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Cultura

- Publicada em 12 de Agosto de 2021 às 15:28

Perdemos o arquétipo do herói brasileiro, diz Werner Schünemann sobre a morte de Tarcísio Meira

Werner Schunemann e Tarcísio Meira

Werner Schunemann e Tarcísio Meira


arquivo pessoal/Werner Schünemann/JC
Considerado um ícone da dramaturgia brasileira, o ator Tarcísio Meira deixa um legado histórico para a tevê, o teatro e o cinema brasileiro. “Estamos falando de alguém que foi construindo o imaginário não só de atores e atrizes, mas de milhões de brasileiros que tiveram sua atenção despertada pelo Tarcísio em um dos seus inúmeros papéis”, disse Werner Schünemann ao Jornal do Comércio, lamentando a morte do colega e amigo.
Considerado um ícone da dramaturgia brasileira, o ator Tarcísio Meira deixa um legado histórico para a tevê, o teatro e o cinema brasileiro. “Estamos falando de alguém que foi construindo o imaginário não só de atores e atrizes, mas de milhões de brasileiros que tiveram sua atenção despertada pelo Tarcísio em um dos seus inúmeros papéis”, disse Werner Schünemann ao Jornal do Comércio, lamentando a morte do colega e amigo.
“Perdemos o arquétipo do herói brasileiro”, completa, ao dizer que o ator não apenas representava papéis de ídolo, mas que sua personalidade era assim no dia a dia. “Era gentil, doce, inteligente, muito culto e muito generoso no trato pessoal” resume. Tarcísio Meira faleceu nesta quinta-feira (12), aos 85 anos de idade, vítima de Covid-19. Ele estava internado desde o dia 6 de agosto no Hospital Albert Einstein, em São Paulo.
Embora não tenham contracenado juntos, Werner e Tarcísio tinham uma relação muito próxima em função dos trabalhos que aproximaram o gaúcho de Tarcizinho, filho de Meira e Glória Menezes. “Ontem mesmo eu e Tarcizinho estávamos planejando fazer um trabalho com ‘Tarcísio pai’, pois nunca atuamos os três juntos”, conta, ao informar que na quarta-feira (11) o ator havia apresentado sinais de melhora.
“De repente, o quadro todo mudou”, lastima Schünemann, que já está imunizado contra a Covid-19 com as duas doses da vacina, assim como Tarcísio Meira e Glória Menezes - que teve alta hoje do Hospital Albert Einstein por apresentar melhoras.
De acordo com Schünemann, Tarcísio vinha com problemas pulmonares há alguns meses, uma vez que foi fumante até os 80 anos. “O argumento de que ele se vacinou e não adiantou cai por terra porque, além da bactéria no pulmão, ele tinha várias outras comorbidades”, afirma o gaúcho. “Temos que nos vacinar e comemorar a vacinação”, reforça, dizendo que Tarcísio Meira era um grande defensor da imunização. 
“É um momento muito difícil para a cultura brasileira, pois sofremos duas grandes perdas nas últimas 24 horas”, afirma, referindo-se à morte de Paulo José nesta quarta-feira (11), aos 84 anos, em virtude de uma pneumonia. Paulo José e Werner Schünemann trabalharam juntos algumas vezes, como nos anos 1980, quando Schünemann dirigiu o filme O Mentiroso, estrelado por Paulo José.

