Em um momento como este, em que os amantes da arte estão sedentos pelo contato direto com as obras, o projeto Arte Contemporânea RS apresenta o lançamento do tão aguardado Catálogo do Acervo do Macrs (Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul). O evento acontece neste sábado (26), das 16h às 18h, nas galerias do Museu no 6º andar da Casa de Cultura Mario Quintana (Andradas, 736).
O cuidadoso trabalho produzido por Vera Pellin e orientado pela pesquisadora e curadora Maria Amélia Bulhões resultou em uma publicação inédita em formato impresso e digital, reunindo 1.813 obras de 921 artistas. O processo, que também contou com a ajuda de profissionais da instituição e colaboradores, incluiu densas etapas de pesquisa, documentação, digitalização, edição e impressão de todo o material presente no acervo, demandando muita dedicação de todos os envolvidos.
Em entrevista ao Jornal do Comércio, a curadora do projeto comentou sobre a importância deste feito para a arte contemporânea do Estado. “Eu acho que a grande tarefa do museu público é preservar e divulgar suas coleções para toda a população. Não só para a comunidade no geral, mas também para os estudiosos da área para que possam trabalhar em cima de documentos completos e atualizados”, diz Maria Amélia. Para ela, a oferta deste tipo de material é fundamental para que as instituições de arte passem a ter mais reconhecimento da sociedade.
Desenvolvido em tempo recorde de quatro meses, o projeto une diferentes frentes e formatos que traduzem todas as ações desenvolvidas durante esse período. Uma significativa exposição, em cartaz até o dia 22 de agosto, faz parte da programação. Nas galerias Sotero Cosme e Xico Stockinger, além do espaço Vasco Prado, no 6º andar da CCMQ, o público pode visitar e admirar de perto, com horário marcado, mais de 70 peças da extensa coleção. “Busquei conteúdos que pudessem ser representativos dentro do movimento, mostrando toda a pluralidade com as diferentes categorias e tendências artísticas. A exposição foi organizada pensando no diálogo entre as obras, e não construída de maneira temporal”, explica a curadora.
O incremento do setor online trouxe também a possibilidade da construção de um site que, além de hospedar de maneira gratuita o catálogo, oferece ao público uma espécie de visita virtual pela mostra, com informações sobre as criações e entrevistas complementares. “Uma moeda sempre tem duas faces. A pandemia nos trouxe muita dor, tristeza, morte e problemas, mas também intensificou muito toda a atividade digital. Isso apareceu como solução para estabelecer um maior contato e comunicação em frente a esse distanciamento necessário.”
A construção do catálogo foi pensado pela curadora, desde o início, com o objetivo de aumentar o alcance e a visibilidade das obras presentes no acervo do Museu, destacando todos os aspectos da sua constituição. Para isso, a curadora planejou uma reconstrução histórica do material, viajando em documentos e registros que vão de 1970 até os anos 2000. Buscou então representações de cada uma dessas fases, que transitam entre o surgimento, crescimento e consolidação do movimento no Estado.
Maria Amélia destaca o desejo de conseguir alcançar a merecida valorização das instituições que abrigam peças tão importantes para a arte contemporânea. “A política é uma representação das pessoas. Se não há ações em favor dos museus, é porque a sociedade não está atenta para eles”, comenta. Para ela, a construção do catálogo do Macrs vem com o objetivo de mudar esse cenário: “Espero que o povo incorpore esse instituto como seu e compreenda a importância dele para o panorama cultural do Rio Grande do Sul”.
Sobre o lançamento do material, a curadora diz que a expectativa é de que as pessoas apreciem todo o esforço depositado no projeto, e que isso possa, de alguma forma, reverberar dentro da comunidade artística pela preservação das obras. “Participar deste processo, com todas essas ações, é a realização de um compromisso social. A felicidade de ver tudo pronto está sendo muito grande, pois foram meses bem intensos de trabalho. Vejo a arte como um patrimônio de toda a sociedade e, quanto mais acesso puder oferecer, melhor.”