A Pinacoteca Aldo Locatelli, sediada no Paço dos Açorianos (Praça Montevidéu, 10), inaugura nesta quarta-feira (1) a exposição O jardim de Amelia. A seleção é resultado de uma investigação iniciada em 2014 quando Sílvia e Rogério Livi e Marco Aurélio Biermann Pinto, colegas em um curso de curadoria no Atelier Livre Xico Stockinger, examinaram quadros com flores para realizar uma mostra.
Tentando elucidar equívocos na identificação e na biografia da pintora Amelia Pastro Maristany, descobriram uma trama de informações desencontradas em livros, catálogos e folhetos de exposições na imprensa nacional e estrangeira. A pesquisa gerou uma cronologia das muitas atividades artísticas que demonstraram a relevância na História da Arte do Estado da pintora nascida em Porto Alegre em 1897 e que desde jovem se dedicou a cultivar e pintar flores.
A exposição fica aberta até 5 de novembro, de segunda a sexta-feira, das 9h às 12h e das 13h30min às 17h, com entrada de cinco pessoas por vez. É possível agendar visitação via e-mail acervo@portoalegre.rs.gov.br ou pelo telefone (51) 3289-3735.
Há 101 anos, a jovem Amelia saiu de seu curso de bordado e atravessou a Rua da Praia para ir a exposição do pintor espanhol Luis Maristany de Trias no Clube Caixeiral. Os jornais afirmavam que era a primeira exposição naquele estilo na capital gaúcha: “É impressionista, tem a graça leve e brilhante do colorido numa composição feita de audácias novas e de surpresas inéditas”.
Amelia, fascinada, viu o artista e se aproximou. Luis ficou encantado com as perguntas inteligentes daquela moça bonita. Dizem que nesse mesmo dia a pediu em casamento. Após a cerimônia, em agosto de 1922, o casal seguiu viajando para as exposições do pintor. Em dezembro de 1923, ela apresentou a sua primeira mostra na Argentina. Ao lado do marido, passou a frequentar um universo artístico desenvolvido, bastante distinto do então existente em Porto Alegre, consolidando uma sólida carreira profissional como pintora. Foi elogiada na imprensa do Rio de Janeiro em 1925 e de São Paulo em 1926. Seguiu para a Europa e expôs na Itália e na Espanha. Após o nascimento da filha Amelia Alice, em Buenos Aires em novembro de 1928, a família retornou para a Espanha em 1930. Em Vigo, os 30 quadros de Amelia retratando flores da Galícia receberam elogios: “Desta artista, não se pode dizer que não sabe fazer mais que pinturinhas de convento. Sua fatura é vigorosa, varonil, valente, de amplas pinceladas de efeitos soberanos. Em suas flores há toda a vida que podem ter, ao despertar no jardim, beijadas pelo alentador orvalho matinal”.
Notas da imprensa em todos os lugares destacavam a audácia de sua pintura. Em 1938, o casal retornou definitivamente para Porto Alegre, onde Amelia Pastro Maristany expôs individualmente no Instituto de Belas Artes, nas galerias mais reconhecidas na época e em salões, recebendo comentários elogiosos na imprensa local.
O jardim de Amelia é a segunda exposição do projeto Mulheres, a Fonte, promovido pela Coordenação de Artes Visuais da Secretaria Municipal da Cultura de Porto Alegre (SMC). Entre novembro de 2020 e fevereiro de 2021, a iniciativa apresentou a mostra Judith Fortes, 70 anos depois, com curadoria de Rosane Vargas.
A exposição de Amelia contará com mais de 50 pinturas de colecionadores particulares e das netas da artista, a Pinacoteca Barão de Santo Ângelo e a Pinacoteca Aldo Locatelli. Uma rara oportunidade de conhecer o trabalho de uma das primeiras pintoras profissionais de Porto Alegre.
Mulheres, a Fonte é uma ação cultural de longo fôlego desenvolvida pela Coordenação de Artes Visuais (CAV) da SMC, que propõe uma atitude a favor da promoção da igualdade de gênero na produção e na circulação das artes visuais e, ainda atuar numa espécie de rememoração positiva como antídoto ao esquecimento histórico ao qual uma gama de mulheres artistas foi jogada.