Legado de Tarcísio Meira para a dramaturgia

Se existiu um rosto no fim do século 20 que melhor representou o papel do galã no País, foi o do paulistano Tarcísio Meira, que marcou sua passagem pela TV brasileira interpretando homens viris, inteligentes e, com frequência, ricos.
Assim eram, por exemplo, o executivo Renato Vilar, da novela Roda de Fogo, de 1986, e o escritor Euclides da Cunha, da minissérie Desejo, de 1990, para lembrar dois momentos altos na trajetória deste intérprete de voz limpa e queixo anguloso.
Tarcísio Magalhães Sobrinho - esse era seu nome de batismo - nasceu em outubro de 1935 e não pensava em seguir carreira na televisão quando era adolescente. Estudou para ser diplomata, foi reprovado no vestibular e acabou investindo numa opção que até então considerava ser um hobby - o teatro.
Os primeiros passos rumo ao estrelato foram dados num grupo amador do clube Pinheiros nos anos 1950. Foi ali que ele, jovem filho de um dentista com uma dona de casa de quem resgatou o sobrenome Meira, descobriu sua vocação, para o drama principalmente e para raros momentos cômicos.
Em 1959, estreou no teatro profissional num espetáculo com a direção de Sérgio Cardoso, O Soldado Tanaka, com texto do alemão George Kaiser.
Não demorou para que fosse descoberto pela televisão. No mesmo ano, conseguiu um papel no teleteatro da TV Tupi. Fez o episódio Noites Brancas, adaptação de obra do russo Fiódor Dostoiévski.
Dois anos depois, em Uma Pires Camargo, também uma peça de teleteatro, contracenou pela primeira vez com Glória Menezes, com quem se casou cerca de um ano depois e teve seu único filho, Tarcísio Filho, de 56 anos, também ator.
Com fama de casal exemplar, Tarcísio e Glória protagonizaram, em 1967, a primeira telenovela integralmente assinada por Janete Clair, Sangue e Areia.
Ainda jovem, com seu 1,81 metro de altura, Tarcísio consolidou fama como intérprete de protagonistas da Globo. Fez Escalada, de 1975, novela de Lauro César Muniz, dramaturgo com quem voltaria a trabalhar em Roda de Fogo, por exemplo. As participações na televisão somaram mais de 50 obras.
Os papéis de época também ganharam notoriedade. Na minissérie Grande Sertão: Veredas, de 1985, adaptação do livro de Guimarães Rosa exibida pela Globo, interpretou o cangaceiro Hermógenes. No mesmo ano, também fez Capitão Rodrigo, papel central da minissérie épica O Tempo e o Vento, de 1985, uma adaptação de obra de Érico Veríssimo.
Sua passagem pelo cinema se concentra nos anos 1970 e 1980, quando trabalhou com grandes diretores brasileiros, entre eles Glauber Rocha - em A Idade da Terra, de 1980 - e Walter Hugo Khouri - em Amor Estranho Amor, de 1982, e Eu, de 1987.
Foi muito elogiado por sua atuação no filme República dos Assassinos, de 1979, obra de Miguel Faria Júnior em que interpretou um homem austero passando pelo universo de grupos de extermínio, dentro de corporações policiais.
Tarcísio Meira também marcou o cinema nacional com o famoso beijo na boca que deu no ator Ney Latorraca no longa O Beijo no Asfalto, adaptação da peça de Nelson Rodrigues dirigida por Bruno Barreto, levado à telona em 1981.
Nos anos 1990, o ator concentrou suas atividades na TV. Atuou em De Corpo e Alma, de 1992, Fera Ferida, de 1993, Pátria Minha, de 1994, e Torre de Babel, de 1998.
Mais recentemente, interpretou Aristide, de Páginas da Vida, novela de Manoel Carlos de 2006, e o patriarca Frederico Copola, de A Favorita, de 2008, novela na qual voltou a contracenar com a mulher, Glória Menezes.
O casal também esteve junto sobre o palco em Um Dia Muito Especial, de 1986, adaptação do filme italiano de 1977, estrelado por Marcello Mastroianni e Sophia Loren. Foi um raro retorno de Tarcísio Meira ao teatro.
Mais recentemente, Meira interpretou um empresário corrupto em A Lei do Amor, de 2016, e chegou a participar de Orgulho e Paixão, de 2018, mas deixou o elenco devido a problemas de saúde.
Em 2015, ele quebrou um hiato de 20 anos sem atuar no teatro para viver o protagonista da peça O Camareiro, um ator adoecido e de idade avançada que tem dificuldades de se locomover e lembrar as falas de sua última peça. Ele reprisou o papel em 2019, aos 83 anos.
Em setembro do ano passado, em meio à pandemia e à ascensão do streaming, a Globo demitiu Tarcísio Meira, Glória Menezes, Antônio Fagundes e outros nomes de peso que, há décadas, eram exclusivos do canal. Meira e Menezes eram os mais antigos e estavam na Globo desde 1967, num total de 53 anos na emissora.
Entre os prêmios que recebeu em sua trajetória estão de melhor ator, oferecido pela Associação Paulista de Críticos de Arte, por sua atuação na minissérie A Muralha, de 2000, da Globo. Paralelamente à carreira, também se dedicou a atividades agrícolas. Gostava de plantar e era dono de terras.
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