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Cultura

- Publicada em 06 de Outubro de 2020 às 19:51

Com seu livro de estreia, Ismael Sebben reflete sobre a responsabilidade da escrita

Ator bento-gonçalvense retorna às origens, e lança contos de 'Perfumes e moscas' pela Libretos

Ator bento-gonçalvense retorna às origens, e lança contos de 'Perfumes e moscas' pela Libretos


HAOS BG/DIVULGAÇÃO/JC
Com o lançamento, nesta quinta-feira (8), às 18h30min, na Feira do Livro de Bento Gonçalves, da coletânea de contos Perfumes e moscas (Libretos, 204 págs., R$ 30,00), o ator Ismael Sebben estreia oficialmente na literatura. O título reúne 21 contos que entrelaçam temas universais como morte, relacionamentos, desejos e necessidades. Seis deles foram gravados em podcast pelo próprio autor e estão disponíveis no site da editora.
Com o lançamento, nesta quinta-feira (8), às 18h30min, na Feira do Livro de Bento Gonçalves, da coletânea de contos Perfumes e moscas (Libretos, 204 págs., R$ 30,00), o ator Ismael Sebben estreia oficialmente na literatura. O título reúne 21 contos que entrelaçam temas universais como morte, relacionamentos, desejos e necessidades. Seis deles foram gravados em podcast pelo próprio autor e estão disponíveis no site da editora.
Sobre os áudios, o autor comenta o cuidado com a democratização do acesso à cultura: "Primeiramente, eu valorizo a oralidade. Sou adepto do ouvir. E em horas é bom ouvir, não só ler. E tem a questão da acessibilidade, que acho fundamental. Nosso projeto cultural, contemplado pelo Fundo Municipal de Cultura de Bento Gonçalves, prevê a democratização da obra".
Sebben nasceu na cidade da serra gaúcha em 1984. É graduado em Letras-Português, ator, professor e atua na cena cultural da região promovendo eventos. Iniciou sua carreira participando do grupo multiartístico Sinagoga e Os poetas da praça Zen, que misturava teatro, música e poesia. Ator formado, participou de muitas montagens teatrais, especialmente, em São Paulo, curtas-metragens e também ministrou cursos na área, além de já ter sido premiado em concurso literário.
No dia 15 de outubro, ele participa do bate-papo A jornada de descoberta do escritor contemporâneo, que será transmitido pelo canal Feira do Livro BG no YouTube. A atividade acontece às 19h30min, mediada por Guilherme Krema e tendo participação ainda de Emanuelle da Silva e Robert Melo.
Perfumes e moscas também ganhará lançamento na 66ª Feira do Livro de Porto Alegre, no dia 10 de novembro, com um bate-papo online na Sala Libreto100, às 19h. A obra ainda ganhará apresentação na Feira do Livro de Caxias do Sul, em 28 de novembro.
Nesta entrevista, o autor fala sobre seu processo criativo e a história deste lançamento. Foram sete anos de escrita dos contos, e, ao todo, uma década para chegar à publicação pela editora Libretos. "Escrever é uma responsabilidade. Me sinto um contador de histórias. Sou uma pessoa ansiosa, mas, em relação à literatura, tenho paciência para esperar até me sentir à vontade para publicar", conta.
JC - Panorama - Quais são tuas influências literárias? Caio Fernando Abreu é uma delas, já que uma das epígrafes do livro é uma citação dele?
Ismael Sebben - Ler, ler e ler, em alguns casos, para o escritor, é quase melhor que sentar a bunda na cadeira e escrever. As influências são o norte de quem escreve, alguém que encontramos na estrada e nos dá explicações do caminho que podemos seguir, depois é conosco. Sendo assim, li muitos escritores e cada um deles impressiona ou "desimpressiona" de alguma forma, deixa algo. Nomes? Toda turma do Boom Latino-americano, Hemingway, Mia Couto, Raymond Carver, que é genial... Tchékhov não pode faltar! E muitos brasileiros, não só contistas, certo? João Gilberto Noll, Dalton Trevisan, Luis Vilela, Murilo Rubião, Simões, Faraco, Menalton Braff, Apparicio Silva Rillo... Pô, a lista é grande! Vou citar só alguns contistas, do contrário a lista vai longe.
Sobre Caio Fernando Abreu, lógico, é uma influência, embora nossa escrita não se aproxime em nada ou quase nada. Influente por ter um discurso direto, isso sim, coloquial, certeiro e que flui, algo que também busco.
Panorama - A outra epígrafe da obra é uma citação bíblica. Entre influências temáticas, a religião entra como um elemento do teu universo de narrativas?
