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Cultura

- Publicada em 05 de Outubro de 2020 às 18:57

Orestes Dornelles lança seu quarto disco de estúdio, com produção de Lucas Kinoshita

Músico e compositor mistura lirismo e resistência em 'Tudituãni', seu novo trabalho

Músico e compositor mistura lirismo e resistência em 'Tudituãni', seu novo trabalho


PRISCILA BUENO/DIVULGAÇÃO/JC
Igor Natusch
Dá quase para dizer que a produção de Tudituãni, novo álbum do músico e compositor Orestes Dornelles, foi cortada ao meio pela pandemia. O quarto trabalho do artista, que estará nas plataformas digitais a partir desta sexta-feira, estava pela metade do caminho quando o novo coronavírus mudou tudo - e Orestes, acompanhado pelo produtor e braço-direito Lucas Kinoshita, precisou adaptar-se para que sua visão ao mesmo tempo poética e crítica do momento que vivemos chegasse a seu formato final.
Dá quase para dizer que a produção de Tudituãni, novo álbum do músico e compositor Orestes Dornelles, foi cortada ao meio pela pandemia. O quarto trabalho do artista, que estará nas plataformas digitais a partir desta sexta-feira, estava pela metade do caminho quando o novo coronavírus mudou tudo - e Orestes, acompanhado pelo produtor e braço-direito Lucas Kinoshita, precisou adaptar-se para que sua visão ao mesmo tempo poética e crítica do momento que vivemos chegasse a seu formato final.
Felizmente, para ele e para nós, deu tudo certo. O nome Tudituãni é uma brincadeira com o número do ano que vivemos - no caso, abrasileirando a pronúncia em inglês de "2D20" para criar um vocábulo novo e original. Uma boa representação, vale dizer, do que acontece no álbum como um todo: as 12 faixas se movem por diferentes estilos, unindo influências externas como reggae e pop rock a sonoridades populares e regionais como xote, milonga e ritmos de origem africana. Tudo amarrado por um sentimento de resistência lírica e criativa diante dos horrores do presente. "Estou bem orgulhoso do filhote", diz o músico, em conversa telefônica com o Jornal do Comércio.
As partes de percussão, bateria e violão estavam prontas em março, dias antes de chegar a recomendação para que todos e todas ficassem em casa. Porém, as sessões para registrar acordeon, guitarra e violões extras, que já estavam agendadas, tiveram que ser canceladas em cima da hora. "Foi uma agonia. Mas o Angelo (Primon, guitarrista e violonista) nem piscou: 'nem esquenta, eu gravo em casa, já fiz isso várias vezes'. O Matheus (Kleber, acordeon) também: 'vai ficar bom, fica tranquilo'. E o material que me mandaram ficou ótimo mesmo, não tive nenhuma dor de cabeça", relembra Orestes.
Uma abordagem que ele mesmo acabou adotando na hora de registrar os vocais. E que acabou agradando bastante. "Pegamos um equipamento bom, preparei um isolamento acústico e pensei 'vou gravar, se ficar bom a gente aproveita'", recorda. "Como gravei as vozes em casa, foi possível fazer tudo bem no meu tempo, criando e revisando. Muitas coisas de melodias vocais não existiam (antes da pandemia), umas dobras de voz que só consegui fazer porque estava em casa."
Embora todas as composições estivessem prontas quando a Covid-19 chegou, a situação acaba adicionando camadas de sentido a várias músicas de Tudituãni. É o caso, por exemplo, de Tenho fé, lançada como single no mês de abril. "É uma música inspirada pelos movimentos de migração que acontecem no mundo inteiro. A letra fala sobre uma caminhada, que ser livre é ter a possibilidade de encarar a vida de frente, e como muitas pessoas no mundo não têm essa oportunidade", explica Orestes, deixando a conexão nas entrelinhas. "Eu brinco que a única coisa que não está no disco, mas subentendida nele, é o vírus. Porque todas as coisas das quais falo seguem acontecendo, seguem parte da realidade em que a gente vive."
Letras que, aliás, marcam uma mudança significativa nas temáticas de Orestes Dornelles - e que ele mesmo reconhece abertamente. "Meus outros discos eram, em essência, um tanto românticos. Nesse novo trabalho, só há uma canção de amor, Lamento pampeano, e é uma música sobre água. Acho que por aí já dá para medir a diferença", argumenta, rindo. "Evitei letras muito extensas, de forma que as músicas não ficassem difíceis de ouvir, e essa abordagem se refletiu nas músicas também, que acabaram ficando mais diretas, sem grandes complicações. Quis manter meu enfoque nas coisas que estão acontecendo no País", acrescenta.
E o ouvinte casual pode ter certeza: Tudituãni traz uma disposição inabalável para colocar o dedo na ferida. Mesmo sem perder a elegância, músicas como Eu desconfio, Em chamas e Vem pro baile, capitão deixam bem pouca margem para dúvidas. "O papel do artista, nesse momento, é de contestação", acentua, enfático. "Sem as artes, um país não existe. Não é surpresa essa guerra contra a cultura, ele (o presidente Jair Bolsonaro) falou o tempo inteiro que faria isso, mas o que me surpreende é a reação que não está havendo. As pessoas não estão falando. Mas esse disco fala, e bastante. Isso eu posso garantir."
A pandemia não causou problemas apenas na hora de concluir as gravações do álbum. No atual cenário, Orestes não vê muita perspectiva para uma divulgação nos moldes tradicionais, com CD físico e show de lançamento - e também não se empolga muito com as possibilidade de uma live, ou de outras alternativas on-line do tipo. "Em abril já estávamos imaginando que seria difícil fazer um show para lançar o disco. E está todo mundo (que participou das gravações) tão cheio de coisas para fazer... O Lucas (Kinoshita) fica me cobrando e eu fico dizendo 'te aquieta'", ri o músico. "O disco vai estar no mundo, sabe? Isso já me deixa feliz. Não me preocupo muito com isso."
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