Uma sensação harmônica a partir de acordes que despertam o sentimento transmitido pela música brasileira. Na maioria das vezes, causada por canções que já viraram hinos populares do cânone da MPB e do samba. Foi a partir desta provocação que o músico gaúcho Alegre Corrêa e o brasiliense Gabriel Grossi descobriram o Brasileto, estrutura musical composta por 32 compassos, que constroem caminhos sonoros de uma harmonia já conhecida.
O início desta descoberta contribui para a compreensão do estudo. Quando Alegre Corrêa lecionava Música em Viena, seus alunos propuseram compor e tocar uma canção que fosse genuinamente brasileira e que causasse a sensação despertada por uma música desse estilo. Ele até procurou em suas composições algo que encaixasse com o pedido, mas foi através de uma nova que encontrou o ritmo.
"Intuitivamente, busquei essa estrutura dentro da música brasileira pra apresentar esse tema para o grupo e a gente tocar. Deu certo, tocamos, todo mundo adorou. Só que isso criou uma vida muito mais longa do que eu imaginava, muito amigos começaram a gostar", comentou o músico em entrevista ao Jornal do Comércio.
Ao longo do tempo, Corrêa foi entrando cada vez mais no ritmo e se aprofundando em pesquisas e composições: "Fui me dar conta de que outros compositores, como Baden Powell, fizeram trabalhos exatamente dessa mesma forma. Comecei a observar que, dentro da música brasileira, também existia essa estrutura. Passei a conversar com colegas e parceiros. Mas era uma coisa difícil. É muito difícil você começar a conversar sobre uma coisa nova, e que a princípio parece que quer fechar uma ideia", relata.
Foi, então, por volta de 2015, que surgiu a parceria com Gabriel Grossi: "Ele imediatamente se apaixonou por essa tese e detectou muitos temas com essa estrutura. Começamos a fazer um estudo de análise na música popular brasileira de temas que tivessem essa estrutura. Denominamos Brasileto, a partir de pesquisas, e fomos envolvendo mais pessoas".
A partir da definição do Brasileto, a dupla acredita que exista também a identificação das derivações regionais do ritmo: composições e estruturas harmônicas que despertem sensações através das músicas regionalistas, principalmente no tradicionalismo gaúcho e nordestino. "Os compositores, seja de qual região, vão fazendo seu trabalho e ao mesmo tempo criando uma linguagem musical coletiva inconsciente por causa da região", afirma Corrêa.
"Ou seja, é uma forma criada pela cultura musical dos povos, que é uma forma fixa e ao mesmo tempo uma forma liberta. Ela tem uma regra que instiga a criação, renova, coloca pessoas em contato. A intenção do Brasileto é se tornar um movimento de músicos. Um respiro da música popular brasileira, da criação cena da cultura musical brasileira", completa.
Ele exemplifica essa identificação com o ritmo blues, que consegue ser identificado por quem o ouve, mesmo que o ouvinte não conheça nada sobre a teoria musical do gênero. Segundo ele, o Brasileto ainda nesse quesito se caracteriza como um produto brasileiro já que, ao contrário do blues que possui 12 compassos, possui 32 compassos, sugerindo novas cores, ritmos e melodias, miscigenado e diversificado, como a mistura étnica brasileira.
Agora, os dois planejam expandir os estudos e fazer com que a melodia chegue a mais músicos e compositores, pois acreditam no papel de ferramenta de união e renovação da música brasileira que o Brasileto pode causar. "A gente viu o potencial que ela tem de tornar novos compositores conhecidos, como se fosse um grande festival e uma febre nova. É valorizar e renovar nossa cultura, também fora do País", afirma Corrêa.
"O Brasil é conhecido lá fora com alguns dos melhores trabalhos da música brasileira. É um dos nossos patrimônios mais fortes. A gente quer que novos compositores continuem aparecendo, e que eles façam do Brasileto uma nova ferramenta de exposição", finaliza.
Para mais informações sobre o
Brasileto e a pesquisa, a dupla lançou o site
www.guiapraticodecomposicao.com.br, onde está disponível para download a estrutura do
Brasileto. A partir do e-mail
[email protected], músicos que quiserem compartilhar sua composição ou então participarem dos estudos podem entrar em contato com Corrêa e Grossi. Também pode ser acessada a página do
Facebook.