Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Cultura

- Publicada em 13 de Outubro de 2020 às 19:35

Radaelli traz o reflexo do interior na criação de quadros durante a pandemia

'No espelho não sou eu' tem retratos e pinturas que questionam o enfrentamento do homem perante a natureza

'No espelho não sou eu' tem retratos e pinturas que questionam o enfrentamento do homem perante a natureza


TULIA RADAELLI/DIVULGAÇÃO/JC
Roberta Requia
A reflexão do estado humano consigo mesmo perante o período de isolamento. O desfalecimento de seu próprio eu perante o espelho, que se desfaz em formato de pétalas secas que caem com o passar dos meses durante a pandemia. Elementos como esse compõem a nova exposição do artista plástico Gelson Radaelli, em cartaz até o dia 14 de novembro na galeria Bolsa de Arte (Visconde do Rio Branco, 365), que o representa há mais de 20 anos e promove sua quinta mostra individual. Com o título No espelho não sou eu, o trabalho é sobre o confronto entre o homem e a natureza, a partir de obras em óleo sobre tela, retratando o encantamento e a desarmonia entre essa relação.
A reflexão do estado humano consigo mesmo perante o período de isolamento. O desfalecimento de seu próprio eu perante o espelho, que se desfaz em formato de pétalas secas que caem com o passar dos meses durante a pandemia. Elementos como esse compõem a nova exposição do artista plástico Gelson Radaelli, em cartaz até o dia 14 de novembro na galeria Bolsa de Arte (Visconde do Rio Branco, 365), que o representa há mais de 20 anos e promove sua quinta mostra individual. Com o título No espelho não sou eu, o trabalho é sobre o confronto entre o homem e a natureza, a partir de obras em óleo sobre tela, retratando o encantamento e a desarmonia entre essa relação.
Segundo o curador da mostra, Eduardo Veras, a exposição convida o espectador a olhar a si mesmo, perante o espelho do artista, alcançando a profundidade espelhada em um autorretrato: "A rigor, toda obra de arte faz isso. Em algumas, o convite é mais direto. Aqui, ele se dá desde o título, em sua referência ao espelho e ao jogo de identidades. E chega ao ápice nos retratos muito frontais, em que podemos reconhecer tanto o artista, que se observa e se autorretrata, quanto nós mesmos, que passamos a observar esses retratos e, com sorte, chegamos a observar, nos autorretratando, ainda que de forma enviesada. É como um jogo de espelhos até o infinito".
O conjunto é composto por três atos. O ser traz retratos anônimos em estado de demência ou derretimento, representando a convivência com a ideia da morte durante a pandemia. A natureza, composta por flores secas que retratam locais vazios, simboliza a metáfora do distanciamento social. E o terceiro, O ser e a natureza em conjunto, tem quadros com o diálogo entre a figura humana e a mãe Gaia.
Em entrevista ao Jornal do Comércio, Radaelli explicou sobre a criação durante a pandemia. Segundo ele, seu trabalho era fracionado por conta da rotina que foi interrompida: "Nessa nova ordem, passo quase todo o tempo no meu atelier, mais tempo entregue ao mesmo quadro e às coisas que envolvem o destino da pintura." O artista ainda destaca que sua produção está sempre ligada a tudo que o rodeia: as conversas, perfumes, aromas, e até mesmo a maneira como interage com a natureza. E que isso, consequentemente, reflete no resultado de seu trabalho, seja para o bem ou para o mal.
Radaelli pinta desde os sete anos de idade. Conta que sempre encontrou na arte a materialização de sentimentos internos e expressões que precisassem de uma ferramenta para nascerem aos olhos do mundo. "Sei muito bem que a arte hoje está mais voltada para conceitos, crítica do cotidiano e da política. Meu trabalho não faz parte desse pensamento. Crio pra fazer a vida valer a pena, ter ar para respirar."
O artista também revela que a subjetividade desses sentimentos conduz o pensamento lógico que busca criar respostas ou até mesmo problemas no espaço em branco das telas. "O tema dos meus quadros é secundário. Me interessa como os elementos estão pintados, a carga de emoção que possuem, é a tentativa de atingir quem vê, tirar o chão se possível. Para mim, a obra de arte não é um veículo de comunicação, é um objeto que faz o mundo se tornar um pouco estranho, provocar, tirar quem vê da letargia."
O título No espelho não sou eu conecta a arte pré-pandemia com os trabalhos produzidos durante o período atual. Radaelli conta que o nome surgiu a partir de autorretratos líricos, nascidos a partir de memórias próprias.
Conforme o artista, o trabalho da pintura nesta exposição atingiu um tom visceral, onde o pincel e a tinta a óleo mesclaram-se em um só fôlego, sem reflexão: "Durante um trabalho e outro me veio esse pensamento 'no espelho não sou eu', pois não nos apresentamos nos reflexos como somos realmente. Não aparece ali nossos dramas, nossos sonhos, pensamentos e comportamentos. É apenas uma casca, um arremedo, onde é possível disfarçar nossas personalidades. É como se fosse uma foto produzida".
O pintor finaliza sua apreciação sobre o processo: "Relações que temos no dia a dia com nossa própria imagem, de que maneira nós construímos - e nos destruímos -, como nos vemos no reflexo conforme nosso estado de humor, nossa idade, a moda da selfie e como as pessoas se apresentam com sorrisos nas redes sociais".
Conteúdo Publicitário
Leia também
Comentários CORRIGIR TEXTO