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Memória

- Publicada em 08 de Dezembro de 2020 às 19:54

Eventos marcam o centenário de nascimento de Clarice Lispector

Estilo denso e intimista fez da escritora um dos principais nomes da literatura brasileira em todos os tempos

Estilo denso e intimista fez da escritora um dos principais nomes da literatura brasileira em todos os tempos


/CLAUDIA ANDUJAR/DIVULGAÇÃO/JC
A própria Clarice Lispector sempre viu o fato de ter nascido em Chechelnik, na Ucrânia, como pouco mais que uma casualidade. De fato, Chaya Pinkhasovna Lispector existiu durante muito pouco tempo: filha de judeus russos que fugiam do antissemitismo, ela embarcou para o Brasil com menos de dois meses e, tão logo chegaram no País, toda a família assumiu nomes da língua portuguesa. Ela mesma dizia que, na Ucrânia, literalmente nunca tinha pisado - afinal, era um bebê de colo durante o curto período em que lá esteve.
A própria Clarice Lispector sempre viu o fato de ter nascido em Chechelnik, na Ucrânia, como pouco mais que uma casualidade. De fato, Chaya Pinkhasovna Lispector existiu durante muito pouco tempo: filha de judeus russos que fugiam do antissemitismo, ela embarcou para o Brasil com menos de dois meses e, tão logo chegaram no País, toda a família assumiu nomes da língua portuguesa. Ela mesma dizia que, na Ucrânia, literalmente nunca tinha pisado - afinal, era um bebê de colo durante o curto período em que lá esteve.
Ainda assim, a data de 10 de dezembro de 1920 tem um significado imenso. Nesta quinta-feira (10), completam-se os cem anos de nascimento de uma das maiores escritoras brasileiras de todos os tempos, autora de obras que mexeram com o que entendemos por literatura e que são festejadas até hoje, em diferentes lugares do mundo.
Não é à toa que a escritora italiana Elena Ferrante, uma das mais badaladas autoras da atualidade, recentemente listou A paixão segundo G.H. (1964) como um de seus livros favoritos, ou que a escritora e crítica literária Hélène Cixous diga que o caráter denso dos escritos de Clarice só encontra paralelo no também judeu Franz Kafka.
Com uma escrita marcada pelos fluxos de consciência e pelo caráter intimista, Clarice foi capaz de levar a literatura a questionar os próprios cânones. É possível até perguntar, com um toque de ousadia, se obras como Perto do coração selvagem (1943), O lustre (1946) ou A hora da estrela (1977) têm, de fato, um enredo propriamente dito: nelas, o olhar mergulha no âmago das personagens de tal forma que, de certo modo, passam a falar de nossos próprios monólogos interiores, do insondável que carregamos e que, por vezes, nem nós mesmos estamos muito à vontade para observar.
Além da literatura que virou de cabeça para baixo o cenário marcado pelo regionalismo dos anos 1940, Clarice também moveu-se com maestria por espaços tão variados quanto a crônica, o conto e a literatura infantojuvenil. Elípticas e fragmentadas, as narrativas da autora amarram pontas que talvez nem existissem, mesmo sem um início óbvio ou um fim perceptível - uma situação que, curiosamente, também dialoga com a vida da escritora e o seu fim. Faleceu em 9 de dezembro de 1977, um dia antes de completar 57 anos, vitimada por um câncer de ovário - de tal forma que as celebrações de seu nascimento sempre dialogarão, de um modo ou outro, com o momento de sua partida.

Lançamentos e estreias celebram aniversário da autora

Uma série de iniciativas estão planejadas para comemorar o centenário de Clarice Lispector. Entre elas, está o lançamento de um site bilíngue, em português e inglês, pelo Instituto Moreira Salles, que deve entrar no ar exatamente no dia do centenário. O espaço virtual terá fotos, manuscritos, áudios, vídeos, cartas, aulas e textos críticos, boa parte deles retirados diretamente do acervo da autora, que está sob guarda do instituto desde 2004.
A ideia é que o site atenda não apenas o grande público, mas também acadêmicos e pesquisadores interessados em mergulhar mais fundo no legado de Clarice. Estarão disponíveis itens como cadernos da escritora, até então inéditos, e manuscritos de obras como A hora da estrela e Um sopro de vida. Para julho de 2021, o Instituto Moreira Salles projeta a abertura da exposição Constelação Clarice, originalmente agendada para este ano e adiada em decorrência da pandemia do novo coronavírus.
Porto Alegre também entrará nas celebrações. Nesta quinta-feira (10), às 19h, a Secretaria Municipal da Cultura (SMC) promove o evento online Clarice Lispector - 100 anos. A atriz Sandra Possani vai recitar trechos de contos e romances da autora, selecionados pelo secretário de Cultura Luciano Alabarse. As leituras serão intercaladas por números musicais de Júlia Reis e comentários da pesquisadora Debora Matter. O evento acontece no Teatro Renascença, com transmissão pelo canal da Coordenação de Artes Cênicas da SMC no YouTube.
O CHC Santa Casa vai transmitir dois eventos ligados ao centenário da emblemática escritora. Nesta quarta-feira (9), às 19h, acontece o sarau-debate Clarice Lispector, mãe da humanidade. Na quinta-feira (10), dia do aniversário da autora, às 20h, vai ao ar a peça teatral O olhar de Clarice, com direção de Bob Bahlis e trazendo a atriz Karine Rodrigues, cega de nascença, no papel da escritora. As duas atividades são gratuitas e podem ser conferidas no canal de YouTube do espaço cultural.
A quinta-feira (10) também terá o lançamento do livro Marias & Clarice, sétimo volume da oficina literária Santa Sede e dedicado aos textos de cronista produzidos por Lispector. A partir de epigrafes contidas nos textos da escritora, 15 mulheres produziram textos que transportam os dilemas e reflexões de Clarice para a atualidade. O evento acontece em live aberta na página da Santa Sede no Facebook, e cópias do livro (R$ 35,00, mais frete de R$ 5,00 para quem desejar receber em casa) podem ser encomendadas via [email protected].