Sebben - Sim, é algo que fascina: a crença, as figuras religiosas, os rituais. Coloco as personagens em situações de aceite (dependência), negação e problematização da religião. Matematicamente falando: religião > homem; religião < homem e religião = homem.
Panorama - Como tua formação - a herança cultural da imigração - foi determinante para escrever sobreo teu ambiente?
Sebben - Eu diria que a herança cultural não foi determinante, mas o cenário dela, ou deixado por ela, sim. Não entro em nenhum momento nesse assunto, no entanto a minha literatura é bastante cênica, fotográfica, composta por imagens e, a partir delas, faz-se uma leitura. Meus contos são isso, leituras de imagens; eu diria que, na grande maioria das vezes, vem antes as imagens à cabeça e depois o texto.
Panorama - Qual é o cenário cultural de Bento Gonçalves e região hoje?
Sebben - O Fundo Municipal de Cultura de BG (FMC) é hoje indispensável aos artistas locais, pois movimenta a todos, solidifica muitos trabalhos artísticos de qualidade e, o melhor, contempla todas as áreas artísticas; além de envolver os setores que rodeiam as produções. Para o livro existir, tive de buscar serviços de contador a fotógrafo, portanto, serve como modelo para muitos municípios. Importante também é dizer que favorece a formação de público. E, tocando nesse assunto, não há como não mencionar o Sesc, parceiro e realizador não só na área cultural, mas saúde, lazer, esporte, enfim, abrangente! Contribuo diretamente com as áreas de cultura e lazer, o que me traz um contato diário com as artes.
Panorama - Tu saíste de Bento, foi "ganhar" o mundo. Por que retornar?
Sebben - Sempre fui ciente de que poderia voltar, e isso nunca me incomodou. Cidades limitam e ampliam nossos sonhos e, por conseguinte, as realizações desses. O pior é sair, voltar e não trazer nada na "bagagem", nenhuma lembrança ou aprendizado. Sabia que, ao voltar, as pretensões com o teatro iriam limitar-se, mas não eram só essas as minhas, então não me doeu tanto, além do que uso o que conheci nas minhas outras áreas de atuação: escritor e professor. A escola é interdisciplinar, e a vida também.
Panorama - Tanto a orelha do Juliano Dupont quanto o prefácio do professor Ceccagno apontam contrastes, paradoxos na tua escrita. O título Perfumes e moscas já traz essa ideia. Como foi a escolha do nome do conjunto dos contos?
Sebben - Aviso: Se não lerem o livro, ao menos leiam a orelha e a apresentação, pois estão ótimos os textos! Ah, e a contracapa, escrita pelo Tabajara Ruas. Importante manter o humor. Apesar de todo o peso do livro, sou brincalhão.
Sim, o título traz isso e, acredite, o livro tem um título, mas, vez ou outra, ganha um novo nome. É que Perfumes e moscas, como foi pensado, permite que façamos a leitura das seguintes maneiras: Perfumes e moscas e PerfumeS E Moscas, ou seja, uma adição, no primeiro caso, e uma exclusão, no segundo. Não sei se há algo de genial nisso, mas, ao criarmos, eu e minha noiva, pensamos que dialogava com a proposta dos contos.
Falo isso porque no andamento da escrita do livro notei que algumas (poucas) personagens apareciam em outros contos, então comecei a pensar em "ligar" os contos, buscando, quem sabe, um diálogo narrativo: "Já que não há personagens ligando os contos, as histórias, algo pode transitar... a mosca e os perfumes!", sendo assim, esses 'elementos', de uma forma ou de outra, aparecem na maioria dos contos. Algo curioso que notei ao final da escrita é que aparecem muitos animais nos meus contos.
Panorama - Foram sete anos de escrita, e, ao todo, uma década até lançar este primeiro livro. O professor Ceccagno também comenta no prefácio que talvez isso se deva ao fato de te sentires 'pequeno' diante dos 'gigantes' que tinhas lido. Ele está correto?
Sebben - Sim, certíssimo, até porque falávamos bastante sobre isso! Escrever é uma responsabilidade e os contos de Perfumes e moscas foram meu laboratório, o que não quer dizer que inventei a roda. Não! Apenas quis esse tempo e me dei ao luxo de testar para contar histórias. Ah! E me sinto, mais do que tudo, um contador de histórias. Sou uma pessoa ansiosa, mas, em relação à literatura, tenho paciência para esperar até me sentir à vontade para publicar. Não sei o que virá e será a partir de agora, mas continuo escrevendo.
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