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Cultura

- Publicada em 06 de Julho de 2021 às 19:31

Movimento 'Meninas crespas' promove oficinas sobre cultura afro-brasileira

Projeto contemplado pela Lei Aldir Blanc segue com encontros virtuais até 24 de julho

Projeto contemplado pela Lei Aldir Blanc segue com encontros virtuais até 24 de julho


NIELSON ROCHA/DIVULGAÇÃO/JC
Lara Moeller Nunes
O resgate da ancestralidade e a busca pela identidade negra dão forças ao movimento nascido no bairro da Restinga. Criado em 2015, o Meninas crespas promove agora oficinas e atividades abertas ao público que incentivam o empoderamento feminino e o aprendizado da cultura afro-brasileira. As ações, que começaram no dia 7 de junho, vão até 24 de julho, com uma programação recheada de aulas e encontros virtuais.
O resgate da ancestralidade e a busca pela identidade negra dão forças ao movimento nascido no bairro da Restinga. Criado em 2015, o Meninas crespas promove agora oficinas e atividades abertas ao público que incentivam o empoderamento feminino e o aprendizado da cultura afro-brasileira. As ações, que começaram no dia 7 de junho, vão até 24 de julho, com uma programação recheada de aulas e encontros virtuais.
A iniciativa surgiu há seis anos, quando a educadora Perla Santos atendeu um caso de racismo na escola em que trabalhava. Atuando como coordenadora de turno na Escola Municipal Senador Alberto Pasqualini, ela era responsável por resolver os conflitos que surgiam na instituição. Acolheu, certa vez, uma aluna abalada que, em meio a lágrimas, contou que estava recebendo ofensas de um colega de classe em relação a sua cor e cabelo.
Em entrevista ao Jornal do Comércio, a professora conta que ficou muito impactada com a fala e o sofrimento da menina. "Como mulher negra, me senti convocada a fazer algo a respeito", relata. Pensou em procurar coletivos e grupos do movimento negro para conversar com a turma mas, por conta da distância, sabia que as atividades não poderiam acontecer de maneira contínua e regular, como deveriam. Passou então a juntar as alunas durante o intervalo para conversar sobre negritude. O nome do grupo surgiu quando uma delas olhou ao redor e disse "nós somos as meninas crespas".
O interesse e a procura foram tão grandes que logo as atividades começaram a se expandir dentro do ambiente escolar. Além das rodas de conversa, oficinas de turbante e desfiles temáticos não competitivos foram englobadas dentro do movimento, atraindo também a participação de pais e familiares. "Queríamos exaltar a beleza de cada uma delas, pois já eram meninas frágeis, com baixa autoestima. Elas eram vencedoras apenas pela coragem de desfilar na frente de todo mundo."
Apesar do sucesso dentro e fora da comunidade, em 2018 Perla recebeu a notícia de que a prefeitura iria extinguir os projetos desenvolvidos nas escolas municipais. "Já estávamos começando a criar visibilidade e já tínhamos até apresentação marcada na Bienal, foi um momento muito complicado", conta ela. Os pais perceberam a gravidade da situação e se uniram para garantir a continuidade da iniciativa. A partir disso, conseguiram transferir as atividades da escola para uma associação de moradores até conquistarem a sede própria, em pleno funcionamento até hoje.
A contemplação na Lei Aldir Blanc foi fundamental para ampliar ainda mais o alcance do projeto durante neste ano. Ao todo, seis oficinas estão sendo oferecidas ao público com foco no ensino Afrocentrado. "Temos a ideia da educação bilíngue para os povos negros, então firmamos uma parceria com o Mestre Cica que ensina a língua Yorubá", explica a educadora.
Além dele, outros cinco professores se juntaram à equipe, cada um ministrando uma atividade diferente. Katia Flores ensina a afrobetização, reiterando a necessidade de enxergar o mundo a partir de uma visão negra, e Pingo do Borel, mestre do tambor, explora a arte da percussão. No âmbito da dança, Syl Rodrigues ensina o jazz funk, Gabriela Maia apresenta o balé clássico, e a própria Perla, fundadora do movimento, leciona aulas com coreografias afro-brasileiras.
Para garantir um espaço de acolhimento ainda maior na periferia, o Meninas crespas está em processo de transição para se transformar em Instituto. Nesse sentido, uma biblioteca comunitária e afrocentrada está sendo criada para estimular o contato direto com as origens. "Ainda existe uma ideia de que somos pouco capazes e pouco inteligentes, com atribuições físicas e não intelectuais. Precisamos romper isso, pois esses lugares também nos pertencem. Nossa história também merece estar nos livros, sendo contada por nós."
Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Educação da Ufrgs, Perla diz que o projeto criou um ambiente extremamente representativo não só para as crianças, mas também para os adultos que vêm de uma geração em que não se discutia sobre negritude. "Quando falamos de cabelo crespo, não estamos falando apenas de estética. Nossos corpos são políticos, e nossa história começa pelo fio de cabelo. Essa identidade precisa ser resgatada."
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