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literatura

- Publicada em 16 de Novembro de 2020 às 17:35

'Ser negro no Brasil é resistir todos os dias', afirma professor Paulo Sergio Gonçalves

Doutorando em Letras é coordenador do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da Estácio/RS

Doutorando em Letras é coordenador do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da Estácio/RS


JOYCE ROCHA/JC
Mais do que apenas distrair, a literatura informa, comunica, instrui e educa. Nesta semana, em celebração do Mês da Consciência Negra, o doutorando em Letras Paulo Sergio Gonçalves além de conceder entrevista ao Jornal do Comércio, indica seis livros para se ler não só no dia 20 de novembro, o Dia Nacional da Consciência Negra.
Mais do que apenas distrair, a literatura informa, comunica, instrui e educa. Nesta semana, em celebração do Mês da Consciência Negra, o doutorando em Letras Paulo Sergio Gonçalves além de conceder entrevista ao Jornal do Comércio, indica seis livros para se ler não só no dia 20 de novembro, o Dia Nacional da Consciência Negra.
Para o professor, a literatura sempre teve um papel importante na luta antirracista: "Se não fosse a literatura, como poderíamos entender o que uma mulher negra passa dentro de uma sociedade totalmente machista e racista? Ou seja, a literatura é a voz conquistada. Não digo a voz dada porque soa um tanto quanto colonialista, é realmente a voz conquistada, pelas vivências e pela resistência, escrever é resistir, é deixar legado", comenta Gonçalves.
Ex-policial militar e professor na faculdade Estácio desde fevereiro de 2019, ele acredita na importância de Núcleos de Estudos Afro-brasileiros (Neab) nas universidades e no quanto esses debates devem ganhar força para tomarem espaços além do meio acadêmico: "As discussões de um Neab não devem permanecer apenas nas reuniões, formando, assim, pequenos guetos de conhecimento, isto deve ser materializado de forma científica. O problema hoje, no tocante ao cerne de sua pergunta é que nos confinam apenas em eventos e locais onde se fala sobre consciência negra ou em grupos de estudos. Queremos e vamos ter voz em todas as instâncias, e isso já está acontecendo", opina o professor.
Dentre os seis títulos indicados, ele destaca a obra de Abdias Nascimento, O Genocídio do Negro Brasileiro, obra que nasceu após um texto do autor ser recusado no 2º Festival Mundial de Artes e Culturas Negras e Africanas, na Nigéria em 1977. O artigo tinha o título Democracia no Brasil: Mito ou realidade, e falava sobre o mito da democracia racial no País. "Ler Abdias Nascimento é imprescindível para qualquer negro ou negra que deseje saber um pouco mais sobre a condição do negro no Brasil. A partir deste fato Abdias escreve e retrata no seu livro, algumas percepções acerca da recusa e os motivos obscuros que levaram seu texto a não ser aceito. Em suma, este livro nos leva a entender e enxergar que, embora tenha sido escrito em 1977, suas páginas soam muito atuais, quando percebemos a força estrondosa que nosso país ainda faz para parecer um país democraticamente racializado", comenta Gonçalves.
Ele também alerta para obras que perpetuam o estigma da democracia racial no Brasil, onde se acredita que o negro seja aceito em todas as esferas raciais do País: "Podemos entender que tanto a colonização quanto a democracia racial influenciam fortemente ao sentimento racista do brasileiro, até porque, na memória histórica ou melhor dizendo, no inconsciente coletivo, o negro ainda é visto como menos inteligente, incapaz e inferior. Ser negro no Brasil é resistir todos os dias".

Confira as indicações de leitura sobre a questão da negritude no Brasil

  • O Genocídio do Negro Brasileiro - Abdias Nascimento: O autor foi uma das mais destacadas vozes na luta pelos direitos dos negros no Brasil., fundou o Teatro Experimental do Negro e teve uma carreira brilhante na academia. O livro desmascara o mito da democracia racial por meio de artigos apresentados para um congresso na Nigéria.
  • Tornar-se negro - Neusa Santos Souza: A psicanalista Neusa Santos Souza escreve esta obra sobre a questão racial no Brasil onde nos apresenta um estudo teórico, com relatos de sua vivência, a respeito da vida emocional do negro no País. A obra trata de questões tais como a auto rejeição do negro nos sentimentos de inferioridade e nas convenções de beleza exterior.

  • Dossiê Mulheres Negras: retrato das condições de vida das mulheres negras no Brasil - Mariana Mazzini Marcondes, Luana Pinheiro, Cristina Queiroz, Ana Carolina Querino e Danielle Valverde: Obra que traz artigos que tratam da condição de vida da mulher negra em nosso País num projeto idealizado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).

  • A integração do negro na sociedade de classes - Florestan Fernandes: A obra é a tese de doutorado de Florestan e é considerada a tese mais famosa já defendida na USP. O livro traz uma abordagem que representa uma virada histórica na imagem que o Brasil apresentava de si próprio, ou seja, Florestan discute a democracia racial como um mito construído através dos tempos.

  • Raízes do Brasil - Sergio Buarque de Holanda: Livro publicado no ano de 1936, é uma importante obra para se conhecer o processo de formação da sociedade brasileira. Holanda fala sobre o legado colonialista que se mostra como um obstáculo para o estabelecimento da democracia no País.

  • Mito da democracia racial - Wilson Honório da Silva: Um debate marxista sobre raça e classe. É composto por arquivos que combatem a perspectiva da democracia racial no Brasil que diz que vivemos num País sem racismo.