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Cultura

- Publicada em 12 de Maio de 2021 às 20:28

Biografia de João Gilberto Noll tem lançamento na FestiPoa Literária

Autor do livro, Flávio Ilha procurou fugir de cronologia rígida na escrita de 'João aos pedaços'

Autor do livro, Flávio Ilha procurou fugir de cronologia rígida na escrita de 'João aos pedaços'


FREDY VIEIRA/ARQUIVO/JC
Igor Natusch
Um dos escritores que marcou o imaginário sobre Porto Alegre nas últimas décadas, João Gilberto Noll está no coração da FestiPoa Literária, que começa nesta quinta-feira (13) e vai até a próxima segunda-feira (17). Escrita por Flávio Ilha, a biografia João aos pedaços (Diadorim, 270 páginas, R$ 60,00) será um dos lançamentos do evento, trazendo a primeira oportunidade de ler, em profundidade, sobre a vida de um autor tão criativo quanto discreto.
Um dos escritores que marcou o imaginário sobre Porto Alegre nas últimas décadas, João Gilberto Noll está no coração da FestiPoa Literária, que começa nesta quinta-feira (13) e vai até a próxima segunda-feira (17). Escrita por Flávio Ilha, a biografia João aos pedaços (Diadorim, 270 páginas, R$ 60,00) será um dos lançamentos do evento, trazendo a primeira oportunidade de ler, em profundidade, sobre a vida de um autor tão criativo quanto discreto.
Pela primeira vez, o evento acontece de forma 100% online, com transmissão pelo canal da FestiPoa Literária no YouTube. Em bate-papos, saraus e oficinas, nomes como Jeferson Tenório, Antônio Pitanga, Itamar Vieira Júnior, Teresa Cristina, Conceição Evaristo, Criolo, Letrux e Luedji Luna participarão dos cinco dias de evento. Os homenageados deste ano são Ana Maria Gonçalves e Sérgio Vaz.
Para marcar o lançamento de João aos pedaços, está prevista uma live no domingo (16), às 16h, com mediação de João Castello. Também será lançada durante o festival a obra Somos todos Caim (Diadorim, 92 páginas, R$ 42,00), livro de contos de Clarice Müller, que terá lançamento na segunda-feira (17), às 21h30min, em mesa com Reginaldo Pujol Filho. Os dois livros estão em pré-venda, em valores promocionais, no site da Livraria Baleia. A programação completa pode ser acessada em www.facebook.com/festipoa.
A ideia de escrever uma biografia sobre Noll surgiu em 2016, quando Flávio Ilha participou de uma oficina ministrada pelo autor. A ideia era de usar as caminhadas do escritor pelo Centro Histórico da Capital como eixo narrativo, pontuadas por leituras de trechos de sua obra - mas a iniciativa não teve tempo de ganhar corpo, já que o escritor morreu inesperadamente no começo de 2017.
"Não queria jogar fora a relação estabelecida com ele durante a oficina, nossas conversas e e-mails trocados. Aí comecei a tatear, a falar com familiares e amigos, e a coisa foi evoluindo aos poucos. Até então, eu estava numas de 'vamos ver se vai dar', tinha dúvidas se (uma biografia) não era uma tarefa muito grande para o material que eu tinha reunido", conta Ilha, em conversa com o Jornal do Comércio.
De forma um tanto paradoxal - mas também coerente com um biografado notório por ser bastante reservado - João aos pedaços encontrou, no isolamento imposto pela pandemia, o ambiente adequado para surgir. Flávio Ilha tinha acabado de voltar de uma viagem ao Rio e a São Paulo para entrevistas quando a Covid-19 chegou ao País, e aproveitou a situação para mergulhar de vez nesse curioso desafio: contar a vida de alguém que não contava nada de sua vida pessoal para ninguém.
"Quando morreu, o Noll namorava uma psicanalista (Magali Koepke) há quase quatro anos. Não viviam juntos, mas tinham uma vida comum, saíam com frequência, ele se dava muito bem com os filhos dela. E as irmãs do Noll não sabiam, nesse tempo todo, que ele tinha uma namorada: foram descobrir no velório dele, quando ela foi até lá com os filhos", conta Ilha.
Na hora de contar a história dessa figura singular, Flávio Ilha procurou manter uma certa lealdade a esse caráter reservado do biografado - o que fez com que ele deixasse de lado aspectos mais íntimos, que o próprio Noll nunca desejou que fossem públicos. O que não quer dizer que João aos pedaços seja pobre em revelações. Para os leitores contumazes da obra de Noll, é fascinante perceber o quanto de sua vida cotidiana era usada como base para suas obras - quase como se, escrevendo ficção, o autor estivesse também dando pistas para uma biografia que estava por vir.
Além dos muitos depoimentos e do extenso trabalho de pesquisa, o livro traz como destaque a presença de textos inéditos do escritor gaúcho. São quatro contos e um poema, escritos nos anos 1960, além de trechos de um romance, no qual Noll trabalhava antes de falecer. É a história de dois pares de gêmeas que não se conheciam, viviam em cidades diferentes, mas aparentemente tinham o mesmo pai. "Ele não mencionou esse romance com ninguém, não deixou sugestão de título, nada. Apenas um arquivo de texto, com cerca de 20 páginas. Mas a então namorada dele é mãe de gêmeos, então, ele estava novamente se baseando na experiência pessoal para compor um romance", aponta Ilha.
Trechos até então inéditos que, na visão do biógrafo, cristalizam Noll como uma figura atormentada pela dificuldade e horror da vida cotidiana - bem como um transgressor que, desde antes da afirmação como escritor, buscava um rompimento com as banalidades formais e cronológicas, da literatura e da vida.
"Apesar de ser uma grande reportagem, essa biografia não é uma grande reportagem, com o perdão da aparente contradição: é uma reconstrução da vida de uma pessoa pública, que vivia de narrar criativamente os seus dilemas, traumas e inquietações", pondera Ilha. "Subverti um pouco a cronologia dos fatos, porque ele mesmo não ligava muito para o tempo e a sequência de fatos nos seus romances - uma liberdade criativa que eu tentei, na medida do possível, preservar na minha narrativa."
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