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Cultura

- Publicada em 04 de Agosto de 2020 às 19:06

Premiado autor gaúcho Olavo Amaral destaca a singularidade da escrita

Também médico e professor, ele vivencia pandemia no Rio de Janeiro, onde mora com esposa, filho e enteado

Também médico e professor, ele vivencia pandemia no Rio de Janeiro, onde mora com esposa, filho e enteado


ARQUIVO PESSOAL/DIVULGAÇÃO/JC
Roberta Requia
Médico de formação, pesquisador, professor e pai de um bebê de oito meses, o escritor gaúcho Olavo Amaral vivencia a pandemia de seu apartamento no Rio de Janeiro onde reside com o filho, o enteado e a esposa. "Hoje em dia, um bebê aparecer correndo em uma reunião on-line é uma coisa normal", brinca durante a conversa. Olavo concedeu uma entrevista via e-mail e videoconferência ao Jornal do Comércio.
Médico de formação, pesquisador, professor e pai de um bebê de oito meses, o escritor gaúcho Olavo Amaral vivencia a pandemia de seu apartamento no Rio de Janeiro onde reside com o filho, o enteado e a esposa. "Hoje em dia, um bebê aparecer correndo em uma reunião on-line é uma coisa normal", brinca durante a conversa. Olavo concedeu uma entrevista via e-mail e videoconferência ao Jornal do Comércio.
Olavo Amaral é professor associado no Instituto de Bioquímica Médica da UFRJ e autor de três livros, sendo que o último, Dicionário de línguas imaginárias (Alfaguara, 2017) foi vencedor do Prêmio da Academia Rio-grandense de Letras na categoria Contos em 2019. Atualmente, continua atuando em pesquisas acadêmicas de maneira remota e em tempo integral.
Entre brinquedos de montar e balbucios do pequeno Caio que, mesmo de fraldas, foi presente na entrevista, Olavo falou sobre o excesso de informação e a preservação da liberdade de narrativas que a literatura proporciona nesse momento. "Se por um lado muita gente está em isolamento físico, por outro tenho a impressão de que o mundo nunca esteve tão conectado, com os mesmos assuntos - e a mesma linguagem - reverberando em todo lugar. Não faço ideia de que tipo de literatura isso vai produzir, mas parece um bom paradoxo pra explorar", compartilhou o escritor.
Olavo já escreveu algumas vezes para a revista Piauí e, recentemente, publicou uma crônica bem-humorada na coluna de Gregório Duvivier no jornal Folha de S.Paulo. No texto, um avião entra em área de turbulência enquanto os passageiros se recusam a afivelar o cinto de segurança: "Na minha opinião, o que funciona é abrir um guarda-chuva, pra usar de paraquedas se a fuselagem se romper!", diz um dos personagens da crônica, enquanto os demais discutem outras medidas nada ortodoxas contra as normas recomendadas, sobre os interesses políticos e até monetários por trás do uso do cinto.
Olavo trata de forma bem-humorada e com ares tragicômicos da situação do País no momento de pânico. "Acho que a crise que vivemos não é de falta de informação, e sim de excesso. Com as redes sociais, há uma proliferação tão grande de narrativas que é muito fácil escolher a que mais convém pra provar o que quer que se queira." Para ele, a negação em torno do vírus e das medidas de segurança são questões que vão além da simplicidade, e que esse tipo de negação não se atrela somente à saúde e à ciência: "A psicologia de grupo sempre foi um determinante mais forte daquilo em que acreditamos do que a evidência científica, e isso só se tornou mais evidente com o advento das redes sociais".
Com reuniões e aulas via videoconferência, o escritor concorda que a pandemia tem criado e influenciado uma mudança na linguagem e na maneira como nos comunicamos. "Acho que a pandemia teria dado um bom conto do Dicionário de línguas imaginárias: o distanciamento social tem nos forçado a experimentar com formas de comunicação e linguagem bem distintas das que estamos acostumados", e completa: "Não costumamos nos dar conta do quanto a dinâmica da comunicação em grupo - em uma mesa de bar ou em uma sala de aula - tem impacto na construção de identidades".
Em sua opinião, isso também altera na maneira como a literatura lida com esse tipo de momento. "Ter o mundo todo vivendo uma única narrativa, ainda que seja fascinante, pode ser empobrecedor para o diálogo e para a diversidade de ideias." Para ele, a literatura, mesmo que pareça impotente para mudar o curso da história coletiva, tem o papel de criar e fomentar o espaço para narrativas individuais e diversificadas: "Mesmo que silenciosamente, ela ainda possibilita diálogos individuais e espaços mentais singulares onde novas ideias podem nascer. Não tenho certeza se é uma opinião de consenso, mas é o que ainda me move a escrever, e que faz com que não conseguir fazê-lo faça falta".
Embora more no Rio de Janeiro há 10 anos, o escritor se mantém conectado com Porto Alegre através de trabalhos, familiares e até mesmo seu antigo apartamento no bairro Bom Fim. Ele brinca sobre a saudade da família e a possibilidade de deixar as crianças aos cuidados da avó, para que possa se dedicar à escrita. Recentemente, finalizou a primeira versão de seu livro de não ficção, sobre como fatores científicos e não-científicos interagem para definir questões importantes em saúde.
Seu próximo livro de ficção, seja ele dicionário ou de contos, ficará na espera de períodos mais calmos para o escritor, cientista e pai: "Tenho anotado coisas, pensado bastante e acompanhado o debate na medida do possível, mas é provável que a escrita em si vá ter que esperar a escola voltar".
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