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Cultura

- Publicada em 20 de Janeiro de 2021 às 19:25

Obras de George Orwell passam a domínio público no aniversário de sua morte

Falecido há 71 anos, autor deixou livros que são alertas cada vez mais atuais sobre o totalitarismo

Falecido há 71 anos, autor deixou livros que são alertas cada vez mais atuais sobre o totalitarismo


ARTE/JC
Igor Natusch
Muita gente falou, em diferentes linguagens e estilos, sobre os horrores de um futuro distópico - mas poucos terão entrado de tal forma em nosso imaginário coletivo como George Orwell. O escritor e jornalista norte-americano (falecido há exatos 71 anos, em 21 de janeiro de 1950) nos fez entender tão bem as ameaças dos regimes totalitários (em especial na sua obra seminal 1984, de 1949) que virou até adjetivo: até mesmo na academia, o termo "orwelliano" é usado para descrever situações em que o pensamento autoritário limita ou inviabiliza as diferenças de pensamento.
Muita gente falou, em diferentes linguagens e estilos, sobre os horrores de um futuro distópico - mas poucos terão entrado de tal forma em nosso imaginário coletivo como George Orwell. O escritor e jornalista norte-americano (falecido há exatos 71 anos, em 21 de janeiro de 1950) nos fez entender tão bem as ameaças dos regimes totalitários (em especial na sua obra seminal 1984, de 1949) que virou até adjetivo: até mesmo na academia, o termo "orwelliano" é usado para descrever situações em que o pensamento autoritário limita ou inviabiliza as diferenças de pensamento.
Para quem ainda não teve contato com a literatura de Orwell, algumas opções estão chegando ao mercado. A Biblioteca Azul está lançando uma nova edição de 1984, com tradução de Bruno Gambarotto, apresentação de Rita von Hunty e artes de Matheus Santa Cruz. A Faro Editorial, por sua vez, traz o igualmente clássico A revolução dos bichos. As duas novas edições têm preço sugerido de R$ 34,90. Os lançamentos não chegam a ser coincidência: em janeiro, as obras do autor passaram a ser de domínio público em vários países, entre eles o Brasil.
O sobrenome que viraria termo descritivo do controle autoritário sobre a sociedade não veio de família: o escritor, na verdade, nasceu em 25 de junho de 1903 como Eric Arthur Blair, filho de britânicos que viviam onde hoje é a Índia. Sua infância, porém, foi vivida na Inglaterra, para onde sua mãe retornou quando ele tinha cerca de um ano de idade. Chegou a ter como professor o escritor Aldous Huxley - ele também autor de um clássico da distopia, Admirável mundo novo.
Apesar de ter cursado boas escolas, o jovem Eric não chegou a se formar na universidade: ao que parece, suas notas eram baixas, o que fez com que a perspectiva de uma bolsa de estudos se mostrasse inviável. Por algum tempo, buscou carreira na Polícia Imperial Indiana, servindo na colônia de Burma, hoje Myanmar.
A determinação de ser escritor, contudo, fez com que optasse por largar a vida de funcionário da Coroa Britânica e regressasse ao Reino Unido. Viveu nas áreas mais pobres de Londres, por iniciativa própria: inspirado pelo escritor norte-americano Jack London, considerava que era preciso conhecer a dureza da vida dos desassistidos para ampliar sua compreensão de mundo. Em 1928, mudou-se para Paris, onde começou a escrever de forma mais sistemática. Para sustentar-se, pedia ajuda ocasionalmente a uma tia, e também lavava pratos na cozinha de um hotel de luxo.
Essas experiências apareceriam em detalhes em seu primeiro livro, Na pior em Londres e Paris, publicado em 1933. Foi a publicação dessa obra que rendeu a criação de seu pseudônimo famoso: ele não queria usar o nome Blair na capa, pois temia embaraçar os pais, que pouco sabiam de sua vida de vagabundo dos anos anteriores. O próprio autor sugeriu quatro nomes fictícios aos editores, e pediu que eles escolhessem um. Poderia ter virado P.S. Burton, nome que de fato usou durante os anos de submundo, ou ter alcançado a fama como Kenneth Miles ou Lewis Allways; a escolha, no fim, acabou sendo por George Orwell - o que não desagradou o autor, que dizia gostar da sonoridade tipicamente britânica da combinação.
O olhar para os injustiçados do mundo seguiria com Orwell durante toda a vida, e foi o principal foco de seu trabalho durante décadas. Escreveu A caminho de Wigan (1936), sobre a dureza da vida de trabalhador no norte da Inglaterra, trabalho que aprofundou sua consciência política. Chegou a ir à Espanha, no final de 1936, para lutar contra o exército fascista de Francisco Franco na guerra civil que consumia o país. Ferido seriamente no pescoço, retornou à Inglaterra pouco mais de seis meses depois, passando a ser vigiado de perto pelas autoridades britânicas. Orwell narraria suas experiências na Guerra Civil Espanhola em Homenagem à Catalunha (1938).
Impedido de servir na Segunda Guerra Mundial pela tuberculose, Orwell trabalharia alguns anos na BBC e para jornais britânicos de esquerda, enquanto seguia escrevendo - mesmo que suas obras não fossem exatamente um estouro de público e crítica. A consagração com A revolução dos bichos veio de surpresa, em um período que coincidiu com o falecimento de sua esposa, Eileen O'Shaughnessy, vitimada pelo câncer. Consumido pelas doenças respiratórias, completar 1984 foi um grande esforço para o autor, e ele chegou a internar-se em um sanatório logo depois de concluir o trabalho. A obra foi aclamada, mas Orwell não viveu muito para saborear esse sucesso: depois de uma crise severa durante o natal de 1949, o escritor praticamente não saiu mais da cama, e acabou falecendo em decorrência de um sangramento no pulmão.
A força de sua escrita, de qualquer forma, permanece. George Orwell foi um escritor de ideias e princípios, que soube usar a literatura como uma forma poderosa de questionamento e, por que não dizer, desafio a toda forma de totalitarismo. Citado de forma seletiva por diferentes lados do espectro político, o próprio Orwell definia a si mesmo como um socialista democrático, e sua obra é um dos mais fortes testemunhos a favor do pensamento livre em toda a literatura.
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