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Cultura

- Publicada em 15 de Dezembro de 2020 às 21:55

Glau Barros celebra 50 anos de vida e reconhecimento no samba gaúcho

Cantora vive atualmente um momento de conquistas e (re)começos

Cantora vive atualmente um momento de conquistas e (re)começos


LUIS FERREIRA/DIVULGAÇÃO/JC
Igor Natusch
No próximo sábado, 19 de dezembro, a cantora gaúcha Glau Barros completa 50 anos de vida. Nessa trajetória, três décadas inteiras foram dedicadas à música. Ainda assim, o momento que ela vive em sua carreira tem sabores de novidade, no plural.
No próximo sábado, 19 de dezembro, a cantora gaúcha Glau Barros completa 50 anos de vida. Nessa trajetória, três décadas inteiras foram dedicadas à música. Ainda assim, o momento que ela vive em sua carreira tem sabores de novidade, no plural.
Lançado no ano passado, o álbum de estreia Brasil quilombo ganhou recentemente duas honrarias no Prêmio Açorianos 2020: além de escolhido como Disco do Ano, rendeu à cantora o título de Revelação da música local. Um reconhecimento que pode causar estranhamento, aplicado a alguém com tanta estrada, mas que acaba sendo simbólico dos muitos (re)começos que envolvem o desafio de ser uma mulher negra trabalhando com música no Brasil.
"Fiquei um pouco surpresa com a indicação", admite a própria Glau Barros, em conversa telefônica com o Jornal do Comércio. "Acredito que tenha a ver com a estreia em CD, eu não tinha nada gravado e foi meu primeiro trabalho autoral. Mas estamos todos muito contentes, porque se trata de um trabalho independente, feito a partir de financiamento coletivo, então teve a aposta de muita gente para concretizar esse trabalho. Desde compositores, músicos e equipe técnica, até as pessoas que nos ajudaram a financiar todo o projeto", enumera.
Qualquer um que escute Brasil quilombo vai entender o quanto há de novidade e, ao mesmo tempo, de experiência no trabalho. Unindo composições de diferentes gerações, o repertório foi sendo polido por Glau durante quatro anos, ganhando ares de um grande painel do samba gaúcho. "A maioria (das músicas do disco) é de pessoas que eu já vinha cantando a obra, que eu conheço e que me conhecem. Eu fui conhecendo o repertório bem antes (de entrar no estúdio) e pensando o trabalho como um todo, levando em conta o visual também, a estética. Acho que esse cuidado todo nosso resultou nas indicações, e para nós isso já era um prêmio."
A viagem de Brasil quilombo acabou, é claro, sendo prejudicada pela pandemia do novo coronavírus. "Esse ano era para trabalhar o CD, viajar para o interior do Estado e para fora também, em especial no final deste ano", lamenta. Como nada disso foi possível do modo que estamos acostumados, o jeito foi casar o repertório de Brasil quilombo com as apresentações temáticas que Glau Barros também faz, voltadas a nomes emblemáticos da MPB. "Procuramos juntar as duas coisas e fazer virtualmente, a partir das lives, sempre divulgando o trabalho (autoral) misturado com clássicos mais conhecidos das pessoas", explica.
Se o disco de estreia fez dela uma revelação, mesmo depois de décadas nos palcos da vida, nada mais natural que usar o empurrão desse sucesso para dar ritmo aos sambas que virão. Enquanto falava com a reportagem, Glau Barros estava em estúdio, para gravar as guias em Mais um porre, primeira canção de um projeto ao lado do compositor Edison Guerreiro. A canção deve contar também com cantoras de choro, além de participações da rapper Negra Li e do duo 5o Tons de Pretas. "É uma mulherada", ri.
A ideia é gravar quatro singles, todos acompanhados de vídeos - no caso de Mais um porre, a captação de imagens está prevista para janeiro, com o lançamento acontecendo em fevereiro do ano que vem. "É para ser um carnaval da pandemia, para o pessoal curtir em casa. Já que não vai ter carnaval na rua, bota o videoclipe no YouTube e se diverte", ri a cantora, ela já se divertindo também.
E o novo trabalho? Afinal, depois de concretizar um sonho, nada mais natural do que a sonhadora em questão passar a desejar novos voos. "Fico inquieta (para um novo disco), mas essa parada (da pandemia) foi um tempo de adaptação em tudo, inclusive na vida pessoal", explica. "Tenho duas filhas, precisei mudar muitos aspectos da vida e ainda não consegui fazer isso (pensar um novo álbum) em paralelo. "Mas muita coisa ficou fora do Brasil quilombo, muitos compositores e compositoras aqui do Sul que eu gostaria de gravar. Vejo essa possibilidade, apenas não engatei nada ainda. Mas, é claro, sempre nessa linha de trazer nossas vozes, as compositoras mulheres, as mulheres negras. Nosso samba que fala sobre a nossa raiz, as nossas lutas, as nossas narrativas."
Uma trilha que pode ser longa, como a própria Glau Barros exemplifica, mas que sempre se renova em descobertas. "Talvez eu pudesse ter tido esse êxito antes, mas penso nas tantas coisas de que não pude abrir mão para fazer arte, sabe? Esse é um reflexo das poucas oportunidades que temos no Brasil", reflete. "Ter tranquilidade para trabalhar a minha arte em um país racista, machista, com tantos problemas estruturais, alcançar esse êxito como mulher preta na arte, tudo isso é um privilégio. Acredito que muita gente vai se enxergar nesses êxitos e compreender que também pode chegar nesses lugares, estar nesses espaços. Esse sentimento de poder encorajar outras pessoas me deixa mais plena."
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