Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Cultura

- Publicada em 24 de Setembro de 2021 às 08:09

Lançado há 30 anos, 'Nevermind' foi uma guinada nos rumos do rock

Disco seminal do Nirvana, 'Nevermind' chegou às lojas em 24 de setembro de 1991

Disco seminal do Nirvana, 'Nevermind' chegou às lojas em 24 de setembro de 1991


GEFFEN RECORDS/DIVULGAÇÃO/JC
Igor Natusch
Há 30 anos, uma banda de Seattle, nos Estados Unidos, lançava um disco que mudaria de forma decisiva os rumos do rock. Falar de Nevermind, segundo e mais clássico álbum do Nirvana, é falar de um fenômeno cultural que tomou os anos 1990 de assalto, indo muito além do grunge que personificou e do qual se transformou em expressão máxima. De fato, o disco lançado em 24 de setembro de 1991 foi uma guinada nos rumos do estilo, revelando trilhas que até hoje atraem qualquer jovem de cabelo desgrenhado que arrisque uns acordes de guitarra em uma banda de garagem.
Há 30 anos, uma banda de Seattle, nos Estados Unidos, lançava um disco que mudaria de forma decisiva os rumos do rock. Falar de Nevermind, segundo e mais clássico álbum do Nirvana, é falar de um fenômeno cultural que tomou os anos 1990 de assalto, indo muito além do grunge que personificou e do qual se transformou em expressão máxima. De fato, o disco lançado em 24 de setembro de 1991 foi uma guinada nos rumos do estilo, revelando trilhas que até hoje atraem qualquer jovem de cabelo desgrenhado que arrisque uns acordes de guitarra em uma banda de garagem.
Nas 12 faixas do álbum, produzido por Butch Vig, o power trio de Kurt Cobain (voz e guitarra), Krist Novoselic (baixo) e Dave Grohl (bateria) une elementos de rock alternativo, punk, heavy metal e power pop, joga tudo em um caldeirão (ou, de forma mais realista, em um liquidificador) e extrai dessa mistura um produto espesso, grudento e viciante, que passou a ser conhecido como grunge. Doze faixas que vão se multiplicar na versão deluxe, que sairá em novembro pela gravadora Geffen: na nova edição, totalmente remasterizada, serão 94 faixas de áudio e vídeo, 70 delas inéditas.
No fundo, não dá para dizer que o sucesso do disco tenha sido completamente inesperado. David Geffen, dono da gravadora e uma das pessoas com melhor faro para sucesso no rock daqueles tempos, não teve dúvidas em assinar com a então quase desconhecida banda, após ouvir o disco de estreia Bleach (1989), lançado pela Sub Pop. Ou seja, alguma esperança havia de que aquela banda de Seattle pudesse estourar. No entanto, Nevermind demorou um pouco para decolar, e várias importantes publicações musicais nem se preocuparam em fazer resenhas do disco quando de seu lançamento. Mas o single de Smells like teen spirit estourou nos últimos meses de 1991, ao ponto de se tornar um fenômeno irresistível. Na virada do ano seguinte, o Nirvana já era um fenômeno global, Kurt Cobain tinha virado o relutante porta-voz de uma geração, e Smells like teen spirit se transformou em dos mais inesperados hinos de uma época que se possa imaginar.
De certo modo, a explosão de Nevermind encontra uma antítese - e um catalisador - em um lançamento que chegou às lojas de disco apenas uma semana antes. Use your illusion, conjunto de dois álbuns duplos da banda Guns N' Roses e que saiu em 17 de setembro daquele ano, marcava um modelo de rock então hegemônico e em tudo diferente do Nirvana: grandiloquente, quase arrogante, movido por excessos sonoros e de comportamento. No começo dos anos 1990, ser um roqueiro tinha se tornado algo distante, uma meta que exigia o visual certo, a postura certa, a dose exata de agressividade e apelo radiofônico - tudo calculado e ajustado a padrões previamente estabelecidos pela indústria. Uma semana depois de sair, Use your illusion estava condenado a ser velho e ultrapassado: o Nirvana surgiu com suas camisas de flanela, seus arranjos despretensiosos e sua capacidade incrível de soar honesto, raivoso e, ao mesmo tempo, muito fácil de entender.
Dos muitos diferenciais de Nevermind, esse talvez seja o principal: trata-se de um disco que refletia, com sinceridade ao mesmo tempo crua e precisa, a vida de incontáveis adolescentes e jovens adultos de seu tempo. O rock and roll, no fim das contas, sempre foi sobre garotos e garotas - e uma multidão que não se enxergava em quase nada que tocava no rádio e na televisão encontrou, repentinamente, um espelho de si mesmos no som e na atitude do Nirvana. Um impacto que, visto em perspectiva, nada tem de injustificado. Da melancolia de Come as you are à ironia ferina de In bloom, da linha de baixo quase pop de Lithium à explosão hardcore de Territorial pissings, da simplicidade acústica de Polly aos arranjos razoavelmente complexos de Something in the way, o espectro amplo e por vezes contraditório de emoções da 'geração X' está todo lá. Tudo amarrado pela voz abrasiva e pelas letras minimalistas de Kurt Cobain, uma espécie de Bob Dylan às avessas que, em meio a rimas cruas e figuras de linguagem desconcertantes, encontrou uma sincerdade poética da qual poucos letristas, do rock ou em qualquer outro estilo, podem se gabar.
Poucos álbuns têm o poder de dar 'reset' em tudo ao seu redor - coisa que talvez apenas discos como Sgt Pepper's Lonely Hearts Club Band (Beatles), Highway 61 revisited (Bob Dylan) e Ramones (da banda homônima) tenham de fato chegado a fazer. Nevermind, com certeza, entra nessa lista. Quase nada no rock, depois dele, chegou perto em termos de importância; é certo, de qualquer modo, que o rock nunca mais sofreu um abalo sísmico dessa dimensão.
Parece quase lógico que uma coisa tão grandiosa estivesse fadada a não ir muito mais longe. Depois de sua obra-prima, o Nirvana só lançaria uma semi-coletânea (Incesticide, 1992) e um álbum de inéditas (In utero, 1993); tudo que veio depois, incluindo o hoje clássico MTV Unplugged in New York (1994), viria de forma póstuma. Em uma jornada autodestrutiva, marcada pela postura anti-establishment e pelo sofrimento existencial de seu líder, o grupo chegou ao fim da maneira mais trágica possível, quando Kurt Cobain tirou a própria vida em abril de 1994. Dois anos e meio depois de achar seu ícone, a juventude dos anos 1990 chorava sua morte, em um luto coletivo que sacudiu violentamente o mundo da música. Imensos em sua breve presença, o Nirvana segue influente décadas depois de seu fim - e Nevermind é uma declaração ainda enfática, vital e impossível de ignorar, lembrando roqueiros de todas as épocas de que, no fim das contas, o rock e a vida são exercícios de sinceridade e urgência.
Conteúdo Publicitário
Leia também
Comentários CORRIGIR TEXTO