Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Cultura

- Publicada em 21 de Abril de 2021 às 18:34

No disco de estreia, Ramones fez a revolução em três acordes

Lançado há 45 anos, primeiro álbum da banda norte-americana é um dos mais influentes da história do rock

Lançado há 45 anos, primeiro álbum da banda norte-americana é um dos mais influentes da história do rock


PLISMO/WIKIMEDIA COMMONS/DIVULGAÇÃO/JC
Igor Natusch
Nem toda revolução é complexa. Na verdade, virar as coisas de cabeça para baixo pode ser, muitas vezes, algo imensamente simples. Basta uma audição nos pouco mais de 29 minutos de Ramones, seminal álbum de estreia da banda homônima, para perceber que há de tudo nele, menos complicação. Ainda assim, o disco (lançado há 45 anos, mais precisamente em 23 de abril de 1976) fez muito mais do que dar contornos definitivos ao punk rock: de certo modo, a banda norte-americana reinventou o rock and roll, cristalizando seus elementos definidores de tal forma que, a partir dele, mostrou-se irreversível.
Nem toda revolução é complexa. Na verdade, virar as coisas de cabeça para baixo pode ser, muitas vezes, algo imensamente simples. Basta uma audição nos pouco mais de 29 minutos de Ramones, seminal álbum de estreia da banda homônima, para perceber que há de tudo nele, menos complicação. Ainda assim, o disco (lançado há 45 anos, mais precisamente em 23 de abril de 1976) fez muito mais do que dar contornos definitivos ao punk rock: de certo modo, a banda norte-americana reinventou o rock and roll, cristalizando seus elementos definidores de tal forma que, a partir dele, mostrou-se irreversível.
O quarteto vinha tocando em Nova York, nos Estados Unidos, desde a metade de 1974, quase sempre no palco estreito e baixo do CBGB - até então, uma casa de shows sem nenhum cartaz em uma região pouco badalada da cidade. A contracultura nova-iorquina, porém, vinha aos poucos adotando o East Village como refúgio, e os Ramones - Joey, Johnny, Dee Dee e Tommy - estavam no lugar certo, na hora certa, fazendo a coisa certa.
Mesmo que, talvez, nem estivessem tão seguros disso. No fundo, as pessoas gostavam da banda antes que os próprios músicos entendessem os motivos. É lendária a história de que, após uma das primeiras noites no CBGB, o músico Alan Vega, da banda Suicide, foi até Johnny Ramone elogiar a performance - e o guitarrista pensou que aquele cara dizendo que tinha adorado o show só poderia estar maluco.
O badalado Danny Fields, que já havia acompanhado grupos como The Doors e MC5, precisou insistir para que os quatro o aceitassem como empresário da banda; Craig Leon, que depois produziria o disco, fez por conta própria o esforço para que assinassem com a gravadora Sire.
Ramones, o álbum, justifica esses esforços todos. Tudo começa com os três acordes de Blitzkrieg bop, interrompidos de forma abrupta para o refrão mais simplório e inesquecível do rock: hey, ho, let's go! É um grito de guerra tão primário que é até difícil traduzir para português, mas não faz diferença: o que importa é que a coisa funciona, e muito.
Levando ao limite recursos utilizados pelos Beatles uma década antes, a mixagem coloca a guitarra de Johnny em um canto, o baixo de Dee Dee no outro, a voz de Joey (que, em maio deste ano, completaria 70 anos de nascimento) e a bateria de Tommy no centro. As músicas foram gravadas na exata ordem em que entraram no disco, e surgem quase sem intervalos, às vezes unidas por um singelo one-two-three-four. Tudo para dar ao disco um caráter de urgência, como se o rock e a vida não tivessem tempo a perder.
A genialidade do álbum está em tudo isso, claro, mas vai além. Seu grande mérito é conseguir reduzir o rock aos denominadores mais brutos, tirar dele tudo que é enfeite e deixar apenas o essencial - meio como desenhar um ser humano apenas com riscos e círculos e, ainda assim, fazer uma caricatura que qualquer um é capaz de compreender. E, mesmo assim (ou talvez justamente por causa disso) causar uma reação imediata.
Algumas letras, como I don't want to walk around with you ou Loudmouth, contam com apenas duas ou três frases; temas como violência contra crianças (Beat on the brat), prostituição masculina (53rd & 3rd) e espionagem internacional (Havanna affair) surgem com uma simplicidade à beira do primário e que, mesmo assim (ou por isso mesmo), torna-se difícil de esquecer.
A guitarra toca acordes sem qualquer intervalo, o baixo apenas dá a tônica, a bateria marca o ritmo como um martelo industrial. Uma obviedade que só faz sentido depois de ser revelada em disco: antes disso, ninguém poderia dizer que era mesmo tudo tão simples, que bastava isso para fazer rock n'roll. Uma vez revelada, a fórmula se torna evidente - e, é claro, qualquer um pode fazer.
A gravação foi feita em uma semana, custando pouco mais de US$ 6 mil, um valor irrisório para a época. A foto da capa, de autoria de Roberta Bayley e que virou padrão para bandas punk, foi decidida de última hora, e adquirida por pouco mais de US$ 100. Os singles não emplacaram nas paradas, os Ramones nunca ficaram ricos, e o LP que começou tudo isso só viraria disco de ouro nos EUA em 2014, quase 40 anos depois do lançamento.
Mesmo assim, é um dos álbuns mais influentes da história do rock. A quantidade de bandas que se formaram sob influência dos Ramones é incontável, e qualquer fã do estilo carrega um pouco dessa família disfuncional em seu DNA musical desde então.
Como qualquer bom mágico ficaria feliz de confirmar, os melhores truques só podem ser feitos uma única vez. Os Ramones tentaram bastante repetir a mágica de seu primeiro LP: às vezes (como em Rocket to Russia, de 1977) chegando bem perto, em outras (Road to ruin, de 1978, ou End of the century, de 1980) se distanciando um pouco mais da fórmula original.
Ainda assim, é possível dizer que Ramones é o único disco deles que realmente fez a diferença; mesmo se não tivessem feito absolutamente nada depois disso, o recado já estaria dado. Direto e reto, sem pedir licença e sem nada mais a acrescentar.
Conteúdo Publicitário
Leia também
Comentários CORRIGIR TEXTO