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Cultura

- Publicada em 27 de Dezembro de 2020 às 19:35

Secretário Luciano Alabarse faz balanço de quatro anos em Porto Alegre

Em entrevista, diretor teatral fala sobre pendências, realizações e pandemia na Capital

Em entrevista, diretor teatral fala sobre pendências, realizações e pandemia na Capital


CESAR LOPES/PMPA/JC
Igor Natusch
Depois de quatro anos à frente da Secretaria Municipal da Cultura de Porto Alegre, Luciano Alabarse vive uma espécie particular de volta ao normal. O secretário, que deixa o cargo nos primeiros dias de janeiro, falou com o Jornal do Comércio no dia seguinte de sua primeira reunião com a equipe de transição. Foi, segundo ele, uma conversa "fraterna e cordial", antecipando um processo tranquilo de passagem de bastão - mudança bem-vinda após um 2020 marcado pelas muitas tensões trazidas pela pandemia da Covid-19.
Depois de quatro anos à frente da Secretaria Municipal da Cultura de Porto Alegre, Luciano Alabarse vive uma espécie particular de volta ao normal. O secretário, que deixa o cargo nos primeiros dias de janeiro, falou com o Jornal do Comércio no dia seguinte de sua primeira reunião com a equipe de transição. Foi, segundo ele, uma conversa "fraterna e cordial", antecipando um processo tranquilo de passagem de bastão - mudança bem-vinda após um 2020 marcado pelas muitas tensões trazidas pela pandemia da Covid-19.
Durante a conversa telefônica, Alabarse comemorou a realização de eventos como o Réveillon do ano passado e as quatro edições da Semana de Porto Alegre, além da inauguração de dois espaços culturais na Restinga e a realização de oficinas de Carnaval com todas as escolas do grupo Ouro e Prata. Antes de aproveitar as férias, porém, a pasta ainda tem uma grande pendência: pagar todos os valores disponibilizados a projetos artísticos locais via Lei Aldir Blanc, já que a legislação expira no fim de dezembro e não será renovada para o ano que está por vir.
Jornal do Comércio - O último ano de sua gestão foi, como tudo, fortemente atingido pela pandemia. De que modo a secretaria lidou com essa situação?
Luciano Alabarse - Penso que, diante de tudo que envolve a pandemia, a gente (setor da cultura) precisou se reinventar como nunca. Na verdade, para a secretaria foi um ano atípico, mas de muito trabalho. No começo, pensando como público, eu tinha um pouco de estranhamento com lives, confesso. Mas na medida em que isso foi sendo assimilado, fomos todos aprendendo a fazer melhor uso desses recursos. Tudo que foi possível manter como evento virtual, foi feito. Ontem mesmo (a entrevista foi feita dia 18/12) tivemos a entrega do Açorianos de Literatura, toda virtual, mas aconteceu. Agora, não é possível pensarmos em aglomeração, os números recentes da pandemia mostram isso. O Réveillon de 2019 na Orla do Guaíba foi um sucesso, mas não posso pensar em fazer um evento que reúna 170 mil pessoas, grudadas umas nas outras, em um momento como este. Seria irracional. A vacina está chegando, a esperança de novos e melhores dias está próxima, mas não é possível que o poder público chancele tais eventos (com aglomeração).
No âmbito da secretaria, nos voltamos para o atendimento da Lei Aldir Blanc, que foi um respiro importante para o setor cultural. Estamos trabalhando em regime alucinado para cumprir os prazos (dos pagamentos), porque a lei não vai ser prorrogada. A secretaria lançou dois editais emergenciais para Porto Alegre, e desde abril estamos fazendo uma campanha regular de distribuição de cestas básicas (para profissionais da cultura). Hoje, estamos em cerca de 70% dos pagamentos (da Lei Aldir Blanc) realizados. É uma corrida, mas estamos orgulhosos de ter construído soluções, em um tempo muito curto e em parceria com as entidades do setor.
JC - Uma das medidas de maior abrangência da sua gestão se refere às contratualizações de espaços culturais. A medida, porém, teve resistência do setor cultural e, no fim das contas, apenas o contrato com o Auditório Araújo Vianna foi assinado, com a reforma do Teatro de Câmara Tulio Piva como contrapartida. O teatro, porém, segue fechado.
