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Cultura

- Publicada em 22 de Junho de 2021 às 20:27

Tun Toin Foin apresenta EP com erudição e doces ousadias

Liderada por Arthur de Faria, banda também dá os toques finais em seu primeiro disco

Liderada por Arthur de Faria, banda também dá os toques finais em seu primeiro disco


ELIZABETH THIEL/DIVULGAÇÃO/JC
Igor Natusch
Adotar o rigor da música de câmara em uma banda que toque música popular, "seja lá o que isso quer dizer". Foi essa equação, igualmente complicada na teoria e na prática, que o compositor Arthur de Faria buscou resolver com a Tun Toin Foin, banda que prepara o lançamento de seu primeiro álbum de estúdio. Antecipada pelo EP Tum, disponível desde maio via Audio Porto, a paisagem musical dessa reunião de 10 músicos é erudita por um ângulo, quase profana pelo outro - cheia de elementos regionais e, ao mesmo tempo, insinuando um inquieto cartão-postal do mundo inteiro.
Adotar o rigor da música de câmara em uma banda que toque música popular, "seja lá o que isso quer dizer". Foi essa equação, igualmente complicada na teoria e na prática, que o compositor Arthur de Faria buscou resolver com a Tun Toin Foin, banda que prepara o lançamento de seu primeiro álbum de estúdio. Antecipada pelo EP Tum, disponível desde maio via Audio Porto, a paisagem musical dessa reunião de 10 músicos é erudita por um ângulo, quase profana pelo outro - cheia de elementos regionais e, ao mesmo tempo, insinuando um inquieto cartão-postal do mundo inteiro.
O álbum, gravado durante apenas três dias em 2019, foi ensaiado durante um ano inteiro, de forma que pudesse ser registrado quase ao vivo, mas com uma sonoridade exata. Uma mistura de formalidade e doces ousadias que reflete na escalação de músicos para esse aparente super-conjunto. No universo da Tun Toin Foin, o quarteto de cordas se transforma em uma dupla de violino (a cargo de Miriã Farias) e acordeon (Gabriel Romano).
A orquestra se completa com o trombone de Julio Rizzo e o inusitado uso de dois fagotes, trazidos por Agne Bazzani e Adolfo Almeida Jr - um explorando as notas agudas, o outro passeando pelas sonoridades mais graves. "Brincamos que a Tun Toin Foin é a melhor, a segunda melhor e a terceira melhor banda do mundo com dois fagotes, porque não há nenhuma outra. Os dois instrumentos que mais gosto são o acordeon e o fagote, porque ambos têm uma gama de expressão de sentimentos muito gigantesca. Podem soar melancólicos, alegres, engraçados, trágicos", enumera Arthur de Faria.
Para a espinha dorsal da banda, foram escalados Erick Endres (guitarra) e Bruno Vargas (baixo), com os quais Arthur de Faria já tinha trabalhado na Orquestra do Caos. Unem-se a eles a percussão de Giovani Berti e a bateria de Güenther Andreas, velho conhecido do compositor. "Ele tocou comigo pela primeira vez em 1987", recorda. "Hoje em dia, ele é chefe da percussão da Ospa, e estava sem tocar bateria há muito tempo. Encontrei o Güenther um dia e ele me disse 'cara, ando a fim de tocar bateria. Se tu montares uma banda, eu compro uma bateria e volto a tocar'. Uma das motivações da Tun Toin Foin foi fazer o Güenther voltar a tocar bateria", garante. No meio disso tudo, o próprio Arthur de Faria surge, conduzindo o piano e demais instrumentos com teclas.
Além da união inusitada de instrumentistas, há também uma considerável amplitude geracional. Erick Endres, o mais novo, tem 23 anos, enquanto o experiente Adolfo Almeida Jr. está com 61. Tudo isso acaba resultando em uma enorme riqueza sonora - que o líder da banda tratou de explorar da melhor forma possível, escrevendo arranjos que levassem em conta as características de cada um dos músicos.
Essa junção toda teve como norte um conceito simples: dar conta de músicas que, em boa medida, já tinham aparecido em trilhas de teatro e cinema, em arranjos para dezenas de instrumentos. "Se eu fosse rico, faria como (o compositor sérvio) Goran Bregovic e montaria uma orquestra com 40 músicos. Mas não é o caso", diz, rindo. "Por incrível que pareça, essa banda de 10 integrantes é pequenininha, enxuta. E abre espaço para tocar coisas diferentes. Queria ser capaz de fazer tanto composições com uma pegada de guitarra, baixo e bateria como coisas mais orquestrais."
O resultado musical que surge em Tum é múltiplo e, ao mesmo tempo, fortemente coeso. Chamamonga une chamamé e milonga em meio a incansáveis contrapontos e uma banda que chega a soar como o Jethro Tull de Thick as a brick, enquanto Zoika propõe uma leveza contemplativa, a partir de uma aparentemente simples estrutura de dois acordes.
Há espaço também para brincar com algo próximo aos filmes de ação (Boogie do louco) e para uma homenagem intensa a Radamés Gnattali, um dos super-heróis particulares do próprio Arthur de Faria, em Radar. "Estudei a vida inteira a música de Porto Alegre e do Estado e, para mim, ele é o cara mais sensacional que saiu daqui", declara. "Roberto, seu sobrinho, ouviu a Radar e disse, com o sotaque bem carioca dele: 'bicho, parece que os velhinhos do quinteto tomaram ácido e enlouqueceram!' Fiquei feliz demais, porque a ideia era justamente essa."
Depois do atraso forçado pela pandemia, a ideia é fazer o primeiro álbum da Tun Toin Foin decolar de vez. Um segundo EP deve sair nos próximos meses, e a ideia é que o disco completo, com 14 faixas, esteja disponível ainda em 2021.
Um financiamento coletivo para prensar o álbum em formato LP - um antigo desejo pessoal de Arthur de Faria - está em estudo, bem como a realização de um show online de lançamento, sem data definida. "O problema é que, juntando só nós 10, já é aglomeração, né?", comenta Faria, dando uma gargalhada. "Mas até setembro acredito que todos os velhos da banda tomarão a segunda dose (contra a Covid-19), então, vamos ver como vai estar esse negócio."
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