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Cultura

- Publicada em 26 de Maio de 2020 às 01:29

Augusto Britto grava samba crítico 'Líder corrompido'

Com participação de Nei Lisboa (e), single representa novo passo na carreira do músico

Com participação de Nei Lisboa (e), single representa novo passo na carreira do músico


PROJEÇÃO CULTURAL/DIVULGAÇÃO/JC
Igor Natusch
Em meio aos inúmeros gêneros da música, o samba talvez seja um dos que melhor ergue a ponte entre a dor e a animação, a tristeza e o espírito leve. Além de, é claro, ser um universo familiarizado com o posicionamento político. Tudo isso está no coração de Líder corrompido, do músico e compositor Augusto Britto, canção que será lançada como single nas plataformas digitais no dia 9 de junho. Com participação de Nei Lisboa e do grupo Samba e Amor, a faixa traz uma crítica profunda aos recentes rumos da política brasileira. O lançamento é da Loop Discos.
Em meio aos inúmeros gêneros da música, o samba talvez seja um dos que melhor ergue a ponte entre a dor e a animação, a tristeza e o espírito leve. Além de, é claro, ser um universo familiarizado com o posicionamento político. Tudo isso está no coração de Líder corrompido, do músico e compositor Augusto Britto, canção que será lançada como single nas plataformas digitais no dia 9 de junho. Com participação de Nei Lisboa e do grupo Samba e Amor, a faixa traz uma crítica profunda aos recentes rumos da política brasileira. O lançamento é da Loop Discos.
Além de transformar em música a angústia diante da negligência de nossos governantes diante dos sofrimentos da população, a música marca um momento importante na trajetória artística de seu autor. Formado em Música na Ufrgs, Augusto Britto já acumula realizações em 28 anos de vida: é autor de um livro de poesias (Calma, já vai passar, de 2018), trabalhou na curadoria do barco Cisne Branco, em Porto Alegre, e hoje vive em Portugal, onde estuda na Universidade Nova de Lisboa. Tudo isso, é claro, sem nunca deixar o samba de lado, uma paixão que vem desde a adolescência.
Líder corrompido, explica ele, foi escrita em 2016, logo após o impeachment de Dilma Rousseff. Até virar single, a canção foi tocada ao vivo algumas vezes - entre elas, uma ao lado de Nei Lisboa, quando do lançamento do livro de estreia de Britto. A cantora Maria Luiza Fontoura, da banda Samba e Amor, também já havia cantado a música em algumas oportunidades - e foi a partir dessa intimidade que o time de intérpretes para a versão de estúdio foi tomando forma.
A gravação se deu em em fevereiro deste ano, no Estúdio Pedra Redonda, do produtor Wagner Lagemann. Além de Britto (que assume o bandolim) e as vozes de Nei e Maria Luiza, a gravação traz Lucas de Azevedo (violão), Rafa Marques (bateria), Samy Cassali (baixo) e Vorô Silva (cavaco). "A gente teve que rearranjar a música (logo antes da gravação), porque o tom (da voz) do Nei não era o tom da Malu. Ajeitamos a estrutura da música ali, na hora, enquanto o Wagner organizava o estúdio e acabamos gravando ela em dois tons diferentes. A sorte é que os músicos que chamei, além de amigos, são profissionais de altíssimo nível. No fim, foi perfeito o jeito como tudo fluiu, foi um dia bem especial e todo mundo se divertiu bastante", relembra.
A música finalizada, de qualquer modo, não traz uma mensagem que convide a risadas. O sentimento, aqui, é de insatisfação e um tanto de melancolia - explicitado, acima de tudo, no refrão: "Me revolta não poder erradicar de vez o sofrimento/ e mais que tudo não saber se quem controla tudo tá querendo".
"Não vejo (a música) tanto como uma tomada de posição, mas sim como a expressão de um sentimento que desde então só se intensifica, que é o de que nossos líderes não tem como foco principal o bem-estar do nosso povo", explica Britto. "Lembro que, naquela época (2016), fiquei pensando 'quem é esse Temer, qual o sentido desse cara no poder?', e sigo pensando isso sobre nosso atual presidente. É revoltante estar sofrendo e ouvir 'e daí?'. Preferiria dizer que foi um sentimento que tive em 2016 e que isso passou, mas as coisas só pioraram desde então, e de uma maneira que era difícil de imaginar naquela época."
Vendo as coisas a partir de Lisboa, onde cursa Línguas e Literaturas, o gaúcho acaba enxergando de perto o modo como outros olhares veem a degradação do cenário político brasileiro. "Um professor britânico que tenho na universidade comentou comigo, meio tímido, sobre a declaração que Bolsonaro tinha feito de que (o ator norte-americano) Leonardo DiCaprio tinha iniciado o incêndio na Amazônia. Ele disse que a matéria tinha saído na sessão de humor de um jornal da Inglaterra", lamenta. "É bem triste ver o jeito como as pessoas reagem quando dizemos que somos brasileiros. As pessoas nos olham como se tivessem pena."
Seja como for, agora é momento de sobreviver ao novo coronavírus. Uma tarefa que vai exigir muita força de todos que formam o ecossistema da cultura, tanto em Portugal quanto no Brasil. "Todos os músicos e artistas que eu conheço estão sem trabalho e isso é péssimo para a nossa sociedade. A cultura, no entanto, jamais vai morrer. Músicas seguem sendo tocadas e compostas, os artistas seguem dando seu recado sobre o mundo, mesmo que de casa. Torcemos para que esse momento sirva para que nossa sociedade dê o protagonismo merecido para a arte, para que políticas culturais sejam entendidas como essenciais, e que a importância da nossa cultura não volte a ser questionada, como já foi tantas vezes."
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