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Cultura

- Publicada em 29 de Agosto de 2020 às 10:03

Completando 45 anos da formação original, Furacão 2000 é sinônimo do funk carioca

Ritmo surgiu como alternativa para juventude negra do Rio de Janeiro nas décadas de 1970 e 1980

Ritmo surgiu como alternativa para juventude negra do Rio de Janeiro nas décadas de 1970 e 1980


/FURACÃO 2000/REPRODUÇÃO/JC
Roberta Requia
Em outubro de 2019, o mundo conheceu, por conta do show da cantora Anitta no Palco Mundo do Rock in Rio, o icônico fundo de palco formado por uma parede de caixas de som. Essa característica marca a estética de uma das equipes precursoras na divulgação do funk carioca para o restante do Brasil. Nesta semana, a equipe Furacão 2000 completou 45 anos desde sua formação original, uma junção das produtoras Som 2000, de Rômulo Costa, e a Guarani 2000, de Gilberto Guarani.
Em outubro de 2019, o mundo conheceu, por conta do show da cantora Anitta no Palco Mundo do Rock in Rio, o icônico fundo de palco formado por uma parede de caixas de som. Essa característica marca a estética de uma das equipes precursoras na divulgação do funk carioca para o restante do Brasil. Nesta semana, a equipe Furacão 2000 completou 45 anos desde sua formação original, uma junção das produtoras Som 2000, de Rômulo Costa, e a Guarani 2000, de Gilberto Guarani.
O aniversário foi celebrado com uma live no perfil do Instagram da Furacão 2000 neste sábado (29), com Rômulo Costa, a esposa Priscila Nocetti e a filha Yasmin Nocetti, tocando músicas antigas dos bailes. Desde o início da pandemia, a equipe tem organizado shows ao vivo a distância, assim como a transmissão de espetáculos antigos da produtora.
Dos bailes da década de 1980 e 1990, que estavam intimamente ligados ao movimento black e aos bailes charme, passando pela Dança da Motinho, e recebendo a então MC Anitta no início de sua carreira, a Furacão 2000 se transformou e consolidou o funk carioca no restante do Brasil com o passar dos anos.
Acontecimentos recentes como a prisão do DJ e produtor Rennan da Penha e a denúncia do Ministério Público do Rio de Janeiro por associação ao tráfico de drogas contra o MC Poze do Rodo reacenderam o debate sobre a criminalização do funk. Historicamente, o movimento é constantemente ligado ao crime e ao perigo. Em 1995, foi aberta na Câmara Municipal do Rio de Janeiro uma CPI que planejava interditar locais que reproduzissem o ritmo e que fizessem apologia a esse tipo de música.
Mesmo em 2020, o preconceito com o funk está ligado à raça e à classe social de onde surge. Nascido e criado nas comunidades da Cidade Maravilhosa, o ritmo veio de bailes nas favelas, como os produzidos pela Furacão 2000. Durante a década de 1990, a Furacão teve um programa de TV, primeiro da Rede CNT e depois na Band Rio, apresentado por Rômulo Costa e Priscila Nocetti. O programa, que trazia MCs, rappers e grupos de dança, era inspirado no icônico da tevê norte-americana Soul Train, que levava ao palco grupos de hip hop, R&B e soul durante a programação.
Nesse período, o funk era muito mais parecido com o melody, que cantava canções de amor, e com o próprio R&B, do que com o ritmo sensual e dançante que conhecemos hoje. A frase do hit Rap da Diferença, de MC Markinhos e MC Dolores, que questionavam "qual a diferença entre o charme e o funk?" aproximava as duas cenas. O "batidão" e o "pancadão" do funk foram influenciados pelo Miami Bass, estilo que ganhou notoriedade nos Estados Unidos na década de 1980 e que rapidamente se espalhou pela América Latina. É dele que nasce a sensualidade do funk e os movimentos sincronizados com a batida forte.
No início da década de 2000, alguns álbuns da produtora começaram a popularizar para o restante do Brasil o ritmo que descia dos morros e tomava já não só os asfaltos, como as rádios e os bailes do restante do Brasil. Antes disso, a Furacão 2000 já tinha lançado discos como Black Soul Discotheche, populares nos bailes e festas soul das décadas anteriores.
O CD Furacão 2000 - Tornado muito nervoso, em dois volumes, reuniu clássicos do funk como Um tapinha não dói e Jonathan da Nova Geração. Com Twister Techno Funk e Festa Techno, Vol 2, a Furacão 2000 popularizou versões techno de funks como Pocotó Beat, de MC Serginho, e o hit Cerol na mão, do Bonde do Tigrão. O álbum trazia com beats mixados do tradicional pancadão com a batida do techno, derivado da música eletrônica que se popularizou nos últimos anos entre a cena alternativa brasileira.
Com os DVDs Tsunami I e II, a equipe foi além da música, levando sua tradicional parede de caixas de som para televisões de todo o Brasil. Na coletânea de shows, estavam presentes Os Hawaianos, MC Menor do Chapa, MC Créu. O funk agora já era um sucesso nacional, com bailes e festas populares em todo o País, além de rádios que tocavam majoritariamente o ritmo. A estética dos bailes chegava nas capitais através dos DVDs: os cabelos, o estilo de maquiagem, até as roupas usadas pelas dançarinas e MCs era reproduzido.
Entre 2000 e 2010, a participação das mulheres no funk começou a crescer. Grupos como Gaiola das Popozudas, Tati Quebra-Barraco, MC Bruninha e Perlla também dominavam as paradas de sucesso nas rádios. As músicas falavam sobre a liberdade dos bailes, e a visão feminina sobre a sexualidade, relacionamentos amorosos ou libertação sexual ficaram famosos. Temas como "quem paga o motel sou eu", "agora eu tô solteira e ninguém vai me segurar" e duelos de rimas entre "amantes versus fiéis" ganharam a cena.
O cenário do funk na última década mudou. As roupas e a estética já são bem diferentes. O ritmo somou novos cenários, através das redes sociais, e alçou voo para fora do País. Nomes como MC Fiotti, Kevin O Chris, MC Lan e a própria precursora Anitta traçaram parcerias com artistas internacionais em versões em inglês de seus hits. O funk conquistou visibilidade e seu mercado é milionário.
O que era um movimento ligado às comunidades e à população de classe baixa, hoje, é um produto multinacional que influencia a moda e a estética jovem brasileira. O hit da Furacão 2000, do início dos anos 2000, Tá tudo dominado, nunca esteve tão correto.
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