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Cultura

- Publicada em 10 de Janeiro de 2021 às 14:49

Incertezas da vida contemporânea inspiram artistas em performance na natureza

Klein escolheu Alberto Caeiro, guardador de rebanhos, para criar uma das figuras poéticas

Klein escolheu Alberto Caeiro, guardador de rebanhos, para criar uma das figuras poéticas


Fabiano Menna/divulgação JC
Adriana Lampert
Construir uma rede de imagens e interpretações, composta por múltiplos olhares e diferentes formas de apresentação em meio à natureza, explorando os limites do corpo. Foi com este propósito que os artistas gaúchos Fabiano Menna e Jairo Klein criaram a performance Poesia do Fio ou Rebanho Poético, em meio à pandemia de Covid-19.
Construir uma rede de imagens e interpretações, composta por múltiplos olhares e diferentes formas de apresentação em meio à natureza, explorando os limites do corpo. Foi com este propósito que os artistas gaúchos Fabiano Menna e Jairo Klein criaram a performance Poesia do Fio ou Rebanho Poético, em meio à pandemia de Covid-19.
Isolada em um sítio localizado no município de Extrema, em Minas Gerais, a dupla reflete a relação da arte com a natureza, inspirada nas incertezas da vida contemporânea, sob a consultoria do doutor em Semiótica e Linguística Geral, Clécio Torres.
"Estamos pulsando para fazer algo, e ter a natureza à nossa volta e a presença de um ator com o porte do Jairo Klein nos levou a explorar o corpo em movimento em sintonia com tudo onde é possível ver poesia: uma árvore, uma flor, um pássaro", descreve o diretor de arte, Fabiano Menna. "Pensamos nestes elementos todos para criar algo livre e espontâneo, sem preocupação com a crítica."
Contracenando com a natureza, Klein vem desenvolvendo uma série de performances aliadas à paisagem bucólica, que conta com estradas de terra e montanhas, localizada há uma hora e meia de São Paulo. "Neste momento de pandemia, a questão do isolamento nos chamou a apurar o olhar para nosso entorno repleto de bichos, água, e campos com vista para o horizonte", justifica Menna. Trabalhar as possibilidades do corpo e da mente em um lugar aberto (no quintal da casa do diretor de arte) tem sido um processo de meditação sobre a solitude, apontam os artistas.
"Pretendemos unir diversas imagens e criar um documentário", adianta Klein. Reconhecido principalmente por sua pesquisa de 30 anos sobre a obra de Fernando Pessoa, o ator, radicado em Porto Alegre, trabalha com diversos diretores da cena gaúcha, além de interpretar o poeta português no Brasil e exterior. Valendo-se de um dos seus personagens, o guardador de rebanhos Alberto Caeiro (heterônimo de Fernando Pessoa), Klein superou o medo para contracenar com um grupo de vacas, que costumam pastar no entorno do sítio onde está hospedado há algumas semanas.
"Foi muito emocionante, senti uma energia tão forte que o medo (de ser atacado por assustar uma delas) foi passando, e quando percebi o rebanho veio atrás de mim, como se eu fosse mesmo um guardador da alma e do alimento deles - tudo foi surgindo de forma espontânea."
A dupla de artistas também investiu em cenas com fogo, cachoeiras e pedras. "Eu e Jairo já nos conhecemos há 30 anos, e a interpretação dele sempre me inspirou, por ser visceral", comenta Menna. Radicado em São Paulo há 20 anos, o diretor de arte também é figurinista e ator, e realizou diversos desfiles performáticos em Porto Alegre, nos anos 1990, com destaque para A Credencial Pro Sexo, um colar feito com plástico e preservativos, onde a ordem era - em caso de urgência - romper a embalagem e "usar a camisinha".
Segundo ele, o trabalho atual é resultado de uma pesquisa artística de imersão, inspirada em Land Art, Marina Abramovic, Walter de Maria, Bispo do Rosário e a relação da arte com a natureza, explorando os limites do corpo e as possibilidades da mente (o artista presente).
"As ações surgem com a movimentação do corpo do artista, com a música e com o espaço, ocupando a cena", explica. "Este lugar escolhido é parte das ações, incorporações, diálogos e atravessamentos com a paisagem. A relação da arte com a natureza, tendo a própria natureza como fundamento."
Com uma câmera de celular e a abertura para uma associação de surpresas, o diretor de arte afirma que está muito satisfeito com os resultados. "A natureza vai se mostrando de acordo com o que a gente está fazendo - aparecem pássaros, vacas, tudo pode acontecer, até uma chuva pode chegar de repente. Estamos aproveitando para criar em meio à camada atmosférica que nos envolve, e estamos tendo um lindo retorno."
"A ideia é mostrar para as pessoas que, apesar do atual contexto, podemos viver com positividade, alegria, mas sempre com espaço para a reflexão", reforça Klein. "Queremos que as pessoas reflitam e possam tirar pelo menos uma única palavra disso tudo. É um trabalho bem espiritual, feito através de um processo bastante intuitivo, sem nada ensaiado. Tem momentos que parecem que estamos em um conto bíblico."
Confira o vídeo com uma das performances.
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