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Teatro

- Publicada em 13 de Maio de 2020 às 20:18

Ainda sem sede definitiva, Ói Nóis Aqui Traveiz pode encerrar as atividades

Atualmente, grupo teatral paga dois aluguéis, somando cerca de R$ 12 mil

Atualmente, grupo teatral paga dois aluguéis, somando cerca de R$ 12 mil


CLAITON DORNELLES/ARQUIVO/JC
Anunciada no fim de fevereiro, a presença da Terreira da Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz entre as entidades qualificadas para ocupar o Centro Cultural Zona Sul (CCZS), em Porto Alegre, parecia ser um passo decisivo na direção de uma sede definitiva para o renomado grupo teatral gaúcho. A luta, porém, segue longe do fim: segundo a atuadora Tânia Farias, uma das representantes do grupo, o galpão não tem condições de uso, e a chegada do novo coronavírus deixou a reforma ainda mais distante. Uma conjunção de fatores que coloca em risco a própria existência futura da Terreira da Tribo.
Anunciada no fim de fevereiro, a presença da Terreira da Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz entre as entidades qualificadas para ocupar o Centro Cultural Zona Sul (CCZS), em Porto Alegre, parecia ser um passo decisivo na direção de uma sede definitiva para o renomado grupo teatral gaúcho. A luta, porém, segue longe do fim: segundo a atuadora Tânia Farias, uma das representantes do grupo, o galpão não tem condições de uso, e a chegada do novo coronavírus deixou a reforma ainda mais distante. Uma conjunção de fatores que coloca em risco a própria existência futura da Terreira da Tribo.
Pelos termos do acordo firmado com o governo estadual, a entidade ocupará um dos quatro galpões do antigo Artesanato Guarisse, no bairro Tristeza, por um período de cinco anos. A Terreira da Tribo se une às três organizações que já atuavam no local: Associação Gaúcha de Artes Integradas, Primeira Região Tradicionalista e Centro Comunitário de Desenvolvimento da Tristeza, Pedra Redonda, Vilas Conceição e Assunção. Os eventuais reparos ficam a cargo de cada entidade, e é aí que o problema começa: segundo Tânia, o galpão destinado ao grupo apresenta problemas no telhado e no piso, que impedem a realização das atividades previstas.
No momento, a Terreira da Tribo paga dois aluguéis, somando cerca de R$ 12 mil mensais. Um deles é o da atual sede, no bairro São Geraldo, onde funcionam a escola de teatro popular e o centro de experimentação em pesquisa cênica; o outro é um depósito, que guarda quatro décadas de cenários, figurinos e adereços. O espaço no CCZS seria usado para eliminar esse segundo aluguel, criando um museu do Ói Nóis - um respiro bem-vindo nas finanças, em especial, na medida em que a construção do Centro Cultural Terreira da Tribo, prevista há mais de uma década, encontra-se congelada e sem previsão de retomada.
"Ficamos bem felizes (com o edital), porque entendemos que isso poderia vir a ser uma política da secretaria, de transformar imóveis ociosos em espaços vivos da cidade. E a verdade é que não saíram outros editais. Na ausência de outros projetos (mais adequados às necessidades do grupo), acabamos decidindo por pleitear uma das estruturas e colocar ali uma parte do acervo", explica Tânia.
Segundo ela, o orçamento para conserto do telhado está pronto. A prefeitura de Porto Alegre sinalizou com apoio em material de construção ou mão de obra, a partir do cumprimento de penas alternativas. Campanhas de financiamento coletivo (veja aqui como ajudar) e eventos para arrecadar fundos também estavam no horizonte. Muitas das iniciativas, porém, foram congeladas a partir da pandemia. E as contas seguem chegando.
"Se pensarmos que o teatro é a arte da presença, do encontro... Ficamos completamente impossibilitados de conseguir sobreviver por meio de nosso trabalho", lamenta Tânia. "Estamos diante de uma iminência de morte. Fechar a Terreira, para nós, é fechar um espaço importante para a cidade. Estamos batalhando para manter os dois aluguéis, mas quase não há mais editais públicos que garantam a viabilidade de atividades como as exercidas pelo Ói Nóis."

Sem obras há quatro anos

Segundo a atuadora Tânia Farias, galpão no Centro Cultural Zona Sul não tem condições de uso

Segundo a atuadora Tânia Farias, galpão no Centro Cultural Zona Sul não tem condições de uso


PEDRO ISAIAS LUCAS/DIVULGAÇÃO/JC
Pleiteado há mais de 20 anos e com construção prevista há mais de uma década, o Centro Cultural Terreira da Tribo ainda não passou dos alicerces. Cedido pela prefeitura, o terreno no bairro Cidade Baixa está abandonado. O projeto original continha imperfeições que invalidaram o edital e acabou engavetado; o segundo, mais caro, chegou a ser iniciado, em 2016, mas foi suspenso quando ficou claro que os repasses do governo federal seriam insuficientes para a obra. Desde então, está tudo parado.
"Com o que pagamos de aluguel há mais de 40 anos, já teríamos construído mais de uma Terreira", lamenta Tânia Farias, representante do grupo de atuadores. "Precisamos de condições para funcionar ali. Nem que fosse uma estrutura incompleta ou provisória, que pudesse ser aprimorada com o tempo, a partir do apoio de pessoas ligadas ao teatro. O que não queremos é que esse terreno deixe de ser da Terreira da Tribo."
Segundo o secretário municipal da Cultura, Luciano Alabarse, o contrato para financiar a obra foi suspenso a pedido do antigo Ministério da Cultura, já que o custo final saltou de R$ 1,5 milhão para mais de R$ 6 milhões. Como os cofres municipais seguem combalidos, não há perspectiva para a prefeitura assumir os custos, e a obra deve seguir parada. De qualquer modo, Alabarse garante que "a secretaria sempre recebe o pessoal do Oi Nóis, com a atenção que o grupo merece", e diz que segue buscando parcerias capazes de ajudar os artistas nas reformas no Centro Cultural Zona Sul (CCZS). 
Em resposta escrita à reportagem, a Secretaria Estadual da Cultura descarta assumir a reforma do galpão no CCZS, reforçando que "a ocupação daquele espaço é de responsabilidade da entidade parceira e, durante a vigência do termo de parceria, ao Estado só é possível executar aquilo que está previsto no Plano de Trabalho". Embora o principal foco da pasta esteja no enfrentamento dos efeitos da pandemia na área cultural, a nota diz que a secretaria está "fazendo o possível para atender às demandas de cedência de imóveis públicos a instituições privadas relevantes para o meio cultural gaúcho - mas todas mediante chamada pública, por meio de edital".