Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Cultura

- Publicada em 20 de Agosto de 2020 às 17:45

A simplicidade na grandeza da autora Cora Coralina, que seria aniversariante do dia

Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas assumiu pseudônimo após muitos anos escrevendo sem publicar nenhum livro

Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas assumiu pseudônimo após muitos anos escrevendo sem publicar nenhum livro


EDSON BEÚ/ARQUIVO MUSEU CASA CORA CORALINA/DIVULGAÇÃO/JC
Roberta Requia
A obra de Cora Coralina, cujo nascimento completa 131 anos nesta quinta-feira (20), percorreu elementos de sua vida: a infância no interior, a vida na Casa da Ponte em Goiás e, como tantos outros nomes femininos apagados pela história, a vida da mulher nascida no século IXX. A escritora, que estudou apenas até o terceiro ano de escola, publicou seu primeiro livro com 76 anos de idade, mesmo escrevendo desde a adolescência.
A obra de Cora Coralina, cujo nascimento completa 131 anos nesta quinta-feira (20), percorreu elementos de sua vida: a infância no interior, a vida na Casa da Ponte em Goiás e, como tantos outros nomes femininos apagados pela história, a vida da mulher nascida no século IXX. A escritora, que estudou apenas até o terceiro ano de escola, publicou seu primeiro livro com 76 anos de idade, mesmo escrevendo desde a adolescência.
A vida de Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, nome verdadeiro do pseudônimo de Cora Coralina, começou em 20 de agosto de 1889. A Casa da ponte, residência em estilo colonial nas margens do Rio Vermelho, onde passou a maior parte de sua vida e que serviu de inspiração para alguns de seus poemas, atualmente abriga o Museu Casa de Cora Coralina. O espaço, que funciona como centro de memória da escritora, está fechado por conta da pandemia. No site, há espaço para doações e outras maneiras de apoiar o local.
Mesmo ganhando reconhecimento ainda em vida, aproximadamente metade de seus livros foram publicações póstumas. Poemas dos becos de Goiás e estórias, sua primeira obra publicada, trata o leitor com uma certa sinceridade, onde percebemos a intimidade da escritora com as letras e seus escritos. Muitos dos poemas e crônicas de Cora Coralina foram publicados em jornais de Goiás da época, fazendo com que seu nome já fosse reconhecido nos ciclos literários e intelectuais do estado. A poeta inclusive chegou a dirigir o semanário A Rosa junto com as poetas Leodegária de Jesus, Rosa Godinho e Alice Santana.
Em 1911, Cora mudou-se para São Paulo com o advogado Cantídio Tolentino de Figueiredo Bretas, Chefe de Polícia do estado de São Paulo, que viria a ser seu marido e pai de seus seis filhos. Presa na vida matrimonial, Ana teria sido impedida pelo esposo de participar da Semana de Arte Moderna em 1922. Assim, a doceira, profissão a qual dedicou grande parte de sua vida, afastou-se da cena literária. Cantídio morreu após 22 anos de sua união. Cora viveu ainda um longo período aprisionada na criação dos filhos, confessando a sentir-se completamente livre somente após seus casamentos. Em sua obra, ela se referiu escassamente sobre essa fase de sua vida.
Em 1965, após muitas décadas longe de sua cidade natal, que lhe serviu de tanta inspiração, Cora volta a Goiás e fixa moradia novamente na Casa da Ponte. Nessa época, a poeta relatou em algumas entrevistas ter passado por uma espécie de transformação interior, definindo mais tarde como “a perda do medo”, desligando-se das obrigações domésticas da época com os filhos e o falecido marido.
Não é por acaso que durante esse período, deixou de atender pelo nome de batismo e passou a assumir o pseudônimo artístico que havia escolhido para assinar suas obras há muitos anos. Durante esses anos, Cora passa a escrever poemas relacionados com sua história pessoa, a cidade em que nascera e o ambiente em que fora criada. Com palavras simples e poderosas, vindas de uma grande poeta que da escola aprendera apenas o letramento básico acerca das regras da gramática, sua obra e produção artística passam um certo aconchego ao leitor, priorizando a mensagem a ser passada ao invés da forma. Preocupada em entender o mundo, traduzia em formatos simples o papel real do que gostaria de representar, buscando respostas através do cotidiano e a simplicidade da vida.
Aos 84 anos de idade, no ano da publicação de sua terceira obra, o livro de poesia Vintém de cobre – Poesias de Aninha, Cora Coralina recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Federal de Goiás. No mesmo ano foi eleita, por unanimidade, para ocupar a cadeira 38 da Academia Goiana de Letras, cujo patrono é Bernardo Guimarães. Cora, enfim, tornava-se canônica.
Cora Coralina morreu aos 95 anos, no dia 10 de abril de 1985, a tempo de ser reconhecida como uma das maiores poetas do Brasil e uma das pessoas mais importantes de seu estado. Sua bibliografia conta com mais de 15 livros publicados. A pequena e franzina Ana foi, sem sombra de dúvidas, uma mulher à frente de seu tempo, que cultivou através de seus doces, e principalmente através da sua poesia, a beleza encontrada por trás da simplicidade de todas as coisas.
Conteúdo Publicitário
Leia também
Comentários CORRIGIR TEXTO