Alabarse - Se não fosse a pandemia, o teatro já teria sido entregue à cidade e estaria funcionando normalmente, oferecido prioritariamente à classe cultural local. Mas virou tudo de cabeça para baixo: o Araújo foi fechado, as obras no Teatro de Câmara foram interrompidas... Qualquer tentativa de ter um organograma foi para o espaço. O Araújo estava aberto, chegou a acontecer o show de reabertura com o Nando Reis, quando os efeitos da pandemia voltaram a ser muito preocupantes. Neste momento, estão sendo avaliadas as condições para que o Araújo Vianna volte a funcionar. Mesmo porque a Opinião Produtora, sem poder usar o espaço e sem o fluxo de caixa esperado, pediu - muito compreensivelmente - que os prazos fossem congelados até que os shows pudessem voltar a ocorrer. E a Procuradoria-Geral do Município aceitou esse argumento.
JC - E os outros espaços que seriam contratualizados? Falou-se na Pinacoteca Ruben Berta, na Cinemateca Capitólio...
Alabarse - As outras contratualizações, justamente em função da pandemia, foram arquivadas. Tanto a Pinacoteca quanto a Capitólio não andaram, e nem poderiam andar. Como podemos lançar um edital sem poder oferecer minimamente qualquer garantia de que o local estará aberto, de que a entidade parceira poderá explorar o espaço? Ou seja, por enquanto estão emperradas, e vai depender do olhar do novo governo se vão dar seguimento ou não.
JC - O senhor colocava como questão de honra zerar as dívidas e reativar o Fumproarte. Em que pé está isso? O novo secretário estará em condições de abrir novos editais?
Alabarse - Quando chegamos, há quatro anos, o Fumproarte tinha quase 50 projetos aprovados e não pagos desde 2013. Ouvi à época gente dizendo "esquece, não foi tu quem fizeste essas dívidas", mas não posso fazer isso, seria um absurdo. Foi uma decisão minha de pagar todos os projetos pendentes, usando os recursos até então destinados à abertura de novos editais. E foi muito legal ver produtos lançados com o selo do Fumproarte, como o documentário Zoravia (de Henrique de Freitas Lima), ou o novo trabaho da Adriana Deffenti (Controversa). Se não tivéssemos quitado essas dívidas, essas produções nunca teriam sido lançadas. Terminamos esse governo com zero reais de dívida, conseguimos pagar todos os projetos pendentes. Agora, se pode começar a abrir novos editais regularmente.
JC - Outro retorno esperado era o da Usina do Gasômetro. O último prazo de entrega era para março de 2021, mas, ao que parece, não será cumprido. Há perspectiva de entrega?
Alabarse - (É preciso lembrar que) o projeto original era maravilhoso, mas completamente incompatível: custava R$ 40 milhões, quando os recursos disponibilizados pela CAF eram de R$ 11 milhões. O então secretário (de Planejamento e Gestão, José Alfredo) Parode me disse "Luciano, não podes dar a ordem de início, porque não temos o dinheiro, a obra custa três vezes mais do que o recurso disponível". Não estou culpando ninguém por isso, mas não impuseram limites financeiros, deixaram a empresa de arquitetura que ganhou a licitação fazer o que bem quis. Passamos a primeira parte de governo readequando, o que impactava em questões estruturais, elétricas, enfim, tudo que um projeto desse porte acarreta e que foi sendo solucionado ao longo do tempo. Estamos agora com uma empresa executando esse novo projeto, terminamos de acertar um aditivo financeiro para atender necessidades que surgiram. Não está parada, quem entra na Usina já consegue ver as melhorias. Estamos lidando com a CAF para a prorrogação do prazo, em decorrência da pandemia, quando tudo ficou em câmera lenta.
JC - Depois de quatro anos à frente da pasta, qual é o sentimento de deixá-la para trás? E o futuro?
Alabarse - Tenho construído uma vida dentro do universo cultural de Porto Alegre, nada que pertence a esse universo me é estranho, e a vontade sempre foi de fortalecer o calendário cultural da cidade em todas as suas dimensões. A demanda da área é sempre maior do que a nossa capacidade de atender, mas fico com a certeza de que realmente tentei fazer o melhor. Encerramos esse ciclo abrindo todas as portas para a nova equipe, e acredito que entregamos uma secretaria factível para quem chegar. Agora, estou com muita vontade de tirar férias (risos) e logo volto à minha carreira como diretor de teatro, que é o que eu sou, acima de tudo.
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