Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Cultura

- Publicada em 20 de Maio de 2020 às 19:58

Wander Wildner e o (novo) ritmo da vida

Em meio à pandemia, músico não para de compor e ainda cria programa no YouTube

Em meio à pandemia, músico não para de compor e ainda cria programa no YouTube


FERNANDA CHEMALE/DIVULGAÇÃO/JC
Daniel Sanes
"Eu vou no ritmo da vida/ Eu vou no ritmo que a vida me levar", diz a letra de uma das músicas mais conhecidas de Wander Wildner. E é mais ou menos assim, como nos versos de No ritmo da vida, que o eterno ex-Replicantes vai levando sua rotina nestes tempos de isolamento social: compondo muito, fazendo lives na internet e, principalmente, vivendo o presente.
"Eu vou no ritmo da vida/ Eu vou no ritmo que a vida me levar", diz a letra de uma das músicas mais conhecidas de Wander Wildner. E é mais ou menos assim, como nos versos de No ritmo da vida, que o eterno ex-Replicantes vai levando sua rotina nestes tempos de isolamento social: compondo muito, fazendo lives na internet e, principalmente, vivendo o presente.
"Estou usando o mesmo método que adotei no ano passado, com o disco O mar vai muito mais além no meu olhar. Vou compondo e lançando nas redes", explica o músico, que, no dia em que falou ao Jornal do Comércio, já estava com quatro faixas prontas ou em processo de finalização. "Prefiro fazer música por música, porque esse é o processo pelo qual estou passando agora, vivendo cada vez mais o presente, o aqui e o agora."
O "aqui e o agora" de Wander não é mero clichê. Há cerca de um ano, ele deixou a casa onde morava, na praia do Campeche, em Florianópolis, para ficar "rodando el mundo", como diz outra canção sua. "Eu estou nômade desde maio de 2019, quando saí de Santa Catarina, e tenho viajado muito. Sempre viajei, mas no ano passado tive a ideia de ir pra Europa, passei uns três meses lá. Voltei, fiquei fazendo shows e, quando chegou o verão, até tive vontade de voltar pro Campeche, mas não achei um lugar bacana por lá. Então continuei viajando, e daí chegou essa pandemia, que me pegou nômade... Tenho ficado em casas de amigos, sítios, e agora estacionei na casa dos meus pais na praia", afirma.
"Estacionado" em Balneário Gaivota, cidadezinha catarinense de pouco mais de 10 mil habitantes, Wander se divide entre novas composições e a atividade que se tornou uma de suas favoritas nesse período de isolamento: gravar o Wan Wan Show, um programa no YouTube em que não só apresenta versões em voz e violão de suas músicas como também ensina a tocá-las, além de contar histórias. A linguagem, bem didática, se dirige a todos os públicos, mas especialmente ao infantil.
"O Wan Wan Show é um programa de TV pra crianças basicamente. Falar com elas tem sido muito interessante pra mim, pois as crianças prestam atenção de uma outra maneira, mais atenta. Isso é uma coisa que estava me cansando um pouco na noite: fazer shows e as pessoas ficarem conversando, falando no celular e tal, não estava tendo um feedback interessante. Com as crianças, o feedback é maravilhoso", ressalta.
Curiosamente, a proximidade com o público infantil veio das apresentações ao vivo. Segundo Wander, o fato de ele fazer muitos shows em espaços abertos, durante o dia, acabou facilitando a presença de crianças. Cita como exemplo Benjamin Winter, de 13 anos, e João Vitor Viana, de nove, ambos filhos de fãs, que fizeram uma participação especial no disco Power trio ao vivo. Lançado em abril, o álbum registra uma performance ao lado de Georgia Branco (baixo) e Pitchu Ferraz (bateria) no bar Opinião. "Os meninos vinham participando dos shows há algum tempo. Foi daí, inclusive, que surgiu a ideia de fazer um programa pensando nas crianças", observa.
Cansaço da noite, projeto focado na criançada... Aos 60 anos, o bardo punk não é mais o mesmo? Wander contextualiza: "É uma transformação que vem ocorrendo em mim. Sou um mutante, estou sempre aprendendo, vou obtendo consciência das coisas e me transformando", reflete, sobre o contato com o público infantil. Em relação aos shows, deixa claro que o cansaço é decorrente do formato que vinha sendo adotado. "Eu estava fazendo muitas apresentações solo, porque tinha ficado difícil vender os shows com banda, os custos estavam muito altos. Agora, com esse formato de power trio é outra história! A gente queria fazer muitos shows para o lançamento do disco, mas não rolou, por causa do coronavírus. Se surgir a oportunidade mais adiante, a gente vai pra estrada, sim! Com a Pitchu e a Georgia no palco, a atenção das pessoas é diferente, pois estamos em três, o barulho é maior", ri.
Mesmo com a criatividade a mil, Wander não ignora o impacto do coronavírus, que atingiu diretamente a classe artística. "A entrada de dinheiro pra mim é pelos shows, de direito autoral eu recebo muito pouco. Tem também a venda de música pela internet, mas o principal vem dos shows. Fiquei preocupado no começo, mas pensei: 'preciso ter alguma ideia'. E aí vieram as lives. Comecei a investir nisso, vi que tinha possibilidade de monetizar no YouTube, as pessoas podem contribuir... Encontrei uma forma de trabalhar e está sendo bem divertido", resume ele, que nesta sexta-feira (22) participará de uma live na plataforma #CulturaEmCasa, criada pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo e gerida pela Organização Social Amigos da Arte. A transmissão vai ao ar às 21h30min no site culturaemcasa.com.br.
No entanto, Wander percebe que o isolamento social tem um impacto diferente para cada pessoa. Enquanto algumas tentam se reinventar em meio à crise, outras ficam perdidas, sem foco. "A pandemia causa uma prisão física, mas eu sinto que alguns amigos estão presos mentalmente em casa. Tenho amigos supercriativos que não estão fazendo nada! Eles devem estar com medo, pensando muito nisso, e não dá pra pensar só nisso", acredita o músico, que, inicialmente, também se sentia perdido.
"No começo eu fiquei: 'caramba, como é que vai ser agora?', e, quando caiu a ficha, comecei a estudar sobre a pandemia e entender que a coisa era séria e que eu teria que pensar a longo prazo. Muito tempo atrás, aprendi uma coisa com a Luciana Tomasi (produtora de cinema e ex-tecladista dos Replicantes, banda na qual também cuidava da parte financeira): época de crise é a melhor época para investir. Porque está todo mundo parado sem saber o que fazer. Tem que inventar, fazer alguma coisa, porque depois, quando a situação voltar ao normal, tu já tens algo. E eu sempre usei isso na minha vida."
Conteúdo Publicitário
Leia também
Comentários CORRIGIR TEXTO