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Cultura

- Publicada em 28 de Setembro de 2021 às 16:41

Nascido há 450 anos, Caravaggio é nome revolucionário da pintura mundial

Autor de obras como 'Decapitação de João Batista' teve carreira genial, mas marcada por polêmicas

Autor de obras como 'Decapitação de João Batista' teve carreira genial, mas marcada por polêmicas


ST JOHN'S CO-CATHEDRAL/REPRODUÇÃO/JC
Igor Natusch
Há 450 anos, nascia uma das mais influentes (e polêmicas) figuras da arte ocidental. Considerado um dos nomes definidores do Barroco, o pintor italiano Caravaggio revolucionou conceitos de iluminação, realismo e expressividade, deixando um legado de originalidade que atravessa os séculos. A seu modo, ele também foi um espécie de celebridade escandalosa de seu tempo, colecionando situações que talvez ficassem acima do tom até para os mais ultrajantes astros do rock e do rap da atualidade.
Há 450 anos, nascia uma das mais influentes (e polêmicas) figuras da arte ocidental. Considerado um dos nomes definidores do Barroco, o pintor italiano Caravaggio revolucionou conceitos de iluminação, realismo e expressividade, deixando um legado de originalidade que atravessa os séculos. A seu modo, ele também foi um espécie de celebridade escandalosa de seu tempo, colecionando situações que talvez ficassem acima do tom até para os mais ultrajantes astros do rock e do rap da atualidade.
Nascido Michelangelo Merisi, em 29 de setembro de 1571, o jovem aprendiz chegaria a Roma pouco mais de duas décadas depois - e lá, no espaço de poucos anos, consolidaria sua fama, adotando como nome artístico a denominação da cidade do Norte da Itália onde nasceu. Eram os tempos da Contra-Reforma, movimento católico que buscava enfrentar, em diferentes frentes, a ascensão do protestantismo na Europa - o que, entre outras situações, abria um amplo mercado para trabalhos artísticos de temática religiosa. Na virada dos anos 1600, Caravaggio já era famoso pela assombrosa capacidade artística, que fez com que pintores contemporâneos descrevessem suas obras como "milagres" - e também pelo, digamos, gênio difícil, que o colocou em encrencas em incontáveis ocasiões.
Na época, a escola italiana apregoava um grande trabalho prévio antes da pintura propriamente dita, com uma série de desenhos e estudos e uma grande idealização das figuras retratadas. Caravaggio desprezava essas convenções: trabalhava rápido, diretamente na tela, e extraía sua expressividade diretamente da observação dos modelos vivos que empregava. De fato, era como se pintasse os próprios modelos nas situações que retratava: conta-se que, em uma ocasião, uma das madonas que pintou foi recusada pelo convento que a encomendou, uma vez que a semelhança facial com uma das cortesãs mais conhecidas de Roma era grande demais para ser ignorada.
Para ampliar a expressividade das personagens e a dramaticidade dos momentos retratados, Caravaggio fazia uso de uma técnica chamada tenebrismo, uma radicalização do chiaroescuro que criava dramaticidade a partir de um contraste intenso e abrupto entre luz e sombra. Seu olhar para a humanidade de seus retratados ganhava, muitas vezes, contornos à beira da sensualidade: de fato, é possível que alguns de seus modelos masculinos tenham sido, também, seus amantes.
O realismo quase brutal de pinturas como Judite e Holofernes (1599), Davi com a cabeça de Golias (começo dos anos 1600) e Decapitação de João Batista (1608) causou espanto em sua época, ao ponto de alguns proprietários, assustados com o impacto das telas, retirarem as obras de vista poucos dias depois de recebê-las.
Além dos comentários em torno de sua sexualidade, Caravaggio era conhecido pela fama de brigão. Não foram poucas as vezes em que brigou ou duelou com desafetos - e uma delas, supostamente em torno de uma cortesã chamada Fillide Melandroni, resultou na morte de seu antagonista, em circunstâncias que nunca ficaram plenamente esclarecidas. Sendo o morto filho de uma das famílias mais poderosas de Roma, a situação ficou feia para Caravaggio, e ele foi forçado a fugir da cidade, após ser condenado à morte.
Pelo caminho, ele fez paradas em cidades como Nápoles e na ilha de Malta, fora da área de alcance de sua sentença. Em sua segunda estadia em Nápoles, em 1609, o pintor foi alvo de um violento ataque que desfigurou seu rosto e fez com que boatos sobre sua morte se espalhassem por Roma. Embora potenciais mandantes fossem muitos, nunca ficou claro quem promoveu o ataque.
Caravaggio morreu em 18 de julho de 1610, enquanto rumava de volta a Roma, esperançoso de ter sua sentença de morte perdoada pelas autoridades eclesiásticas locais. O relato oficial, feito aos que o receberiam em Roma, é de que o artista morreu em decorrência de uma febre; não são poucas, porém, as suspeitas de que foi envenenado ou executado pelo caminho, além de especulações em torno de doenças como malária e sífilis. Um fim misterioso para um artista dos mais intensos, tanto em suas obras quanto em sua forma pouco ortodoxa de viver a vida.
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