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Cultura

- Publicada em 04 de Agosto de 2021 às 18:09

Projetos financiados por edital da campanha Eu Sou Respeito ganham forma em Porto Alegre

Postal que homenageia Nega Lu é uma das diversas ações da OSC Nuances

Postal que homenageia Nega Lu é uma das diversas ações da OSC Nuances


Alexandre Soares/SooulChab - Divulgação/JC
Adriana Lampert
Se por um lado o encerramento prematuro da mostra Queermuseu – Cartografias da Diferença na Arte Brasileira, em setembro de 2017, motivou protestos por parte de movimentos artísticos e sociais da Capital, por outro, o reparo feito à sociedade através de uma ação do Ministério Público Federal (MPF) tem rendido frutos nos campos de memória e cultura. São exposições, publicações acadêmicas, performances, feiras e rodas de conversas entre outras iniciativas de fortalecimento da comunidade LGBTQIA+ e dos direitos das mulheres, que estão em pleno desenvolvimento desde junho de 2021.
Se por um lado o encerramento prematuro da mostra Queermuseu – Cartografias da Diferença na Arte Brasileira, em setembro de 2017, motivou protestos por parte de movimentos artísticos e sociais da Capital, por outro, o reparo feito à sociedade através de uma ação do Ministério Público Federal (MPF) tem rendido frutos nos campos de memória e cultura. São exposições, publicações acadêmicas, performances, feiras e rodas de conversas entre outras iniciativas de fortalecimento da comunidade LGBTQIA+ e dos direitos das mulheres, que estão em pleno desenvolvimento desde junho de 2021.
Ao todo, sete projetos estão sendo financiados pelo edital da campanha Eu Sou Respeito, que dispõe de R$ 247 mil em recursos provenientes de multa paga pelo Santander Cultural em 2019, por não cumprir na íntegra o acordo extra-judicial assinado junto ao MPF-RS. Na época, a instituição (que havia interrompido a mostra no Farol Santander por conta de acusações de que algumas das 90 obras faziam apologia à pedofilia, à zoofilia e ao vilipêndio religioso) se comprometeu de realizar duas exposições reparativas: uma sobre empoderamento feminino e outra com a temática LGBTQIA+. No entanto, só realizou a primeira.
"Isso gerou uma multa de R$ 424 mil, que além do financiamento dos projetos do edital também irá viabilizar o custeio de três anos da Parada Livre em Porto Alegre", detalha o procurador da República Enrico Rodrigues de Freitas, titular da Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão do MPF-RS. Ao todo, estão previstos R$ 150 mil em recursos para três edições do evento, sendo que a primeira - agendada para 2020 - foi adiada por conta da pandemia de Covid-19.
Outra parte dos recursos da multa (R$ 27 mil) foi aplicada antes do lançamento do edital, para a implementação da campanha Eu Sou Respeito. Promovida pela Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão/RS em parceria com o Centro Universitário Metodista IPA, a iniciativa tem como objetivo promover reflexões em torno do respeito à causa LGBTQIA+, e também sobre as violências ligadas ao gênero, a intolerância, os preconceitos, o racismo e os discursos de ódio. Dentre as ações, estão previstos eventos e debates ao longo de 2021.
Lançado em 2020, o edital contou com o curador da mostra Queermuseu, Gaudêncio Fidelis, integrando a banca examinadora, que avaliou 143 projetos inscritos. Além dele, a procuradora regional da República e coordenadora da Comissão de Gênero e Raça da PRR4, Carmem Hessel; o procurador da República Enrico Rodrigues; o procurador do Estado do Rio Grande do Sul, Jorge Terra; o professor doutor Julio Caetano Costa e a servidora do MPF emembra do Comitê de Gênero e Raça da Procuradoria da República no RS Luíza Lu Frozzi Castro e Souza opinaram na seleção.
Historiador de arte, Fidelis avalia que o resultado da seleção do edital "mostrou-se extremamente bem sucedido e representativo, contemplando uma diversidade de projetos e através deles diversos setores da comunidade ao qual se destinava". "A importância destes projetos é ainda mais significativa uma vez que retorna para a sociedade recursos provenientes de uma multa reparatória aplicada ao banco Santander pelos danos causados pelo fechamento da Queermuseu", destaca Fidélis. Para ele, o MPF "cumpre plenamente sua função pública ao dar o melhor destino à estes recursos".

