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Cultura

- Publicada em 25 de Janeiro de 2021 às 18:51

Rodrigo 'Esteban' Tavares tem dois álbuns para lançar em 2021

Compositor gaúcho fala sobre como o amadurecimento traz nova perspectiva para abordar sentimentos

Compositor gaúcho fala sobre como o amadurecimento traz nova perspectiva para abordar sentimentos


GUSTAVO VARA/DIVULGAÇÃO/JC
Roberta Requia
Para quem vive da música, estar perto dos fãs foi um conceito a ser reinterpretado nos últimos meses. O calor do público, os gritos que chegam ao palco e até mesmo as fotos na saída dos shows foram reinventados através das lives, das contribuições espontâneas e das redes sociais. Prestes a completar 39 anos, Rodrigo 'Esteban' Tavares, natural de Camaquã, conta que se fazer musicalmente presente e ativo virou uma questão de sobrevivência para músicos independentes durante a pandemia.
Para quem vive da música, estar perto dos fãs foi um conceito a ser reinterpretado nos últimos meses. O calor do público, os gritos que chegam ao palco e até mesmo as fotos na saída dos shows foram reinventados através das lives, das contribuições espontâneas e das redes sociais. Prestes a completar 39 anos, Rodrigo 'Esteban' Tavares, natural de Camaquã, conta que se fazer musicalmente presente e ativo virou uma questão de sobrevivência para músicos independentes durante a pandemia.
"A gente ressignifica o fator do público", conta Tavares, que também acrescenta a importância da fidelidade e da compreensão do público para continuar financeiramente ativo em São Paulo, cidade onde mora há 15 anos: "Se não fosse pelas lives, pela contribuição dos fãs, eu não teria conseguido me manter em São Paulo, e talvez nem mesmo em Porto Alegre", conta o compositor em entrevista ao Jornal do Comércio. "Sou um artista independente. A galera acha que a gente tem aquela poupança salvadora. A minha poupança durou 40 dias. Tive que aprender a me comunicar."
Mais do que nunca, Tavares ressalta que se reinventar e adaptar-se à indústria foi uma necessidade não apenas financeira, mas psicológica, que nasceu durante o período de isolamento. "Até do violão tu enche o saco uma hora. Tu vai criando uma certa resistência a coisas que fazem parte do teu dia há muito tempo, então daqui a pouco tu tá de saco cheio de tocar, tá com saco cheio de tudo. A gente tem que estar sempre procurando alguma coisa para não perder a lucidez", desabafa. Até as lives precisaram se diversificar depois de algum tempo.
Dois trabalhos diferentes estão na programação de lançamentos de Esteban neste ano. Por conta da pandemia e da necessidade de se fazer musicalmente ativo, um dos discos acabou sendo fragmentado em singles, que estão sendo lançados uma vez por mês nas plataformas de streaming: "A gente tem que se adaptar também à indústria. E hoje ela pede muito essa história do single. O artista que não produz, ele vai acabar sendo esquecido, principalmente nessa época volátil que a gente vive na internet".
O outro álbum deve ser lançado somente no final do ano, mas promete ser um trabalho inédito e sem spoilers nas plataformas: "Ainda sou romântico com a coisa do disco. Ainda tenho aquela coisa de 'vou lançar 13 músicas inéditas e deixar o pessoal ir descobrindo conforme ouve'. Me bateu uma saudade dessa parte romântica de compor um disco, depois gravar e dizer: 'É isso que vou lançar'. Tenho que fazer isso pra não entrar num tédio. É um trabalho dobrado, mas é isso que eu queria fazer".
O cabelo e a barba grisalhos ajudam a entender a mudança estética e pessoal pela qual o músico passou desde que deixou a banda Fresno, em 2012. O amadurecimento, que passa por experiências amorosas marcantes e processos psicológicos, reflete diretamente na maneira como ele se posiciona e como compõe suas músicas.
"Acho que aquela coisa do sexo, drogas e rock and roll, se eu pudesse voltar no tempo, diria que é a coisa mais besta e absurda do mundo. Nem vou entrar na questão do quanto isso faz mal, mas o quanto faz mal pros outros. Nunca fui muito ligado no que as pessoas pensavam de mim ou não, mas comecei a me ligar no exemplo que eu dava", comenta.
A antiga postura agressiva de roqueiro clássico já não faz mais sentido para seu atual pensamento: "Já tive muita voz pra adolescente e tem coisas que me arrependo de ter falado. Na época da Fresno, eu tava sempre fumando, daí tinha jovem de 16 anos na plateia fumando e eu pensava 'pelo amor de Deus, o que eu tô fazendo?'".
O que antes eram canções sobre traumas relacionados a términos e corações partidos, mudam aos poucos para uma maneira mais leve de rever essas situações. "Eu era um cara muito negativo, embora as pessoas amem esse lado negativo no meu tipo de composição, porque falo muito sobre relacionamento. Então, as pessoas que estão passando por um momento muito difícil adoram compartilhar aquele sofrimento", conta Tavares.
Ele também explica sobre como essas mudanças afetam sua maneira de enxergar as coisas, e entender como aquilo reflete tanto na sua composição como no receptor que consome seu trabalho: "De dois discos pra cá, e acho que eles culminam com a chegada dos meus 30 anos, mudou muito o meu jeito de pensar sobre isso e como enxergar a sociedade também. Sou um cara menos possessivo, e as minhas músicas lembram mais as pessoas do que pode acontecer de bom relacionado a isso, do que ficar remoendo as tristezas".
Ele brinca que para voltar a ter um aspecto jovem é fácil: basta comprar uma tinta de cabelo na farmácia, fazer a barba: "Pronto, voltei a ser o Tavares da Fresno". O músico finaliza: "Mas não é por aí. A questão é mais de como compreender as coisas, as pessoas. Então, envelhecer, para mim, nesse sentido, é uma dádiva. Por mais que seja harmonicamente bonito, mesmo que a arte seja feita de coisas tristes, hoje sei que ela também anda ao lado de coisas bonitas. Optei a - por mais que eu esteja falando sobre coisas tristes - ser mais positivo com o que tô escrevendo. Isso reflete muito na minha maneira de viver".
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