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Cultura

- Publicada em 05 de Novembro de 2020 às 17:54

Transformação e alto astral são marcas do som da 50 Tons de Pretas

 50 Tons de Pretas traz em sua sonoridade um apanhado de referências

50 Tons de Pretas traz em sua sonoridade um apanhado de referências


PRISCILLA CEZAR/DIVULGAÇÃO/JC
Igor Natusch
"Sempre digo que eu nasci resistência. Porque, quando uma mulher preta vai para o hospital parir, ela já está sendo resistência. Desde lá, o tratamento é diferente".
"Sempre digo que eu nasci resistência. Porque, quando uma mulher preta vai para o hospital parir, ela já está sendo resistência. Desde lá, o tratamento é diferente".
A fala de Dejeanne Arruée (voz e trombone) diz bastante sobre o espírito da 50 Tons de Pretas, que lança no dia 20 de novembro seu álbum de estreia, Voa. Porém, que ninguém pense as músicas que ela escreve e interpreta ao lado de Graziela Pires (voz) sejam sisudas ou mal humoradas. Ao contrário: as oito faixas trazem uma sonoridade livre, que passeia por samba, rock, pop e MPB, e abordam temáticas não raro pesadas, mas sempre com leveza e alto astral. Algo coerente com a trajetória das duas artistas, marcada pelo poder de transformação que vem da música .
Para quem deseja ouvir um pouco do que está por vir, o single da faixa Voa, que dá nome ao disco, estará nas plataformas digitais a partir desta sexta-feira (6). Neste dia, às 18h18min, está marcada uma entrevista online, conduzida por Lúcio Brancato e disponível no Instagram da Audio Porto. No dia 20, acontece uma live de lançamento do disco completo, nos espaços da banda no Facebook, Instagram e YouTube.
O processo de concretização do primeiro trabalho acabou sendo um tanto longo: as primeiras sessões de gravação aconteceram em 2018, e os últimos toques em estúdio só aconteceram em agosto deste ano. Nesse período, os muitos compromissos foram adiando a conclusão do processo, e o que seria originalmente um EP foi crescendo até virar um álbum completo. Além da banda que acompanha Dejeane e Graziela - formada por João Costa (bateria), Vladimir Godoy (baixo) e Gustavo Nunes (violão) - vários músicos convidados participaram das sessões, incluindo nomes como Tonho Crocco e Tati Portella. Natural, então, que Voa venha cheio de referências, sentimentos e histórias, meio como um resumo da trilha que a dupla vem seguindo desde quando surgiram, em 2017.
"A primeira faixa do disco é um samba, e a última é 60% formada por elementos eletrônicos. A gente está sempre mudando, mexendo com coisas diferentes, e cada faixa representa um momento das Pretas, algo que queríamos dizer naquele momento", explica Dejeane.
Essa abertura para a novidade e o inesperado surge com clareza na faixa que dá nome ao disco, e que está saindo como single. "A letra de Voa é de resistência, mas, ao mesmo tempo, acho que ela passa uma serenidade, uma tranquilidade para a gente levar a vida diante das adversidades. A nossa arte é para isso, para nos fazer bem e para alcançar ao próximo também."
A própria escolha da faixa para batizar o disco tem a ver com esse coração aberto: o artista visual Leandro Selister, responsável pelo design do álbum, apaixonou-se tanto pela música que a ouviu durante todo o processo de criação das artes - e a dupla, ao saber da história, sentiu que era um sinal para colocar a música na linha de frente da divulgação do trabalho.
Dejeane e Graziela escreveram juntas a maioria das canções de Voa – nas que foram compostas por outras pessoas, coube à trombonista elaborar os arranjos. Um controle criativo sobre a própria trajetória que pode causar algum estranhamento em uma cena acostumada a destinar às mulheres – em especial as negras – o papel de intérpretes, e olhe lá.
"É óbvio que a gente encontrou e encontra dificuldades", admite Dejeane. "Às vezes, a gente chega a um lugar com o músico e perguntam sobre as músicas para ele, como se ele fosse o compositor. Já tivemos dificuldades internas também, causadas pelo machismo de não lidar bem com duas mulheres no comando, não conseguir ouvir a gente dizer 'OK, essa é a sua ideia, mas gostaríamos de fazer desta outra forma'".
Obstáculos que, felizmente, acabam apenas reforçando a voz criativa da dupla. "São mulheres negras escrevendo, e a gente costuma dizer que não escrevemos só sobre a dor de ser mulher negra, sobre as dificuldades, mas também sobre nossas vitórias, nossa resistências nesse meio. São espaços que se abrem e que, se não abrem, a gente chuta a porta e entra", diz ela, animada.
Chutam a porta, sim, mas sem perder o clima para cima de quem sabe que provocar boas sensações é uma poderosa forma de transformação. "Há várias formas de falar a mesma coisa, e a gente acredita que essa doçura, essa questão nossa de ter afeto e verdade na nossa fala, consegue abranger mais pessoas e atingir elas de uma forma diferente. Mas a gente também é fogo nos racistas, viu?", acrescenta Dejeane, rindo. "Quando é necessário, claro que vamos ter essa fala mais forte. Mas a gente acredita muito na nossa voz, na nossa forma de dizer e em tudo que a gente viveu até aqui."
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