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Cultura

- Publicada em 25 de Abril de 2021 às 20:03

A poesia esteve sempre por perto de Altair Martins

Premiado romancista e contista lança 'Labirinto com linha de pesca', seu primeiro volume de poemas

Premiado romancista e contista lança 'Labirinto com linha de pesca', seu primeiro volume de poemas


LOUIS SCUR CARRARD/DIVULGAÇÃO/JC
Igor Natusch
O que significa, no fim das contas, uma estreia na poesia? Dentre os tantos questionamentos despertados pelos poemas de Labirinto com linha de pesca (Diadorim, 96 págs., R$ 45,00), primeiro livro de Altair Martins no formato, surge a dúvida sobre a real natureza desse suposto ponto de partida. Afinal, o premiado autor de romances e contos pode ser tudo, menos um novato nas palavras - e a poesia, no caso dele, surge não como um novo caminho a percorrer, mas muito mais como um reencontro com a palavra que há tempos aguardava um espaço para surgir.
O que significa, no fim das contas, uma estreia na poesia? Dentre os tantos questionamentos despertados pelos poemas de Labirinto com linha de pesca (Diadorim, 96 págs., R$ 45,00), primeiro livro de Altair Martins no formato, surge a dúvida sobre a real natureza desse suposto ponto de partida. Afinal, o premiado autor de romances e contos pode ser tudo, menos um novato nas palavras - e a poesia, no caso dele, surge não como um novo caminho a percorrer, mas muito mais como um reencontro com a palavra que há tempos aguardava um espaço para surgir.
O lançamento do livro acontece nesta terça-feira (27), às 17h, com mediação da livreira e jornalista Nanni Rios, e pode ser acompanhado no Instagram da Livraria Baleia. A obra se encontra em pré-venda no site livrariabaleia.com.br.
A poesia, de fato, sempre esteve por perto. "Entrei para a faculdade de Letras da Ufrgs querendo ser poeta", conta Altair, que hoje também atua como docente da Escola de Humanidades da Pucrs. Como professor, ele leciona cadeiras ligadas à teoria da lírica, e tem uma coluna no jornal Nova Folha, de Guaíba (RS), na qual cria poemas a partir de fotografias do cotidiano.
Foi curador da exposição O que vemos, o que nos fala, na qual escreveu poesias para acompanhar obras do acervo da Pinacoteca Ruben Berta, em Porto Alegre. No livro Terra avulsa (2014), Altair já havia inserido uma série de poesias de sua autoria, dentro da história de um homem solitário que decide transformar o próprio apartamento em um país independente.
Levando tudo isso em conta, até que ponto é possível dizer que Labirinto com linha de pesca é a estreia do que quer que seja? "A gente vive em um mundo em que as pessoas fazem várias coisas. Entretanto, o rótulo está sempre presente. Eu faço teatro desde a adolescência, cheguei a ser aprovado para Artes Cênicas mas não pude cursar. Sempre fez parte da minha vida. Quando publiquei as primeiras peças, algumas resenhas diziam que eu estava me 'aventurando no teatro'", relembra o escritor, com um toque de ironia.
Mesmo a ideia de publicar um livro de poesias demorou a encontrar um espaço para prosperar. "Até algumas editoras, quando souberam que era poesia, nem olharam (os originais), porque só se interessavam pela minha prosa. Isso é meio triste. Percebi que, para lançar um livro de poesias, teria que ir por esse caminho, buscar uma editora local que conhecesse melhor a trajetória das pessoas daqui".
Um dos elementos mais marcantes em Labirinto com linha de pesca é a oralidade. Mesmo que não estejam amarrados a questões de rima e métrica, os versos trazem uma sonoridade que, muitas vezes, praticamente impõe a leitura em voz alta. "Costumo gravar a minha voz no telefone, em um número antigo que uso apenas para mensagens. Escrevo e preciso escutar, escuto e reescrevo, troco palavras, mexo na distribuição das estrofes. Faço isso para romances também, mas especialmente para a poesia. Uso o som como um guia", descreve Altair.
Em um livro que não deixa de ser um começo, ainda que unindo tantas pontas de uma trajetória, Altair Martins se permite falar bastante do cotidiano - não apenas como presença, mas como eixo central de vários poemas. "Esse é o desafio que eu gosto. É aquela coisa que perguntaram uma vez ao João Cabral de Melo Neto: "por que você não escreve sobre saudade?" E ele: "isso é golpe baixo, qualquer um escreve sobre saudade. Eu quero que se escreva sobre um copo d'água, uma pedra, um cacto'", menciona. Um contemporâneo que surge também na forma da tecnologia, do trabalho, dos compromissos, de edificações - uma presença que cerca o humano e exige dele algum tipo de reflexão ou posicionamento.
"Acho que há nesse livro, e também no próximo, uma coisa de mea-culpa do ser humano. De como a humanidade é imbecil, apesar do tanto que avançou, do quanto as pessoas não percebem que a máxima tecnologia não equivale ao voo de uma libélula, essas coisas", pondera. "Admiro muito Carlos Drummond de Andrade, por exemplo, que conseguiu, em cada década, ser contemporâneo daquele período específico. Acho que o meu esforço com esses temas é um pouco isso: tentar ser contemporâneo do meu tempo."
Uma contemporaneidade difícil para todos e todas nós, sem dúvida - mas que Altair Martins vai tentando transformar, sem descanso, em arte e literatura. A menção a um próximo livro no parágrafo anterior, aliás, nada tem de casual: o escritor produziu, durante os meses de pandemia, poemas mais que suficientes para um segundo volume, cujo título "ainda está um pouco confuso" e que aguarda o momento mais adequado para surgir. Um novo livro de contos também está em estado embrionário, e há o teatro: além de encenações para Hospital-bazar e Tango para homens velhos (que também deve virar livro em breve), está no horizonte a publicação da peça A nuvem vigilante. "É engraçado: escrevi essa peça em 2019, e um dos elementos principais dela é uma longa quarentena. É bem curioso como as coisas acabam acontecendo", sorri o autor.
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