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Cultura

- Publicada em 03 de Agosto de 2020 às 15:20

Cinquenta anos da morte de Oscarito, que fez comédia à brasileira

Artista segue reverenciado como um dos nomes máximos do humor no País

Artista segue reverenciado como um dos nomes máximos do humor no País


ARQUIVO NACIONAL/DIVULGAÇÃO/JC
Igor Natusch
Dizer que Oscar Lorenzo Jacinto de la Imaculada Concepción Teresa Días tinha a arte no sangue não é, de forma alguma, uma simples força de expressão. Na verdade, talvez fosse possível dizer que Oscarito tinha a comédia nos genes, mesmo: seus pais, Oscar e Clotilde Teresa, eram descendentes de famílias com mais de 400 anos de tradição circense.
Dizer que Oscar Lorenzo Jacinto de la Imaculada Concepción Teresa Días tinha a arte no sangue não é, de forma alguma, uma simples força de expressão. Na verdade, talvez fosse possível dizer que Oscarito tinha a comédia nos genes, mesmo: seus pais, Oscar e Clotilde Teresa, eram descendentes de famílias com mais de 400 anos de tradição circense.
Falecido há exatos 50 anos, no dia 4 de agosto de 1970, o ator não deixou sua dinastia na mão, pelo contrário: é amplamente considerado um dos maiores comediantes brasileiros de todos os tempos, deixando uma marca decisiva no imaginário brasileiro.
Oscarito nasceu em Málaga, na Espanha, em 16 de agosto de 1906. Mas se mudou para cá com pouco mais de um ano de idade, e sempre corrigiu quem o chamasse de espanhol: brasileiro, isto sim, e estamos conversados.
De fato, vir ao mundo na Espanha foi pura circunstância. As lonas do circo de sua família estavam armadas em Portugal até três dias antes do parto - e, tivesse nascido uns poucos dias depois, poderia dizer aos quatro ventos que era cidadão marroquino, já que a companhia rumou ao país africano logo depois do parto. "Podia ter nascido na China ou no Polo Norte", disse o próprio, em uma entrevista nos anos 1960. "Sou brasileiro puro, na batata."
Veio cedo para o Brasil, e no Brasil construiu sua vida. Estreou no palco com cinco anos, vestido de índio, em uma adaptação de O guarani, de José de Alencar. Passou a infância percorrendo o Brasil, atuando em pequenos quadros de comédia e fazendo figuração em quadros de acrobacia da mãe e da irmã. Mais tarde, também atuou no picadeiro como palhaço e trapezista.
Experimentou muitas artes, mas foi como ator que se encontrou. Curiosamente, um dos passos decisivos em sua carreira se deu após ser vítima de uma trapaça. Determinado a tirar Oscarito do Teatro Recreio, onde surgiu no Teatro de Revista em 1932 com a peça Calma, Gegê, o proprietário da Companhia Trololó, Jardel Jércolis, não se deixou levar pelas recusas iniciais. Chamou o ator para um encontro, alegou que a companhia perderia o aluguel do Teatro Carlos Gomes se o astro não estivesse no elenco, e propôs: era só o artista assinar a lista de atrações que seria apresentada ao teatro, depois se dizendo que havia ocorrido um problema de agenda e ficando tudo por isso mesmo. Ingênuo, e achando que estava prestando um favor, Oscarito assinou - e o papel de mentirinha ganhou peso de contrato, que o ator precisou cumprir para não ficar mais de ano sem atuar.
Após anos de sucesso no teatro, Oscarito faria a ponte para o cinema, tornando-se rapidamente uma estrela nacional. Seu primeiro papel de destaque foi em 1939, no filme Banana da terra, da Sonofilmes - película que tinha na trilha sonora O que é que a baiana tem?, samba imortalizado por Carmem Miranda. Mas foi na Atlântida, a partir de Tristezas não pagam dívidas (1944), que o nome Oscarito subiu ao topo do cinema nacional. No ano seguinte, com Não adianta chorar, nasceu a "dupla do barulho" com o também genial Grande Otelo, a mais bem-sucedida da história da chanchada brasileira.
Se nomes como Cantinflas ou mesmo Charles Chaplin eram ícones lá fora, o Brasil dos anos 1940 e 1950 fazia fila para assistir as películas de Oscarito. Foram 46 aparições na telona. Colégio dos brotos (1956) teve 250 mil espectadores na primeira semana de exibição, recorde absoluto para a época, enquanto Carnaval do fogo (1949, onde faz uma paródia da peça shakespeareana Romeu e Julieta) e Nem Sansão nem Dalila (1954, deboche em cima da obra de Cecil B. de Mille) são vistos até hoje como clássicos do cinema nacional. Tudo isso sem abandonar o teatro, onde seguiu empilhando sucessos - e intercalando com aparições no rádio e na televisão, onde capitaneou as Trapalhadas do Oscarito na TV Tupi. Segundo Carlos Manga, que dirigiu vários de seus filmes, só faltou a Oscarito ter nascido na Inglaterra ou nos Estados Unidos para ser reconhecido como um gênio mundial.
Nasceu na Espanha, virou gente e lenda no Brasil. Casou-se em 1934 com a atriz Margot Louro, que viraria parceira artística; quem os viu à época diz que os dois eram inseparáveis. Tinha orgulho de dizer que seus filhos, Myrian e José Carlos, eram brasileiros. Diz-se que recusou convites para trabalhar em Hollywood - o que pode parecer absurdo para alguns, mas apenas na medida em que se ignore o enorme sucesso que experimentou por aqui.
Passadas cinco décadas de sua morte, as honrarias seguem muitas. No Festival de Gramado, o Troféu Oscarito é deferência aos que, como o ator, deixaram uma marca profunda no cinema brasileiro. Não deixa de ser irônico que a naturalização desse grande brasileiro só tenha saído em 1949, quando ele residia há quase quatro décadas no País. Mas já não fazia diferença: o Brasil já dera tanta risadas com Oscarito que jamais o deixaria ir embora, mesmo que ele quisesse.
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