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Cultura

- Publicada em 13 de Setembro de 2021 às 20:07

Sede do IAB-RS, Solar do Conde de Porto Alegre passa por restauração

Localizada na esquina das ruas General Canabarro e Riachuelo, edificação avança aos poucos em processo de restauro

Localizada na esquina das ruas General Canabarro e Riachuelo, edificação avança aos poucos em processo de restauro


ANDRESSA PUFAL/JC
Igor Natusch
Quem cruza a esquina das ruas General Canabarro e Riachuelo, no Centro Histórico da Capital, possivelmente já tenha sentido, pelo menos uma vez, a vontade de interromper o passo para contemplar o Solar do Conde de Porto Alegre. Mesmo que já tenha vivido dias de beleza mais uniforme, a edificação - uma das últimas de seu tipo e período que seguem de pé na cidade - segue visualmente impactante, convidando a uma reflexão sobre a Porto Alegre que existiu e a que, a partir de um maior cuidado com a própria memória, ainda pode se fazer visível.
Quem cruza a esquina das ruas General Canabarro e Riachuelo, no Centro Histórico da Capital, possivelmente já tenha sentido, pelo menos uma vez, a vontade de interromper o passo para contemplar o Solar do Conde de Porto Alegre. Mesmo que já tenha vivido dias de beleza mais uniforme, a edificação - uma das últimas de seu tipo e período que seguem de pé na cidade - segue visualmente impactante, convidando a uma reflexão sobre a Porto Alegre que existiu e a que, a partir de um maior cuidado com a própria memória, ainda pode se fazer visível.
Hoje em dia, a antiga residência é a sede da seccional gaúcha do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB-RS), e aos poucos avança na direção de um restauro completo. Durante a pandemia, o solar recebeu 190m2 de um novo assoalho de madeira, oriunda de uma apreensão do Ibama e beneficiada a partir de uma permuta. Ocorreu também a renovação da pintura na fachada da General Canabarro, bem como reparos na rede elétrica. Melhorias que são, de certa forma, uma introdução à principal meta para o futuro próximo: o restauro da fachada que aponta para a Riachuelo, que ainda depende da captação de recursos para acontecer. "Para nós, será um marco da conclusão do aspecto externo (do restauro)", diz o presidente do IAB-RS, Rafael Pavan dos Passos.
Erguido por volta de 1835, o solar herdou o nome de um de seus residentes mais famosos. Manoel Marques de Souza, o Conde de Porto Alegre, foi uma figura vibrante na política e na sociedade da época, tendo atuado na Revolução Farroupilha e na Guerra do Prata, além de ocupar cargos no governo gaúcho. Originalmente, a residência apresentava características da arquitetura colonial portuguesa, mas sofreu alterações a partir de 1933, quando foi adquirida pelo governo do Estado e passou a funcionar como Quartel-General da Guarda Civil e, mais tarde, delegacia de polícia. Há indicativos de que o imóvel tenha sido usado como parte do aparelho repressivo da ditadura militar, mas o sumiço (provavelmente intencional) de documentos ligados ao período dificulta ter certeza sobre o que, de fato, acontecia em seu interior.
Seja como for, a partir dos anos 1980, a delegacia passou para o outro lado da rua, e o Solar do Conde enfrentou décadas de abandono - dos quais tenta se recuperar plenamente desde que o IAB-RS assumiu o imóvel, na virada dos anos 2000. Uma primeira intervenção aconteceu logo que a entidade tomou posse do prédio de 921 m2, com recursos oriundos de parte da venda da antiga sede do IAB-RS, próxima à Praça Dom Feliciano na Capital. Os recursos, porém, se esgotaram, e desde então o restauro avança na medida em que o caixa do instituto permite.
"O trabalho (de restauro) é uma continuidade, recheada de muita honra", afirma Lucas Volpatto, um dos arquitetos hoje encarregados do projeto. "E que traz esse desafio de consolidar um novo equipamento, fazer com que o Solar do Conde possa existir também como Solar do IAB-RS. Temos um espaço que era uma casa, virou uma repartição pública e agora é um centro cultural, que assume uma nova linguagem e características a partir das intervenções que vamos fazendo."
Hoje, o Solar do IAB-RS está consolidado como um espaço cultural relevante em Porto Alegre. Além de espaços para exposição, a sede abriga eventos culturais nas Quartas no IAB, bem como cursos de arquitetura e urbanismo. Há também a Biblioteca Enilda Ribeiro, que recentemente recebeu novo mobiliário, e os esforços para recuperar, catalogar e digitalizar o acervo histórico da instituição estão em andamento. As atividades para o público externo, porém, encontram-se temporariamente suspensas, em decorrência da situação sanitária criada pela Covid-19.
"A nossa situação é um pouco diferente de outros centros culturais, já que não temos a obrigação de manter o espaço aberto para sustentação financeira", afirma Passos. "Ainda estamos focados em limitar circulação, levando em conta a saúde pública. Mas projetamos atividades para o começo do ano que vem, talvez com uma agenda especial para o aniversário de Porto Alegre (que comemora 250 anos em 2022)".
De acordo com Volpatto, a fachada da rua Riachuelo precisa de reposição de parte do reboco, além da consolidação de rachaduras e os acabamentos posteriores. Não há previsão de entrega, já que a obra depende de possíveis leis de incentivo para ganhar ritmo mais acelerado. Em um segundo momento, os olhares devem se voltar à edícula, primeiro necrotério da cidade e que recebeu recentemente intervenções de segurança.
"Hoje em dia, não sabemos quem foi o responsável pela obra original. Seja como for, algum arquiteto pensou esse edifício; depois, alguém na década de 1920 pensou as reformas; depois, nos anos 1940, outro profissional trabalhou nele; no anos 2000, outros arquitetos pensaram no restauro. Então, assumir o restauro de um lugar como o Solar é trabalhar de forma direta com memória, com identidade", conclui Volpatto.
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