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Cultura

- Publicada em 03 de Novembro de 2020 às 18:42

Jeferson Tenório e os novos espaços na Feira do Livro de Porto Alegre

Patrono Jeferson Tenório aborda desafios da literatura em um mundo marcado por distâncias

Patrono Jeferson Tenório aborda desafios da literatura em um mundo marcado por distâncias


DIEGO LOPES/FEIRA DO LIVRO DE PORTO ALEGRE/DIVULGAÇÃO/JC
Igor Natusch
Os últimos meses têm sido bastante agitados na vida do escritor e professor Jeferson Tenório. Além de vivenciar o grande sucesso de seu terceiro livro, O avesso da pele, que já teve direitos licenciados para o cinema e deve ser lançado em outros países em breve, o autor se move entre as atividades de patrono da 66ª Feira do Livro de Porto Alegre – que acontece em ambiente virtual, em decorrência da pandemia do novo coronavírus. Esse turbilhão de acontecimentos esteve no centro da coletiva que Tenório concedeu nesta terça-feira (3), promovida pela Associação Riograndense de Imprensa (ARI).
Os últimos meses têm sido bastante agitados na vida do escritor e professor Jeferson Tenório. Além de vivenciar o grande sucesso de seu terceiro livro, O avesso da pele, que já teve direitos licenciados para o cinema e deve ser lançado em outros países em breve, o autor se move entre as atividades de patrono da 66ª Feira do Livro de Porto Alegre – que acontece em ambiente virtual, em decorrência da pandemia do novo coronavírus. Esse turbilhão de acontecimentos esteve no centro da coletiva que Tenório concedeu nesta terça-feira (3), promovida pela Associação Riograndense de Imprensa (ARI).
“Eu já vinha de alguns dias sem conseguir dormir, com as coisas acontecendo todas praticamente ao mesmo tempo”, afirmou, lembrando do momento em que recebeu do presidente da Câmara Riograndense do Livro (CRL), Isatir Bottin Filho, o aviso de que havia sido escolhido como patrono da Feira. “Quando recebi a notícia, fiquei muito surpreso e, logo depois, muito feliz. Não sou de gritar mas, por dentro, eu gritei, porque eu sei o quanto significa esse papel de patrono no Rio Grande do Sul. É um evento muito querido pelas pessoas”, acrescenta.
O papel de promover a leitura – que, segundo o próprio Tenório, está no topo de suas funções enquanto patrono de uma feira de livros – ganha um desafio extra, na medida em que o evento acontece, pela primeira vez, do lado de lá das telas digitais. Não temos a chance de ver, como nos outros anos, o patrono andando entre as bancas, personificando o encanto de usar palavras para contar histórias. Uma situação que Tenório reconhece como indesejável – mas que, ao mesmo tempo, conclama leitores e leitoras a superar.
“Além das mortes, a perda do espaço é a interdição mais violenta (trazida pela pandemia). A gente tem que lidar com essa perda do contato físico, dos espaços públicos. Mas acho que podemos encarar esse momento de outra forma”, defende. “Na diáspora africana, tivemos essa perda compulsória de território das pessoas negras, trazidas à força (para o Brasil). “As culturas de matriz africana trataram de materializar esse terreno perdido por meio de metáforas. Acho que a gente tem que trabalhar com as metáforas do espaço. A pandemia fez com que essa perda de espaço se acelerasse, mas a gente é capaz de ressignificar esse momento dentro da plataforma (virtual) como um espaço de resistência.”
A reação do público a esse desafio proposto pela Feira este ano, segundo Tenório, é boa. “Temos tido boa audiência nas lives, e a venda de livros pela internet não é novidade também”, afirma. O que também tem a ver, de certo modo, com a sensação renovada de importância da literatura (e da arte em geral) na vida das pessoas. “A pandemia evidenciou como a vida sem a arte é impossível. Os seres humanos não chegariam até aqui se não fôssemos criativos, e isso pressupõe o contato com a arte. As pessoas suportaram todos esses meses (de isolamento) maratonando séries, comprando livros por e-book, e tudo isso reforça um sentimento de proximidade (com a arte) nas pessoas”, diz o escritor.
Na conversa mediada pela ARI, Tenório falou também sobre o fato de ser o primeiro patrono negro em mais de seis décadas de Feira do Livro em Porto Alegre. E deixou claro que vê a si mesmo como parte de um processo, que exige um esforço coletivo para seguir em movimento. “A verdade é que a literatura, em si, pode muito pouco contra o racismo”, diz. “Não penso nessas questões quando escrevo um livro. (O avesso da pele) é um livro sobre pai e filho, sobre como a relação deles se dá no passar do tempo e, também, na ausência também. Mas é claro que isso (a vivência como homem negro) faz parte do meu material biográfico. Só tenho medo que as pessoas pensem que o racismo é uma onda, que vai passar. Que, se há um patrono negro (na Feira), então acabou o racismo na literatura. A gente precisa dar continuidade aos processos, para que não tenhamos que sempre apontar o primeiro negro a fazer alguma coisa.”
Uma caminhada que exige perseverança, em um mundo cada vez mais marcado pelo ódio e pelas distâncias. “Neste ponto, sou bastante niilista. Acho que as coisas vão piorar. Estamos querendo que 2020 acabe logo, mas olha, não sei não”, brinca, ao mesmo tempo que fala muito sério. “Mas, ao mesmo tempo, eu acredito muito nas iniciativas de enfrentamento a isso tudo. Mesmo em governos autoritários as pessoas encontram formas de resistir, e esse é um dos motivos da nossa polarização atual. Há um revide de pessoas que não querem (o avanço do autoritarismo), e a arte faz frente a esses governos, na medida em que propõe o questionamento”, reforça.
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