Trabalhos fomentam debate sobre a diversidade

Com ações que promovem a representatividade dos públicos feminino e LGBTQIA+, os projetos financiados pelo edital Eu Sou Respeito contam e debatem a história de personagens e associações ligados a estas causas, além de fomentar a reflexão sobre diversidade. A maioria será realizada por instituições, organizações e movimentos que lutam pelos direitos humanos.
O documentário Amigo Pink é uma das propostas contempladas. De autoria da ONG Somos - Comunicação, Saúde e Sexualidade, o trabalho irá narrar o surgimento dos primeiros movimentos sociais em torno da questão da diversidade sexual e de gênero na Capital.
Segundo o diretor executivo da Somos, Caio Klein, o passo inicial é uma pesquisa documental, que inclui levantamento de dados, seguida de entrevistas jornalísticas com figuras históricas e militantes envolvidos na implementação da Parada Livre e de organizações como a Igualdade RS - Associação de Travestis e Transexuais do Rio Grande do Sul e a Nuances, entre outras.
Também será contada a história da Somos, que há 20 anos promove os direitos humanos e direitos civis da população LGBTQIA+ e de pessoas vivendo com HIV/Aids na Capital. O custo do projeto é de R$ 39.581,00. "Queremos transformar esta memória em filme, para que sirva como uma forma de divulgar a luta destas pessoas no passado, mantendo o debate em tempos atuais, uma vez que segue sendo importante defender os direitos humanos e a liberdade sexual de toda a população", destaca o diretor executivo da Ong.
Em fase de pré-produção, Amigo Pink está previsto para ser filmado em setembro. "O lançamento deste documentário deve ocorrer até o final do ano, para marcar a data de aniversário da ONG, em 10 de dezembro, quando se celebra o Dia Internacional dos Direitos Humanos", afirma Klein. Ele avalia que "a iniciativa do MPF é uma resposta relevante à reação conservadora que ocorreu contra uma exposição de arte". "Entendemos que a realização da campanha e do edital Eu Sou Respeito é algo muito importante neste momento histórico", reforça.
O projeto do Close - Centro de Referência da História LGBTQIA+ do RS do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) acontece também no campo de pesquisa e memória. Intitulado Close - História do Movimento LGBTQIA+ do RS, o trabalho pretende "estimular a pesquisa sobre a história destas pessoas, que por muito tempo foram invisíveis", explica o professor do departamento de História da Ufrgs, Benito Schmidt.
Atualmente, uma equipe de 30 pessoas – formada por docentes da Universidade e da rede de Ensino Básico, e por alunos de graduação e pós-graduação da Instituição – trabalha reunindo documentação e bibliografia, através de jornais, revistas, e acervos pessoais, com o objetivo de que estas histórias sejam construídas. "A ideia é que este conhecimento não fique restrito à universidade, mas que seja divulgado como conteúdo nas salas de aula", destaca Schmidt.
À frente do projeto, o docente da Ufrgs explica que o próximo passo será organizar um livro paradidático, para ser usado pelo Ensino Médio. A publicação irá contar a história da comunidade LGBTQIA+ a partir dos povos originários que habitavam o Estado antes da chegada dos europeus. "Haverá também um capítulo sobre estas pessoas nos esportes, com o resgate do período de atuação da Coligay (torcida gay do Grêmio), fundada em 1978 - durante a ditadura militar - e extinta em 1983.
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Entre o material pesquisado pelo projeto Close - História do Movimento LGBTQIA+ do RS, a imagem de um baile só para homens na Ilha da Pintada em 1910 foi localizada no Arquivo Histórico do Estado. Foto: Reprodução do Facebook - Divulgação/JC
"O nosso trabalho tem toda uma elaboração científica por trás", observa Schmidt. "Estamos pesquisando o material em arquivos e realizando entrevistas com pessoas mais velhas, para transpor em um livro, que terá 500 exemplares para distribuição gratuita."
O docente destaca que o projeto é anterior ao edital, e iniciou em 2019. "Naquele ano, fizemos várias reuniões da equipe, e chegamos a fazer um curso de formação de professores sobre a história LGBTQIA+ no Estado." Ele observa que a continuidade só foi possível, graças à verba (R$ 40 mil) conquistada através do edital.
Os recursos custearão também um curta metragem e uma exposição (em cartazes lambe-lambe) nas ruas da Capital. Ambos trabalhos complementarão o resultado deste levantamento documental. "A ideia é lançar tudo junto, entre março e abril", adianta Schmidt.
Ao celebrar a viabilidade de executar o projeto, o professor do departamento de História da Ufrgs avalia que é importante para a sociedade desenvolver um sentimento de respeito pelas pessoas LGBTQIA+. "Também é preciso que elas se sintam representadas no passado, uma vez que há registros desta comunidade desde a época da colonização", reforça. "Este é um projeto que tem base acadêmica e científica muito sólida, vai ser bacana a população conhecer esta história mais diversa no Rio Grande do Sul.”

