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Cultura

- Publicada em 07 de Julho de 2020 às 19:11

Cantora argentina Mercedes Sosa completaria 85 anos nesta quinta-feira

Artista consagrou-se como a grande voz do povo latino-americano

Artista consagrou-se como a grande voz do povo latino-americano


YURI CORTEZ/AFP/JC
Igor Natusch
Trago un pueblo en mi voz. Mais do que o título de um dos 40 discos lançados em vida pela argentina Mercedes Sosa, essa frase simples e poderosa resume muito do que envolve uma das cantoras mais amadas da América Latina. Não é à toa que o apelido La Negra ainda é (e provavelmente sempre será) pronunciado com carinho em todos os cantos do continente: nascida há 85 anos, no dia 9 de julho de 1935, ela de fato fez de sua carreira um profundo canto em nome de todos e todas que não têm voz. 
Trago un pueblo en mi voz. Mais do que o título de um dos 40 discos lançados em vida pela argentina Mercedes Sosa, essa frase simples e poderosa resume muito do que envolve uma das cantoras mais amadas da América Latina. Não é à toa que o apelido La Negra ainda é (e provavelmente sempre será) pronunciado com carinho em todos os cantos do continente: nascida há 85 anos, no dia 9 de julho de 1935, ela de fato fez de sua carreira um profundo canto em nome de todos e todas que não têm voz. 
Mesmo porque Haydée Mercedes Sosa veio do povo, e com o povo sempre esteve. Com ancestrais europeus e diaguitas (ligados a povos indígenas de Chile e Argentina), ela nasceu no vilarejo de San Miguel de Tucumán, de mãe lavadeira e pai empregado em um engenho de açúcar. O nome Haydée foi inventado pelo pai na frente da mesa de registro civil, mas a própria família nunca o adotou. Para os parentes, e para ela mesma, se chamava Marta, nome escolhido pela mãe antes da invenção de última hora. 
Começou a cantar quase ao acaso, sem o conhecimento da família. Seus pais, fortemente identificados com o peronismo, foram a Buenos Aires celebrar o então Dia da Lealdade do governo. Enquanto estavam fora, a jovem de 15 anos participou de um concurso em uma emissora de rádio local, no qual cantou Triste estoy, de Margarita Palacios. Sendo praticamente empurrada pelas amigas para o palco, e temendo ser reconhecida mais tarde pelos pais, inventou na hora mais outro nome para si: Gladys Osorio. Venceu e, como prêmio, foi contratada para dois meses de apresentações.
O codinome Gladys não durou muito tempo. Em Mendoza, para onde se mudou em 1957 após se casar com o compositor Oscar Matus, ela logo se transformou em Mercedes Sosa. Foi lá que a cantora se tornou, ao lado do esposo, uma das signatárias do movimento musical e literário Nuevo Cancionero, que buscava incorporar a música popular e regional à vanguarda criativa da América Latina. Em 1965, após o atribulado fim de seu casamento com Matus, Mercedes viu-se em uma situação emocional e financeira muito difícil e, com o filho Fabián nos braços, decidiu mudar-se para Buenos Aires.
Depois de gravar dois álbuns de pouca repercussão, a grande chance da cantora surgiu de forma inesperada naquele mesmo ano, durante o Festival Folklórico de Cosquín. Os organizadores, em consonância com as autoridades argentinas de então, não desejavam que ela participasse do evento, em uma resistência que unia preconceitos étnicos a motivos políticos. Contudo, o músico Jorge Cafrune, então um dos mais populares da cena folclórica argentina, resolveu desafiar a organização e, por conta própria, convidou-a ao microfone. Mercedes, que estava no meio da plateia, subiu ao palco e, acompanhada apenas de um tambor, cantou Canción del derrumbe índio, de Fernando Figueredo Iramain. Recebeu uma ovação histórica, iniciada antes mesmo de encerrar a música, no que ela própria descreveu como "a apresentação definitiva" para sua carreira.
Ainda em Cosquín, assinou com a gravadora Philips, e a partir do disco Yo no canto por cantar (1966) alcançou um sucesso que nunca mais a abandonaria. Notória pelas versões de Atahualpa Yupanqui e Violeta Parra, Mercedes acabou virando La Negra - um apelido vindo do povo, referente à sua origem indígena e que sempre ostentou com muito orgulho.
Voz do povo como era, teve que encarar muitas batalhas contra os autoritários de seu tempo. Mesmo ameaçada e com músicas proibidas pela ditadura de Jorge Videla, recusou-se a deixar a Argentina até 1979, quando foi presa e revistada no palco durante um show em La Plata. Ao voltar do exílio, em 1982, fez uma série de apresentações triunfais, que entraram para a história da resistência latino-americana às ditaduras - e admitiu que precisou cantar sem olhar para o público, para não desabar em lágrimas na emoção do reencontro.
Amou o povo, La Negra, e o povo muito a amou. A consagração internacional, que resultou em incontáveis parcerias (inclusive com heróis da música brasileira como Milton Nascimento, Chico Buarque e Gal Costa), nunca a desconectou de seu chão, e jamais a desviou de seu compromisso contra o imperialismo e a favor dos desvalidos de todo o continente. Morreu em 4 de outubro de 2009, devido a complicações renais. Suas cinzas foram espalhadas pelas três cidades que mais amou em vida: San Miguel de Tucumán, onde nasceu; Mendoza, onde dizia ter sido muito feliz; e em Buenos Aires, onde surgiu para o mundo como uma das mais honestas e inesquecíveis vozes de toda a América Latina.
Para homenagear a diva da canção latina, o cantautor gaúcho Sérgio Rojas fará uma live em seu canal no YouTube nesta quarta-feira (08), às 21h, direto de seu estúdio particular.
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