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Cultura

- Publicada em 29 de Julho de 2020 às 19:38

Desenhista e ilustrador pelotense lança livro 'Brasil'

Produzido durante isolamento, novo título de Rafael Sica propõe reflexão sobre uso da terra no País

Produzido durante isolamento, novo título de Rafael Sica propõe reflexão sobre uso da terra no País


RAFAEL SICA/REPRODUÇÃO/JC
Igor Natusch
"Um livro sobre a prática danosa de transformação do País dessas tantas coisas em um País de uma coisa só". É assim que o desenhista e ilustrador gaúcho Rafael Sica descreve seu novo livro Brasil (Caderno Listrado, 48 págs., R$ 50,00), que está em pré-venda até o dia 5 de agosto em seu site oficial.
"Um livro sobre a prática danosa de transformação do País dessas tantas coisas em um País de uma coisa só". É assim que o desenhista e ilustrador gaúcho Rafael Sica descreve seu novo livro Brasil (Caderno Listrado, 48 págs., R$ 50,00), que está em pré-venda até o dia 5 de agosto em seu site oficial.
A obra reúne uma série de desenhos, sem diálogos ou narrações, que propõem uma reflexão sobre a questão da terra em nosso País. A tiragem é de 200 exemplares, e todos os itens são produzidos de forma artesanal, incluindo uso de serigrafia e encadernação costurada à mão.
Brasil começou a ser produzido logo nos primeiros dias de distanciamento social, e tomou forma rapidamente. Nas páginas do livro, surgem questões como desmatamento, o uso de agrotóxicos, o avanço do agronegócio e a situação dos povos indígenas, entre outras. "É um tema muito amplo e abrangente, mas quis abordá-lo a partir das políticas públicas. O papel do governo seria de controlar esse avanço, a única política que deveria ser adotada é a de preservação. Mas o que vemos é bem o oposto, uma política de avanço, de passar por cima. (O livro) é uma visão de artista sobre essas questões", explica.
No final do ano passado, Sica havia lançado, pela Lote 42, o livro Triste - outra obra introspectiva, apresentando uma série de desenhos sobre um personagem solitário, perdido em uma série de paisagens e ambientes aos quais parece incapaz de se conectar. Um tema que, convenhamos, traz muitos paralelos com a realidade que vivemos atualmente. Para o azar do desenhista, porém, a pandemia de Covid-19 surgiu no Brasil pouco depois do lançamento, criando sérias dificuldades para a divulgação da obra. "Para quem vive do desenho, em especial da venda em lojas independentes, é muito necessário que andemos com o livro por aí. O sucesso de um projeto depende do nosso empenho físico também, de fazer a obra circular. Não poder fazer isso me prejudicou bastante", lamenta.
Rafael Sica é, pelo menos em alguns aspectos, uma pessoa solitária. Ele não tem perfil nas redes sociais, limitando sua presença digital à divulgação e venda de suas criações.
Como explica o próprio, a própria natureza de seu trabalho exige a presença constante diante da mesa de desenho - de forma que, ao menos no que se refere ao processo criativo, o novo coronavírus não trouxe mudanças radicais em sua rotina. "É claro que há dificuldades, desde essa questão de perder completamente a tranquilidade para sair até coisas mais básicas, como comprar papel mesmo, que ficou muito mais difícil. Mas estou produzindo como sempre produzi", afirma.
E boa parte desse fluxo contínuo se dá, segundo ele, a um aprendizado sobre os próprios processos. "Acho que a maturidade com o trabalho foi me trazendo essa ideia, de nunca sentar para trabalhar na frente de um papel em branco. Eu valorizo muito a parte do planejamento, de começar a desenhar com a coisa já bem digerida e estudada", explica.
Quanto às palavras, ele prefere deixar que os desenhos falem por ele - tanto na esfera artística quanto na pessoal. "Tento deixar o foco para o meu trabalho, as minhas opiniões vêm por meio do meu desenho. Nunca quis colocar a minha pessoa como protagonista, mesmo antes dessa febre das redes sociais, até porque não acho que haja tanta coisa interessante assim na minha vida", brinca.
Uma liberdade de dizer que, muitas vezes, acaba colidindo com o desagrado alheio. Recentemente, o cartunista Aroeira viu-se alvo de uma ação do governo federal, que ameaçou enquadrá-lo na bolorenta Lei de Segurança Nacional após uma charge na qual o presidente Jair Bolsonaro aparecia pichando uma suástica. "Ao que parece, (o desenho) é perigoso para quem está implementando esse tipo de política (repressiva). É perigoso que as pessoas reflitam, estudem e pesquisem - mas não para nós mesmos, e sim para esse tipo de governo, que não quer que haja pensamento contrário. Mas, no fundo, a posição de artista sempre envolve um pouco de risco. Eu vou seguir fazendo o meu trabalho, desenhando e observando", garante Sica.
Observar é um processo que, por óbvio, traz em si mesma um convite para reflexão - em especial nesses dias em que todo mundo fica em casa bem mais tempo do que estava acostumado. "A nossa cabeça pensa muito em termos de relógio e calendário, e uma coisa que nos foi roubada (pela pandemia) é o amanhã. Estamos literalmente vivendo um dia depois do outro", pondera. "Acho que dá para tirar disso tudo a lição de que não somos o centro das coisas, que o ser humano não é o centro do universo. Parece um papo meio hippie falar nisso, mas estamos ligados a todas as coisas da natureza, e é necessário fazermos uma pausa para pensar sobre isso."
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