Nuances recorda história de luta e homenageia Nega Lu

Um dos primeiros trabalhos a apresentar resultados é o proposto pelo Nuances – Grupo pela Livre Expressão Sexual, que em 2021 está completando 30 anos de existência. Intitulado Nuances, 30 anos em Exposição: Nosso Queermuseu é nas Ruas, o projeto se utilizará de R$ 40 mil para integrar várias iniciativas, sendo, a maioria, intervenções na cidade. "Criamos o slogan 30 anos Dando Por Aí, que teve lançamento com a colagem de 160 lambe-lambes de 3m de largura por 2m de altura espalhados por toda a cidade na segunda quinzena de junho", conta um dos responsáveis pela coordenação do projeto, Célio Golin.
Logo após o início da campanha de rua, o grupo inaugurou, no dia 09 de julho, um mural para homenagear Nega Lu, homossexual negro que marcou a cena boêmia e artística dos anos 1970 e 1990, em Porto Alegre. O grafite de sete metros de altura foi criado pelo artista urbano Alexandre Soares/SooulChab, e instalado na parede da loja Profana, na rua Lima e Silva, 552, no bairro Cidade Baixa. "A Nega Lu foi uma pessoa transgressora de rua de carnaval, dança, batuque, canto, que transgredia gênero na época", justifica Golin. "Fizemos também a tiragem de 3 mil postais com a imagem deste grafite, que estamos distribuindo gratuitamente à população", emenda.
Outra ação do Nuances foi o lançamento de uma linha de cerveja pilsen fabricada pela Cervejaria Bodoque e de um copo de cerveja, ambos com a logo comemorativa dos 30 anos do grupo. Os produtos estão sendo vendidos no Bárbaros Cervejas Especiais (Rua Ramiro Barcelos, 1792, no bairro Rio Branco). São 180 copos e 100 latas de cerveja. A verba das vendas será usada como apoio para a manutenção do Nuances, que é uma Organização da Sociedade Civil (OSC).
"Também está prevista uma edição especial do nosso jornal, que existe desde 1988, onde haverá depoimentos e matérias sobre estes 30 anos de atividades. Serão 5 mil exemplares, com 16 páginas de história, e o conteúdo já está sendo produzido", adianta Golin. A publicação terá distribuição gratuita em centros culturais, bares, sindicatos, e universidades.
Na lista de intervenções do Nuances, ainda há quatro exposições temáticas sobre a vida da Nega Lu, que serão executadas em parceria com o Curso de Museologia da Ufrgs e instaladas nas paredes externas dos bares Ocidente e Lancheria do Parque, no Bom Fim; Plano A, no Menino Deus; e Venezianos, na Cidade Baixa. "Este dinheiro vem de uma censura, então resolvemos priorizar ações no campo da cultura que se consolidem nas ruas", observa o integrante da OSC.

