Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Cultura

- Publicada em 22 de Março de 2021 às 21:21

Ricardo Silvestrin aborda inquietações do presente em novo livro de poesias

Obra 'Carta aberta ao demônio' tem lançamento marcado para o dia 29 de março

Obra 'Carta aberta ao demônio' tem lançamento marcado para o dia 29 de março


CAROLINA SILVESTRIN/DIVULGAÇÃO/JC
Igor Natusch
"Assim como errar, o horror é humano." A frase de Ricardo Silvestrin serve como resumo bem amarrado das muitas inquietações que surgem da leitura de Carta aberta ao demônio (Libretos, 104 páginas, R$ 32,00), seu mais novo livro de poesias. Afinal de contas, vivemos um momento repleto de erros e horrores - e o diabo, mais do que artífice da desgraça, talvez não seja mais do que um espectador dessa obra coletiva profundamente humana. Difícil é saber se ele está contente com o que vê, ou quem sabe sente uma pitada de humilhação, arquétipo superado por aqueles que surgiu para representar.
"Assim como errar, o horror é humano." A frase de Ricardo Silvestrin serve como resumo bem amarrado das muitas inquietações que surgem da leitura de Carta aberta ao demônio (Libretos, 104 páginas, R$ 32,00), seu mais novo livro de poesias. Afinal de contas, vivemos um momento repleto de erros e horrores - e o diabo, mais do que artífice da desgraça, talvez não seja mais do que um espectador dessa obra coletiva profundamente humana. Difícil é saber se ele está contente com o que vê, ou quem sabe sente uma pitada de humilhação, arquétipo superado por aqueles que surgiu para representar.
Para dar conta das angústias e incertezas de um tempo distópico, Silvestrin reuniu 73 poemas inéditos, divididos em quatro blocos - Outro tempo, Outros cantos, Errata e Atribuído a mim. A obra, com edição e design de Clô Barcellos e ilustrações de Leo Silvestrin, terá lançamento no próximo dia 29, em uma live na Sala Libretos no YouTube e no Facebook. O evento terá as presenças de autor e ilustrador, com mediação do poeta Alexandre Brito.
A maior parte dos poemas desta Carta aberta ao demônio foram escritos no calor das chamas, por assim dizer: surgiram entre 2019 e os primeiros dias deste ano, de um caldeirão que envolve pandemia, desagregação social, conflito permanente e todo o resto. "Talvez uns 30% tenham sido resgatados dos últimos 10 anos, mais ou menos. São contemporâneos de livros anteriores, que ficaram para trás por alguma questão temática ou de afinidade com o conjunto. O restante é mais recente", explica Silvestrin ao Jornal do Comércio.
Embora o presente não seja, por óbvio, o tema obsessivo de todos os poemas, o sentimento que surge dos versos é sempre de atualidade - em uma dimensão que, por vezes, chega a ser incômoda. As palavras se unem, com uma sonoridade quase musical (o que não surpreende, levando em conta a vivência de Silvestrin como compositor), fazendo também uso de elementos polifônicos e doses generosas de ironia, agudeza e crítica. Além de, é claro, um toque de humor, porque o riso também faz parte do humano, mesmo em tempos que convidam ao medo acima de tudo.
Essa mão firme no pulso da realidade se manifesta com especial clareza nos poemas do eixo Outro tempo, como o que dá título ao livro. "Carta aberta ao demônio surgiu em um momento no qual todo mundo estava escrevendo cartas abertas, notas de repúdio, todo mundo fazendo um abaixo-assinado. Eu já aproveitei o momento e falei direto com o demônio", comenta Silvestrin, rindo e, ao mesmo tempo, falando bastante sério.
O caráter de resposta às inquietações do presente não é um conceito inédito na obra de Ricardo Silvestrin. Tanto na poesia quanto na prosa, em livros como Sobre o que, Play e Videogame do rei, essa extensão costuma estar clara na imaginação do escritor. "Mesmo nos meus primeiros livros, acho que esse diálogo está presente. Neste novo livro, essa questão acabou vindo um pouco mais para a frente, pela necessidade de dialogar com esse incômodo que atinge a todos. Mas são poemas, símbolos que continuam abertos e transcendem o agora. De repente eles podem conversar com o passado, também, por que não?"
Para lidar com o presente, Silvestrin segue criando. Além da literatura, há músicas novas surgindo - canções que aguardam a possibilidade de colocar na mesma sala os músicos necessários para as gravações. "Estão prontas, mas quero gravar com eles. Fico cantando elas para mim mesmo aqui em casa", brinca. "O lado que amedronta a todos amedronta a mim também. Estamos isolados, chamamos entregas de tudo aqui em casa, acompanhamos estarrecidos a lentidão na busca das soluções. Sinto falta do convívio com os colegas, de compartilhar a vida social e política. Tudo isso está sendo embotado. Mas a criação segue normalmente, meio que me acostumei a criar em momentos difíceis", acrescenta.
Um processo criativo que, em Carta aberta ao demônio, ganha também contornos de elaboração coletiva - a do próprio Silvestrin, enquanto escritor, e a de leitores e leitoras, convidados a ver a arte não como distração apaziguadora, mas como convite a colocar um dedo na ferida cotidiana. "O sonho, e aqui me refiro mesmo ao que acontece enquanto estamos dormindo, funciona como um processo de organização do inconsciente. A arte faz a mesma coisa, só que enquanto estamos acordados. É uma função do humano, que trabalha esse inconsciente geral - tanto do artista, quanto dos outros que projetam ali a sua necessidade de organizar seu universo de linguagem, de motivações, pulsões e tensões."
Conteúdo Publicitário
Leia também
Comentários CORRIGIR TEXTO