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música

- Publicada em 08 de Julho de 2020 às 21:16

Morte de Vinicius de Moraes fecha ciclo de quatro décadas nesta quinta-feira

Diplomata, escritor, compositor e cantor, o Poetinha foi um dos maiores nomes da cultura popular do País pelo mundo afora

Diplomata, escritor, compositor e cantor, o Poetinha foi um dos maiores nomes da cultura popular do País pelo mundo afora


CARLOS PINHO/DIVULGAÇÃO/JC
Há exatos 40 anos, silenciava-se, em uma casa no bairro da Gávea, no Rio de Janeiro, um dos nomes mais singulares da música e da literatura brasileira. Vinicius de Moraes, que nasceu com o nome de Marcos Vinicius de Melo da Cruz Moraes, morreu de edema pulmonar, aos 66 anos, em 9 de julho de 1980.
Há exatos 40 anos, silenciava-se, em uma casa no bairro da Gávea, no Rio de Janeiro, um dos nomes mais singulares da música e da literatura brasileira. Vinicius de Moraes, que nasceu com o nome de Marcos Vinicius de Melo da Cruz Moraes, morreu de edema pulmonar, aos 66 anos, em 9 de julho de 1980.
Além de poeta e compositor, foi diplomata no Itamaraty e passou grande parte da vida no exterior, o que lhe aproximou de diversas personalidades artísticas como Orson Welles e outros nomes de Hollywood. No documentário Vinicius (2005), disponível na Netflix e dirigido por Miguel Faria Júnior, amigos revelam em entrevista que, segundo regras estabelecidas pelo Ministérios das Relações Exteriores, ele só poderia cantar, enquanto diplomata, se estivesse vestindo terno e gravata, e que não poderia receber cachê pela apresentação.
Aos 56 anos, foi exonerado do cargo após a publicação do AI-5 durante o regime militar. "Mesmo quando no exercício de missões diplomáticas em outros países, o poeta da paixão nunca esqueceu o Brasil. O amor pelo País, bastante focado no Rio, ganha corpo em toda a obra, entranha-se na cultura por ele deixada e transformada", afirma a ex-professora do Instituto de Letras da Ufrgs, Maria do Carmo Campos.
A genialidade e a intensidade de Vinicius acompanhavam a abrangência de seu trabalho. Intenso, escrevia com gana à vida, à paixão e a todos os sentimentos sofríveis do ser humano. Em seus poemas e sonetos, usava a estrutura tradicional da poesia para falar uma linguagem universal, de fácil compreensão.
Em talvez seu poema mais famoso, o Soneto de fidelidade, Vinicius perpetuou uma das mais célebres frases de amor da literatura brasileira: "Que não seja imortal, posto que é chama; Mas que seja infinito enquanto dure". O poema foi composto para sua primeira esposa, enquanto esperava um navio em Portugal, no ano de 1939.
A pós-doutora em crítica de poesia Mires Bender explica a composição que constrói os versos de maneira tão palpável a quem os lê: "Ele segue a estrutura básica do soneto petrarquiano, o qual apresenta uma sequência de estágios em que os dois primeiros quartetos fazem surgir e crescer uma expectativa e os dois tercetos apresentam uma progressão para o desfecho".
A pesquisadora também relata que Vinicius talvez tenha sido o poeta moderno que mais explorou a forma concisa do soneto: "Seu caráter de sonoridade deve ter chamado a atenção deste poeta tão ligado à música. Vamos encontrar com frequência aquilo que os poetas denominam 'pedras de toque', que são versos de alto valor poético. É interessante observar que os sonetos de Vinicius seguem a composição camoniana, não só nos temas", relata Mires.
Além da própria bossa nova, Vinicius contribuiu intensamente para a visibilidade da cultura brasileira no exterior. Um de deus grandes trabalhos foi a peça Orfeu da Conceição, encenada em 1965. A história é uma adaptação do mito grego de Orfeu e Eurídice, uma odisseia amorosa com um final trágico.
Nesta versão escrita por Vinicius, o romance acontece em uma favela no Rio de Janeiro durante o Carnaval, e contou com um elenco inteiramente formado por pessoas negras. Foi a primeira vez que atores pretos pisaram no palco do Teatro Municipal do Rio. "Vinicius tirou a poesia de círculos herméticos e levou ao alcance do povo. Mas, principalmente, o poeta engajou pessoas, dentro e fora do Brasil, à sua disposição em romper com preconceitos de raça e de classe", declara Mires.
Levando Eurídice e Orfeu cariocas para voos internacionais, a peça também virou filme, com produção de Vinicius e dirigido pelo francês Marcel Camus. O título Orfeu Negro (1959) ganhou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e a Palma de Ouro no Festival de Cannes. Com cenário de Oscar Niemeyer e música de Antonio Carlos Jobim, foi um dos primeiros de muitos trabalhos conjuntos de Vinicius e Tom, dando início a uma amizade que se perpetuaria para fronteiras além do Brasil com o surgimento da bossa nova e, mais tarde, em 1962, com a clássica Garota de Ipanema.
Mesmo 40 anos após sua morte, o gigantesco legado do poeta estende-se pelas artes até os dias de hoje, influenciando escritores e músicos com seus versos e cantos, linhas e melodias majestosas, que perpetuaram Vinicius de Moraes como um dos nomes mais importantes da cultura brasileira. Sua necessidade de continuar buscando a intensidade em todos os seus atos foi um dos fatores para que tenha se permitido, ao longo de sua carreira, produzir com paixão e talento trabalhos tão diversos em sua carreira.
"Para compor a sua experiência de amor, poesia e música, ele logo descobriu que 'a vida não é de brincadeira' e rumou para a arte do encontro, o que ancorou a sua plena liberdade de poeta", conclui Maria do Carmo.

Saudades do Poetinha em diferentes manifestações

História do gênio dos versos pode ser assistida no documentário Vinicius, de Miguel Faria Jr., disponível na Netflix

História do gênio dos versos pode ser assistida no documentário Vinicius, de Miguel Faria Jr., disponível na Netflix


PARAMOUNT/DIVULGAÇÃO/JC
Para marcar a data, o pianista Kiko Continentino e a cantora Lucynha Lima promovem nesta semana o especial de lives Saudades do poeta. O casal tem uma trajetória de muito prestígio na música. Continentino é integrante do lendário grupo Azymuth e pianista de Milton Nascimento há 20 anos. Já Lucynha possui uma trajetória como educadora e cantora e coleciona parcerias com nomes como Jane Duboc, Altay Veloso, Arthur Maia e Leo Gandelman.
Nesta quinta-feira (9), na apresentação Lucynha canta Vinicius, a cantora interpreta algumas das parcerias do poeta com Tom Jobim, Carlos Lyra, Edu Lobo e Baden Powell, acompanhada por Kiko Continentino. No sábado (11), encerrando a programação, a dupla apresenta Vinicius para crianças, show voltado ao público infantil, com algumas das canções do álbum A Arca de Noé (1980), feito em parceria com Toquinho.
As transmissões ao vivo ocorrem às 19h, nos dois dias, pelo Facebook e Instagram (@kikocontinentino). Os artistas sugerem ao público a contribuição de ingresso solidário na plataforma de financiamento coletivo Catarse.