Respeito às mulheres também ganha destaque

Coordenado pelo Centro de Referência Indígena-Afro do RS, o projeto Mulheres Indígenas em Contexto Urbano - Construindo o Direito de Existir é um dos frutos a serem colhidos pela ação da Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão (PRDC) do MPF-RS. Com lançamento previsto para o dia 08 de agosto, o trabalho que envolve uma equipe de mais 25 pessoas irá realizar rodas de conversas e gravações de podcasts com discussões sobre o tema, que serão transmitidos a partir de 25 de agosto.
A proposta do espaço – que há dois anos luta por ações afirmativas e políticas públicas voltadas aos povos originários – prevê ainda o lançamento da Jornada Mulheres Indígenas da Cidade e na Cidade - Direitos, Construções e Resistências, iniciativa que deve seguir até dezembro, quando será realizada uma feira ao ar livre no Parque da Redenção. Na ocasião, também haverá roda de conversa sobre os direitos das mulheres indígenas, artesanatos e preservação da cultura dos povos originários.
"A exposição Queermuseu foi fechada por intolerância. Já a realização da campanha e do edital Eu Sou Respeito deu visibilidade e unificou lutas de pautas violentadas e invisibilizadas", declara a cacica Alice Guarani, da comunidade Indígena Urbana Multiétinica de Porto Alegre-RS (Ciumpa) e liderança do Centro de Referência Indígena-Afro do Rio Grande do Sul. "Considero uma vitória de todos envolvidos, tanto da equipe do MPF-RS, como dos coletivos que, assim como o nosso, venceram o edital", avalia.
Outra proposta voltada a discutir a condição das mulheres na sociedade é Plataforma Lilith: Respeita, Somos Mulheres, do Coletivo Quântico, que desenvolve apresentações artísticas, teatrais e performáticas sobre questão de gênero. Segundo a idealizadora do projeto, Larissa Sanguiné – que também atua como criadora, diretora, performer e produtora do trabalho – Plataforma Lilith é um conjunto de 23 ações artísticas, realizadas por mulheres de diversos campos das artes, do feminismo e interseccionalidades. A iniciativa foi contemplada com R$ 40 mil.
"A gente entende que este edital contemporiza uma série de questões, não somente artísticas, mas de fundo social, e que se interseccionam em diversos campos, além do gênero", observa Larissa. "Encontramos neste edital, uma possibilidade de ampliar discussões sobre a condição da mulher contemporânea numa sociedade ocidental machista, racista, misógina, capitalista."
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A função das várias frentes de feminismo, os lugares de escuta e de fala são o mote das 23 ações do projeto Plataforma Lilith: Respeita, Somos Mulheres. Foto: Victória Sanguiné - Divulgação/JC
A função das várias frentes de feminismo, os lugares de escuta e de fala são o mote destas ações, que partem do espetáculo Projeto Lilith - Pixações em Corpos Histéricos (2017), que no ano passado foi contemplado em três categorias do Prêmio Braskem em Cena. A primeira iniciativa do projeto, a partir do edital Eu Sou Respeito será a Plataforma Lilith, que ocorrerá em forma de manifesto e plataforma de ações performáticas, realizadas com transmissão simultânea por meios digitais, durante 11 dias. Dia 15 de outubro ocorre a primeira exibição online. 
A proposta, que reúne, além de seis integrantes do Coletivo, outras quatro convidadas (a artista visual Be Leite, e as performers Fayola Fernandes Ferreira, Raquel Kubeo e Roberta Savian), irá contar ainda com rodas de conversas sobre a condição das mulheres, realizadas com transmissão simultânea por meios digitais. "No total, são 30 artistas envolvidos, entre ações performáticas, bate-papos e exposição-virtual", resume Larissa.
Intitulada Exposição Lilith, a mostra online inicia no dia 05 de novembro, nas redes do Coletivo Quântico no Facebook, Instagram e Youtube, em formato de ocupação, com instalação cenográfica da plataforma de performances do Projeto Lilith - Pixações em Corpos Histéricos. "São projeções em looping de imagens do vídeo editado para a participação do Braskem em Cena 2020", explica a idealizadora da iniciativa.
Larissa avalia que existem correntes e forças de trabalho que "estão fora das catalogações artísticas", mas que envolvem um processo de ativismo e resistência da condição humana, e, neste caso, da condição de gênero. "Cada projeto contemplado neste edital tem sua função, e a nossa é discutir a arte, o gênero e, principalmente, a condição da mulher em sua pluralidade e diversidade", resume a diretora. "Nos sentimos muito honrados de participar deste edital , mas sabemos que é necessário que cada vez mais ocorram editais com esta proposta, para ampliar tais discussões."

