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literatura

- Publicada em 06 de Outubro de 2020 às 15:44

Néstor García Canclini assume titularidade da Cátedra Olavo Setubal da USP

Antropólogo cultural deu depoimento para o documentário 'Grupo de Bagé', de Zeca Brito

Antropólogo cultural deu depoimento para o documentário 'Grupo de Bagé', de Zeca Brito


PABLO ESCAJEDO/DIVULGAÇÃO/JC
O antropólogo cultural Néstor García Canclini, da Universidade Autônoma Metropolitana da Cidade do México, toma posse como novo titular da Cátedra Olavo Setubal de Arte, Cultura e Ciência - parceria entre o Itaú Cultural e a USP - hoje, em cerimônia disponível a partir das 17h no site do Instituto de Estudos Avançados da universidade. Para superar as limitações impostas pela pandemia do novo coronavírus, os depoimentos de todos os participantes foram gravados, possibilitando o público escolher o que e quando assistir.
O antropólogo cultural Néstor García Canclini, da Universidade Autônoma Metropolitana da Cidade do México, toma posse como novo titular da Cátedra Olavo Setubal de Arte, Cultura e Ciência - parceria entre o Itaú Cultural e a USP - hoje, em cerimônia disponível a partir das 17h no site do Instituto de Estudos Avançados da universidade. Para superar as limitações impostas pela pandemia do novo coronavírus, os depoimentos de todos os participantes foram gravados, possibilitando o público escolher o que e quando assistir.
No evento, Canclini faz a conferência As instituições fora de lugar. Em outro vídeo, participa do triálogo A Desinstitucionalização da Cultura, com o professor José Teixeira Coelho Netto e a antropóloga social Carla Pinochet Cobos, da Universidade Alberto Hurtado, no Chile.
Além deles, estão presentes na cerimônia: o diretor do Itaú Cultural, Eduardo Saron; o curador e crítico de arte Paulo Herkenhoff; a biomédica Helena Nader – ambos, ocupantes da titularidade da cátedra antes de Canclini –, Vahan Agopyan, reitor da USP; o diretor do Instituto de Estudos Avançados da USP, Guilherme Ary Plonski; Martin Grossmann, coordenador acadêmico da cátedra; e Maria Alice Setubal, representante da família Setubal. Teixeira Coelho Netto também faz a apresentação de Canclini, em um vídeo específico.
Em sua proposta de trabalho na cátedra, Canclini afirma que dois processos se destacam entre aqueles promotores de mudanças de desenvolvimento e funções sociais das instituições culturais públicas e privadas nas últimas décadas: as políticas neoliberais e a internet. Segundo ele, políticas neoliberais enfraqueceram os estados e seus pressupostos, bem como reorientaram o trabalho de algumas fundações, editoras, museus e centros culturais e artísticos para um rendimento econômico de curto prazo. 
Quanto à internet, considera que, além da reorganização da comunicação cultural e da participação social promovidas por ela desde seu surgimento, nos últimos 15 anos houve o impacto das redes socais e do controle algorítmico dos comportamentos, com rendimentos mercantis e seus efeitos sociopolíticos a cargo de poucas corporações eletrônicas. 
Essas duas transformações geraram, diz, uma descidanização e o deslocamento parcial das cenas político-culturais dos partidos para movimentos sociais e desempenhos midiáticos e digitais dos públicos. Para Canclini, a diminuição das formas clássicas de exercer a cidadania – via partidos, sindicatos e instituições fisicamente estabelecidas – coexiste com movimentos feministas, raciais e étnicos, ambientalistas e de vizinhança, rebeliões e adaptação dos consumidores-usuários da produção cultural das corporações e organismos estatais.
Canclini pretende realizar uma análise dessas modalidades recentes de desenvolvimento institucional e dos movimentos, principalmente no Brasil, tendo como referências comparativas as experiências específicas da Argentina, México e outros países latino-americanos. O projeto será desenvolvido com a colaboração do pós-doutorando Juan Ignacio Brizuela, especialista em políticas de interculturalidade, selecionado por inscrição em convocatória. 
Os dois reunirão material documental, estatístico e etnográfico sobre esses temas e publicarão no mínimo dois artigos científicos sobre os resultados do estudo. Em razão das limitações impostas pela pandemia, a interação entre eles será por teleconferência. Caso a situação de segurança sanitária no primeiro semestre de 2021 permita, Brizuela irá ao México para que os dois possam trabalhar de forma presencial.
Eles também produzirão três boletins ao longo do período de trabalho para divulgar as experiências documentas e suas análises para um público mais amplo que o acadêmico. No segundo semestre de 2021, Canclini realizará um seminário com professores e doutorandos e participação, se possível, de líderes ou atores relevantes de movimentos socioculturais.
Em 2015, o Itaú Cultural iniciou a parceria da Cátedra Olavo Setúbal, primeira na Universidade de São Paulo para discutir questões do universo das ciências, artes e tecnologia. Criada em parceria com o Instituto de Estudos Avançados (IEA/USP), com duração mínima de cinco anos, que acaba de ser renovada, teve como primeiro titular o cientista político, filósofo, diplomata Sérgio Paulo Rouanet.
Em 2017, o titular foi o arquiteto, designer gráfico e gestor cultural Ricardo Ohtake. Em 2018, a titular foi a educadora e ativista social Eliana Souza e Silva, fundadora da ONG Redes de Desenvolvimento da Maré. O curador Paulo Herkenhoff e a biomédica Helena Nader foram os titulares em 2019-2020 e passam o cargo para Canclini. A cátedra compõe o curso para alunos da USP, pesquisadores, artistas, produtores e instituições culturais. No conjunto, entre aulas presenciais e online, soma cerca de seis mil alunos.

Trajetória de Canclini como intelectual

Nascido em La Plata, Argentina, em 1939 e radicado no México desde 1976, Canclini é doutor em Filosofia pela Universidade de La Plata e pela Universidade Paris Nanterre. Lecionou em universidades dos Estados Unidos – Austin, Duke e Stanford; em Barcelona, na Espanha, na Argentina, em La Plata e Buenos Aires, e na USP, em São Paulo.
Em 2014, recebeu o Prêmio Nacional de Ciências e Artes do México. Seu livro Culturas Híbridas: Estrategias para Entrar y Salir de la Modernidad, de 1990, teve menção honrosa do Premio Iberoamericano Book Award da Latin American Studies Association de 1992. Além de Culturas Híbridas, publicado pela Edusp em 1997 e já em sua 4ª edição, outros de seus livros são Consumidores y Ciudadanos: Conflictos Multiculturales de la Globalización, de 1995; La Globalización Imaginada, de 1999; Diferentes, Desiguales y Desconectados: Mapas de la Interculturalidad, de 2004.
Sua obra mais recente é Ciudadanos Reemplazados por Algoritmos, de 2019. Em novembro, lançará Pistas Falsas no Brasil, pelo Observatório Itaú Cultural e editora Iluminuras.
 
As relações entre estética, arte, antropologia, estratégias criativas e redes culturais dos jovens são as preocupações atuais de Canclini. Ele examina a mundialização e as mudanças culturais na América Latina a partir da análise das mesclas entre culturas, etnias, referências midiáticas, populares e tradicionais. Outros temas de seu interesse são aqueles relacionados tanto às políticas culturais quanto às relações entre tecnologia e cultura.