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Cultura

- Publicada em 19 de Janeiro de 2021 às 20:53

Festival Verafro destaca vivência negra em cima dos palcos

Grupos de teatro Pretagô (foto) e Espiralar Encruza promovem apresentações e atividades formativas até março

Grupos de teatro Pretagô (foto) e Espiralar Encruza promovem apresentações e atividades formativas até março


ANELISE DE CARLI/DIVULGAÇÃO/JC
Igor Natusch
"Se estamos no apocalipse, é porque tudo que vem sendo construído até então não tem dado certo. Talvez seja a hora de a gente se abrir para discursos e vivências que nunca foram colocados em lugares de protagonismo e de decisão."
"Se estamos no apocalipse, é porque tudo que vem sendo construído até então não tem dado certo. Talvez seja a hora de a gente se abrir para discursos e vivências que nunca foram colocados em lugares de protagonismo e de decisão."
A fala do ator e realizador teatral Thiago Pirajira fala do mundo, é claro, mas também fala de arte. E é nesse sentimento de seguir em frente e, ao mesmo tempo, propor novas trilhas que se sustenta o Verão Afro Performativo Pretagô Espiralar Encruza (Verafro), projeto que, a partir desta quarta-feira (20) e pelos próximos três meses, trará uma intensa agenda voltada à cena teatral negra, com ampla oferta de atividades gratuitas em formato online. A live de lançamento ocorre às 20h, com os integrantes dos grupos Pretagô e Espiralar Encruza no Instagram Verafro (@projetoverafro).
Financiado pela Secretaria de Estado da Cultura do RS, Secretaria Especial da Cultura e Ministério do Turismo do Governo Federal, por meio da Lei Aldir Blanc, o evento trará apresentações, performances e leituras dramáticas, além de uma programação formativa com debates, oficinas e entrevistas. A programação nasce da união de dois grupos teatrais gaúchos, o Pretagô e o Espiralar Encruza - ambos constituídos por pessoas negras e voltados à busca de novos caminhos no universo das artes cênicas.
"Os dois grupos se unem não só pelo afeto e parceria entre os artistas, mas pelo desejo de pensar uma programação artística protagonizada por artistas negros", comenta Pirajira, ligado ao Pretagô e coordenador do Verafro. "Até para repensar um pouco o imaginário do próprio verão teatral em Porto Alegre. Temos eventos que acontecem historicamente nessa época do ano, mas quisemos fazer essa quase ousadia de promover um evento de vulto (no verão), protagonizado por artistas cênicos negros e negras."
As atividades vão até 13 de março, e detalhes da programação podem ser obtidos no Facebook. No dia 30 de março, deve ser lançado um documentário, produzido a partir das atividades do Verafro e que ficará disponível nas redes sociais dos organizadores.
Nascida da interação entre dois grupos marcados pela experimentação, não surpreende que a programação do Verafro proponha vários questionamentos a respeito da própria natureza da vivência teatral. "O que os dois grupos fazem não é somente teatro. O Pretagô, por exemplo, tem um aspecto musical muito presente, é um trabalho híbrido que beira o teatro e o show. Essa programação diversa, plural e múltipla é reflexo dos tantos e tantas que somos nesses dois grupos, dessas escolhas particulares do que fazer dentro da arte", comenta Pirajira.
Uma disposição que se vê especialmente desafiada, em tempos nos quais a pandemia tirou de artista e público a possibilidade de interação no mesmo ambiente. "Apesar das flexibilizações promovidas pelos governos, a gente entende como fundamental manter a nossa saúde e a dos espectadores. Isso nos leva a pensar, por exemplo, em como transportar uma oficina marcada pelo físico, pelo encontro de todos em uma mesma sala, para a tela de um computador."
A resposta, segundo o realizador, está na incorporação e criação de novos repertórios. "Teremos uma oficina formativa (Criação performativa Relaxamento Afro) cujo resultado seria uma performance em grandes vias da cidade. Isso, hoje, é impossível de ser realizado. Chegamos, a partir da observação da experiência on-line, a uma alternativa de fazer as pessoas produzirem fotos de si mesmas em situações de relaxamento, que a gente vai imprimir como lambe e colar, como intervenção visual, em diferentes espaços da cidade. São jeitos imaginativos de criar uma experiência visual e sensorial capaz de atingir os espectadores", explica.
Além de manter as artes cênicas vivas no cotidiano de quem aprecia o teatro, o Verafro também tem o papel de gerar renda para os profissionais do setor, em uma equipe formada majoritariamente por mulheres negras. Tudo isso dentro do espírito citado no começo, de colocar o artista negro no centro do palco, explorando tudo que isso pode trazer de instigante e renovador.
"A pandemia traz toda essa tragédia sanitária que estamos vivendo, mas acho que ela também está nos exigindo repensar os nossos modos de fazer", diz Pirajira. "As artes cênicas são constituídas a partir de um know-how específico de criação, sedimentado em um modelo-herança europeu, e o Verafro discute - porque os grupos que constituem o festival discutem em suas práticas - outros modos além da herança colonial. (O Verafro propõe) um deslocamento do olhar artístico para corpos jovens e negros, em um País que mata um jovem negro a cada 23 minutos. Quando a gente propõe uma programação potente protagonizada por jovens negros, a gente está trazendo, simbolicamente, uma narrativa de vida para esses corpos e para a experiência de ser negro no Brasil."
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