Reparo à sociedade depois de ato de censura e discriminação

Lembrando que a realização de um edital é "algo impessoal e permite que todos possam participar", o procurador da República Enrico Rodrigues de Freitas, destaca que, ainda assim, a iniciativa do MPF-RS é direcionada às Ongs e movimentos impactados diretamente pelo fechamento da exposição Queermuseu. "São coletivos que  trabalham com a temática", ressalta. De qualquer forma, foram aceitas propostas de outras organizações da sociedade, a exemplo da Associação Riograndense de Artes Plásticas Francisco Lisboa (Associação Chico Lisboa), que inscreveu o projeto Fora da margem: Panorama Visual da Identidade.
Contemplado com cerca de R$ 40 mil, o trabalho proposto pela associação de artistas prevê uma exposição com a temática LGBTQIA+, que irá ocorrer de forma simultânea em seis cidades do Estado, de forma presencial e virtual. Marcada para inaugurar em março de 2022, a mostra ocupará espaços em Porto Alegre, Pelotas, Santa Maria, Caxias do Sul, Bento Gonçalves e Novo Hamburgo, além de ser divulgada no universo online. 
De acordo com a presidente da Associação Chico Lisboa, Lisiane Rabello, para selecionar as obras plásticas e filmes que irão integrar a exposição, haverá um edital, previsto para ser lançado no dia 15 de agosto. "Pretendemos envolver a comunidade LGBTQIA+ neste projeto, e chamar grupos como Nuances e Somos para opinarem na linguagem que vamos utilizar. Queremos tratar com muito respeito o assunto, pois a ideia é justamente dar voz a essas pessoas e visibilidade a trabalhos voltados ao tema."
Outra iniciativa resultante do edital do MPF-RS, está atualmente em fase de produção. Idealizado e realizado pelo fotógrafo Gabz 404, Ser Trans é a reunião de dez ensaios fotográficos e entrevistas com pessoas trans e não-binárias, em todas as regiões do Rio Grande do Sul. "Comecei a trabalhar neste projeto em 2020, com dinheiro do meu bolso ou de doações, mas a partir do financiamento de R$ 23 mil que chega com o edital Eu Sou Respeito, eu vou conseguir dar maior visibilidade a pessoas trans, travestis e não-binárias", afirma Gabz 404. "Espero que outras pessoas se vejam nestes discursos, nestes corpos, e se sintam ouvidas e sentidas." 
 
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Ser Trans consiste de um acervo fotográfico com relatos de histórias de pessoas não-binárias. Foto: Gabz 404 - Divulgação/JC
O artista ressalta que o projeto visa uma conscientização da diversidade de experiências com foco na "naturalização do existir trans". "Este trabalho é também um acervo onde as vozes e imagens de pessoas trans e não-binárias são preservadas e as histórias são narradas em primeira pessoa. Meu objetivo é trazer mais pessoas trans para trabalhar neste projeto", observa Gabz 404, destacando que ele e o outro colaborador do ensaio (Lau Graef), são trans. "É muito importante que a gente tenha representatividade na frente, mas também por trás das câmeras", avalia.
"Quando houve a censura da mostra Queermuseu, eu fiquei com medo, e senti que minha própria existência estava sendo censurada", recorda o fotógrafo. "Por outro lado, poder viabilizar o Ser Trans quatro anos depois, em um estado como o Rio Grande do Sul que tem uma história de colonização bem racista, misógina e transfóbica, me deixou muito feliz", pondera Gabz 404. "É essencial que a gente possa avançar como sociedade", considera. 
 
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