Amauri Iablonovski. Ingressos para a apresentação online, em segundo lote, saem a partir de R$ 25,00, no site da plataforma.
"Qualquer pessoa que nasce no Rio Grande do Sul traz naturalizada essa conexão com as culturas de fronteira. A gente é um caldeirão aqui no Rio Grande do Sul, da mesma forma que todos os ritmos vistos lá fora como mais tipicamente brasileiros. Um caldeirão que dialoga diretamente com Argentina, Uruguai, com essa cultura 'gaucha' que nos cerca", acentua Badia. "Gravei Voo com músicos de outras partes do País e pude perceber que, para eles, esses ritmos (do Cone Sul) pareciam um pouco estranhos - como se não fossem ritmos brasileiros, mas sul-americanos. E isso me fez divagar sobre várias coisas. Se estou em um estado brasileiro, por que eu não poderia considerar a milonga ou o chamamé também como ritmos brasileiros?", provoca.
Além dessa vontade de refletir sobre o que há de brasileiro na música do sul da América do Sul, e vice-versa, Voo é movido por outra descoberta criativa de Badia - no caso, as sonoridades da guitarra semiacústica. "Pouco antes de começar a pandemia, acabei iniciando um namoro com a guitarra, que eu nunca tinha tocado de forma mais dedicada até aquele momento. Me apaixonei por aquilo, e nisso comecei a compor e registrar uma série de músicas, de forma caseira."
O que era uma exploração musical sem compromisso virou álbum a partir de uma outra experiência. Badia mandou as músicas, ainda em estado embrionário, para uma série de ouvintes selecionados, e aproveitou o retorno recebido para aprimorar as ideias originais. O resultado disso tudo é uma sonoridade que une o jazz a estilos como milonga e chacarera, em arranjos cheio de complexidades suaves e, ao mesmo tempo, cheios de fluidez. Uma exceção, que nem foge tanto à regra assim, está em Rito de passagem: com uma pegada mais próxima da soul music, ela traz a participação de Ricky Rafuagi, aplicando rimas e pensamentos à composição em um curioso (e agradável) diálogo sonoro com o hip hop. "Eu já há algum tempo observo o movimento hip hop com um olhar bastante interessado. Comecei a perceber, por exemplo, que cerca de metade da programação da última edição do Blue Note (festival de jazz em Nova York, nos EUA) antes da pandemia era de hip hop misturado com jazz", explica Badia. "Já tinha a ideia de um disco inteiro com o Rafa Rafuagi, que acabou ficando para o futuro. Aí fiz uma provocação para o Ricky Rafuagi e, uns dias depois, ele já me mandou tudo pronto."
Na apresentação dentro do Cubo Play, a maioria do material de Voo estará presente, unida a alguns temas dos discos anteriores (Zeros, de 2015, e 0+2, de 2018) e alguns arranjos especiais para músicas de outros compositores. Para Badia, o formato virtual acabou se tornando parte de parâmetros de atividade cultural que devem permanecer por muito tempo. "Acho que a gente vai passar por uma espécie de descompressão (na medida em que a pandemia perde força) mas, ao mesmo tempo, esse formato vai seguir, em paralelo ao presencial. É meio que um novo paradigma, essa coisa de a gente fazer um show em Porto Alegre e o cara que está na Europa, na África ou nos EUA também poder assistir", argumenta.
Recentemente, Badia vendeu a sua parte na organização do Poa Jazz Festival, do qual era um dos sócios. À reportagem, garantiu que seguirá envolvido com projetos como o Bento Jazz & Wine Festival, que acontece de 19 a 21 de novembro, e um festival itinerante na região Sul do Estado, previsto para o final de 2022. Mas a prioridade, agora, é outra: "Vou tentar fazer uma coisa que nunca fiz antes: pela primeira vez, me dedicar de fato ao trabalho do disco". A ideia é levar o disco para o aeroporto e fazê-lo voar, com perspectivas de cruzar o oceano rumo ao mundo lá fora - o que, é claro, não exclui apresentações na América Latina também, fechando o círculo proposto pela alquimia sonora de Voo.
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