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Cultura

- Publicada em 23 de Junho de 2021 às 20:29

Diógenes Moura toma morte da irmã como ponto de partida para livro

Autoficção 'Vazão 10.8 - a última gota de morfina' traz memórias, impressões e sutilezas

Autoficção 'Vazão 10.8 - a última gota de morfina' traz memórias, impressões e sutilezas


RAFAEL CUSATO/DIVULGAÇÃO/JC
Igor Natusch
"A morte é um 'sim'. Quando você verdadeiramente diz 'sim', você morre". A partir desse conceito ao mesmo tempo simples e poderoso, a interpretação em torno de Vazão 10.8 - a última gota de morfina (Vento Leste, 104 páginas, R$ 40,00), novo livro de Diógenes Moura, ganha novos contornos. O enredo em torno de Maura, irmã de Diógenes que morreu em 2019 em decorrência de um câncer no pâncreas, deixa de ser um esforço de compreensão sobre a morte que existe, passando a ser uma observação sobre a vida que foi - e que, a partir da observação, da memória e da celebração, permanece sendo.
"A morte é um 'sim'. Quando você verdadeiramente diz 'sim', você morre". A partir desse conceito ao mesmo tempo simples e poderoso, a interpretação em torno de Vazão 10.8 - a última gota de morfina (Vento Leste, 104 páginas, R$ 40,00), novo livro de Diógenes Moura, ganha novos contornos. O enredo em torno de Maura, irmã de Diógenes que morreu em 2019 em decorrência de um câncer no pâncreas, deixa de ser um esforço de compreensão sobre a morte que existe, passando a ser uma observação sobre a vida que foi - e que, a partir da observação, da memória e da celebração, permanece sendo.
O pré-lançamento acontece nesta quinta-feira (24), em formato online, a partir das 19h. No evento, o autor participa de conversa com o crítico literário Manuel da Costa Pinto, e haverá espaço para interação com o público. O encontro, via Zoom, tem inscrições pelo e-mail [email protected]. Para o futuro, o livro deve ser apresentado também em formato de filme de média-metragem, dirigido por Beto Brant e que deve ser rodado no mês de julho.
Primeiro romance de Diógenes Moura, a obra mistura impressionismo e caráter memorialístico, em um esforço de autoficção em torno da irmã do escritor e de sua família - pai, mãe, cinco irmãos, tios, tias, uma irmã de criação, sobrinhos, o marido de sua única irmã. Cachorros, uma galinha, uma boneca. Uma série de personagens, geralmente descritos apenas por iniciais (Maura, por exemplo, é chamada o tempo todo de M.) e que se misturam com impressões, fluxos de consciência, detalhes das cidades que vêm e que vão. Recife, Salvador, Tejipió, São Paulo. Uma jornada emocional que, embora marcada de forma definitiva pela doença fatal, não se inicia nela, nem se resume a andar em círculos em torno do inevitável.
Seja como for, a morte - ou, melhor dizendo, a sua inarredável presença - foi o ponto de partida para que Vazão 10.8 - a última gota de morfina virasse livro. "Ela me ligou, desliguei o telefone e imediatamente fiz a primeira anotação", recorda Moura. "Quando você diz que tem câncer no pâncreas, isto não é uma notícia: é um veredito. Essa morte se apresenta, se transforma em uma data. A primeira anotação na minha agenda foi feita em 30 de junho 2018; a última, em 26 de janeiro de 2020. Foram, portanto, um ano e seis meses escrevendo o livro", revela.
Desta forma, o autor foi escrevendo o livro enquanto os últimos meses de vida de sua irmã se transcorriam - o que, naturalmente, acrescenta aos capítulos curtos, de linguagem abertamente poética, um caráter emotivo ainda mais particular. "A autoficção, no caso, tem esse papel de ir, aos poucos, revelando um segredo. Eu penso que esse livro é meio como romance da idade média, no qual a poesia não deixava de estar presente de forma alguma."
Que ninguém vire as primeiras páginas, porém, pensando que estará diante de uma leitura pesada, angustiante. Embora o final da história esteja claro desde o início (e concretizado em um título duro, pesado, até certo ponto implacável), as situações se revelam com um olhar generoso, sem grandes dramaticidades e, até, com considerável leveza.
"Eu penso que, nesse mundo infernal, em que se tem contato com notícias horríveis o tempo todo, você precisa pensar no outro que está diante dessas palavras", reflete Moura. "Eu não precisava fazer da história um drama, porque o drama já existe. Não poderia escrever sobre essas situações todas com sofrimento, amargura - primeiro porque ninguém mais suporta, e porque minha relação com a minha irmã nunca foi dramática. Para mim, não é um livro sobre a morte: é sobre arrepios, sobre versos encarnados."
Versos em forma de romance que ganharão nova dimensão, a partir da intervenção de Beto Brant. Também conhecido pelo trabalho como roteirista, Moura faz uma distinção importante, definindo o futuro média-metragem como "um filme do livro" - ou seja, uma forma de ler Vazão 10.8 - a última gota de morfina com imagens, ao invés de apenas adaptá-lo para outro formato. "A editora tinha ideia de fazer e-book, mas pensei 'e-book é tão enfadonho, vamos fazer um filme com o Beto, na minha casa, no lugar onde trabalho, com as pessoas que falam por meio das imagens e das pinturas'", relembra.
Uma outra dimensão de leitura, e também uma nova forma de dar à obra um caráter afirmativo, de dizer sim diante das inúmeras negativas do mundo. "Todos os dias leio Jorge de Lima, e cada vez ele me dá uma nova palavra de presente. Eu li Augusto dos Anjos aos 14 anos, e nunca mais esqueci. O que, do que você ler, vai ficar dentro de você?", questiona. "Não consigo avançar nas leituras que faço (de autores contemporâneos), porque são coisas muito duras, embora bem escritas. Não explode um azul na sua cabeça, entende? Ainda que eu não tenha nenhuma expectativa particular sobre a humanidade, acho que o que fica com a gente é o que nos desperta essa explosão, essa luzinha azulada no fim do túnel."
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