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Cultura

- Publicada em 30 de Junho de 2020 às 20:17

Lidando com a revolta, Filipe Catto escreve canções e faz lives nas quintas-feiras

Enquanto prepara disco inédito, artista se posiciona sobre um mundo em convulsão

Enquanto prepara disco inédito, artista se posiciona sobre um mundo em convulsão


LORENA DINI/DIVULGAÇÃO/JC
Igor Natusch
O distanciamento social, para Filipe Catto, tem sido um momento de revolta. Mas não aquela revolta imatura, rebeldia sem causa típica do lugar comum. No caso do cantor e compositor, o sentimento traz reflexão e conhecimento de causa, em um misto de luta e renovação. "A gente precisa entender que essa não é mais a era da isenção, que os tempos exigem posição de verdade. O artista inconsequente com seu posicionamento, no longo prazo, não se sustenta mais", acentua, durante conversa virtual com o Jornal do Comércio.
O distanciamento social, para Filipe Catto, tem sido um momento de revolta. Mas não aquela revolta imatura, rebeldia sem causa típica do lugar comum. No caso do cantor e compositor, o sentimento traz reflexão e conhecimento de causa, em um misto de luta e renovação. "A gente precisa entender que essa não é mais a era da isenção, que os tempos exigem posição de verdade. O artista inconsequente com seu posicionamento, no longo prazo, não se sustenta mais", acentua, durante conversa virtual com o Jornal do Comércio.
Desde que o novo coronavírus surgiu no Brasil, Filipe tem ficado em sua casa, em São Paulo, ao lado do namorado. Mas há, é claro, algumas exceções: uma delas foi no mês passado, durante os protestos contra o presidente Jair Bolsonaro e em defesa da democracia. Indo e voltando dos atos, pôde ver as pessoas circulando alegremente pela Avenida Paulista, ignorando o isolamento. E isso não sai de sua cabeça.
"Acho que a gente estava tão desconectado da realidade que, agora, as pessoas estão surtando porque não sabem limpar uma privada", dispara. "Vejo esse pessoal reclamando de isolamento social... Gente que pode ficar em casa, que está vivendo em uma casa que tem todo o conforto possível, todos os benefícios da tecnologia, e fica querendo dar rolê na pracinha? Na boa, sabe? Acho infantil e desumano", opina.
A renúncia temporária ao mundo lá fora não tem pesado tanto, garante. Mesmo porque se insere em uma transformação que vinha de muito antes. "Desde 2016, a partir do golpe de Estado que aconteceu no País, eu vinha me preparando para que as coisas ficassem cada vez piores - e, infelizmente, é isso que vem acontecendo. Fui me despindo de tudo, a minha vida praticamente virou uma cápsula", descreve. "Claro que meu trabalho mudou, eu estou sem os palcos, mas fico feliz de ver que, dentro do possível, eu estava meio que preparado para isso (pandemia). Mas não é fácil, é uma autodisciplina de acordar e fazer a yoga, fazer a comida, limpar a casa", descreve.
Um projeto "espiritual e existencial" que foi condicionado também pelas exigências da carreira. Durante a turnê O nascimento de Vênus, que se estendeu até o final do ano passado, os custos de manter uma equipe na estrada (decorrentes, em boa medida, do cenário hostil à cultura no Brasil) foram gerando um show cada vez mais minimalista. "Quando vi, era praticamente eu sozinha com meu violão, viajando pelo mundo. A partir daí, foi nascendo um conceito de trabalho", descreve. O novo disco, que vem sendo gestado desde 2018, tem como ambiente esse lugar onde só existe a pessoa e a música que vem de si. "Estou tocando muito violão, centrando o trabalho dentro do meu corpo. A ideia do corpo está sendo muito forte para mim, essa coisa de fazer exercício, de meditar, tocar o violão, cantar. E sinto que está me fortalecendo. É que nem malhar."
O novo disco virá, é claro. Mas não pense que Filipe tem pressa - ou, melhor dizendo, que aceita a ideia de que é preciso se apressar. "Eu continuo compondo, mas confesso que estou evitando fazer muitas coisas", diz. "Meu pensamento está com muita revolta ainda, de ter que responder produtivamente a um status quo que nos desamparou completamente. Acho que as pessoas não têm que ser produtivas (durante a pandemia), as pessoas têm que descansar. Elas merecem, diante desse massacre que a gente vive todos os dias, estar comendo, em segurança e tranquilas, sem que se exija nada mais."
Enquanto escreve novas canções, Filipe Catto mantém lives nas redes sociais, em todas as noites de quinta-feira. "É um encontro com fãs", resume, com empolgação. "Fico bebendo, fumando e cantando no videokê, e eu adoro fazer isso. Adoro ver a Pabllo (Vittar, cantora) fazendo comida na casa da mãe dela. E acho que, a partir de agora, o artista é isso aí, quase uma MTV de si mesmo. Acho muito poderoso isso que o artista tem de definir parâmetros de desejo, seduzir pessoas para outras experiências", reflete.
Posições que surgem em turbilhão, transformando comentários quase prosaicos em profundas reflexões. Coisa de quem vive, em tudo que cria e expressa, a verdade da própria existência. "Eu sou uma bicha de Porto Alegre, cresci no Sarandi, eu ia do Sarandi ao Centro a pé de madrugada", conta. "Cresci em uma família gaúcha, conheço esses discursos (de ódio), eu sobrevivi a eles. A gente lutou muito para existir, e eu não fui criada para achar esse tipo de coisa normal. Eu sofro as consequências de ter um posicionamento, sim. Senti o meu público filtrar muito nos últimos anos, e acho que isso é muito positivo, sabe? Hoje eu tenho uma relação ainda mais profunda com o público, e por isso mesmo eu não temo me posicionar."
Atração da próxima Mostra Tum Tum, em Caxias do Sul
Foram divulgados nesta semana os musicistas selecionados no edital da Mostra Tum Tum, que ocorre anualmente em Caxias do Sul. Entre os 10 artistas escolhidos, figura o nome de Filipe Catto, cantor e compositor gaúcho, mas radicado em São Paulo há uma década.
Os outros selecionados foram Bia Nogueira (Minas Gerais), Luê (São Paulo), María Betania Trio (Paraguai/Paraná), Pedra Branca (São Paulo), Smoking Beats (Santa Catarina), Syon (Rio Grande do Sul) e Triuna Mantra (Rio Grande do Sul). Os espetáculos da oitava temporada devem começar apenas no verão, em respeito às ações de combate à disseminação da Covid-19.
A mostra está confirmada e tem recursos captados via Lei de Incentivo à Cultura municipal e apoio cultural das empresas Metadados e Unimed Nordeste RS. A Tum Tum Produtora completa 10 anos em 2020 tendo, entre seus objetivos, aproximar músicos e público.
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