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Teatro

- Publicada em 22 de Abril de 2020 às 19:56

Shakespeare: um bardo para todas as épocas

'Ophelia', pintura de John Everett Millais, é influenciada pelo dramaturgo inglês, falecido há 404 anos

'Ophelia', pintura de John Everett Millais, é influenciada pelo dramaturgo inglês, falecido há 404 anos


TATE BRITAIN/GOOGLE ART PROJECT/DIVULGAÇÃO/JC
"Não de uma época, mas para todo o sempre." De todas as incontáveis tentativas de descrever a importância de William Shakespeare para a arte mundial, talvez a mais concisa e adequada seja a do escritor Ben Johnson, publicada na introdução da primeiríssima edição das obras shakespearianas, em 1623. Quase quatro séculos depois da publicação do volume original (e da morte de Shakespeare, ocorrida em 23 de abril de 1616), as palavras de Johnson soam quase como uma mistura de poesia e profecia: de fato, o bardo inglês é um nome para os séculos, reconhecido de forma quase unânime como o mais genial e influente autor teatral de todos os tempos.
"Não de uma época, mas para todo o sempre." De todas as incontáveis tentativas de descrever a importância de William Shakespeare para a arte mundial, talvez a mais concisa e adequada seja a do escritor Ben Johnson, publicada na introdução da primeiríssima edição das obras shakespearianas, em 1623. Quase quatro séculos depois da publicação do volume original (e da morte de Shakespeare, ocorrida em 23 de abril de 1616), as palavras de Johnson soam quase como uma mistura de poesia e profecia: de fato, o bardo inglês é um nome para os séculos, reconhecido de forma quase unânime como o mais genial e influente autor teatral de todos os tempos.
Conhecida como Primeiro fólio, em referência ao modo em que foi encadernada, essa edição foi preparada por dois colegas, John Heminges e Henry Codell, atores na companhia que encenou a maior parte das então recém-escritas peças de Shakespeare. Antes disso, as publicações eram esparsas e, em geral, pouco fiéis aos originais: era comum, por exemplo, que pessoas fossem às encenações e anotassem à mão o conteúdo de uma determinada peça, cometendo erros e truncando passagens inteiras nas futuras impressões. O Primeiro fólio traz 36 peças ao todo - e não é à toa que é considerado, hoje, um dos livros mais influentes de todos os tempos: a listagem de obras tornou-se canônica, e, graças a ele, temos versões consolidadas de histórias eternas e inesquecíveis.
A produção conhecida de Shakespeare espalha-se por cerca de duas décadas e meia, e citar suas obras é praticamente fazer uma lista dos principais clássicos da dramaturgia. Depois de comédias como Sonho de uma noite de verão, O mercador de Veneza e Muito barulho por nada, escritas nos últimos anos do século XVI, concentrou-se na produção de tragédias, gerando Hamlet, Otelo e Macbeth, para citar apenas algumas.
Com uma linguagem refinada e profundamente poética, Shakespeare construiu histórias que tocam com maestria em temas universais, e revolucionou conceitos como o solilóquio, quando um ator ou atriz fala consigo mesmo em cena: ao invés de apenas ajudar a explicar a ação, o recurso passou a contribuir para a construção do personagem, revelando dúvidas, angústias, amores e inquietações.
A vida pessoal de Shakespeare é, em sua maior parte, um mistério. E o pouco que se sabe está mergulhado em dúvidas. Não há certeza sequer sobre a data de nascimento do dramaturgo: é sabido que ele foi batizado em 26 de abril de 1564, mas é provável que tenha nascido vários dias antes disso. Pouco ou nada de sabe de sua vida antes do sucesso em Londres, e não existe registro confiável sobre a causa de sua morte - apesar de alguns registros, posteriores ao seu falecimento, darem conta de que teria ficado doente após uma bebedeira com amigos em sua casa.
Muitos estudiosos especulam que seu casamento com Anne Hathaway foi infeliz. O escritor teria até mesmo cometido um suposto desaforo à esposa em seu testamento, deixando a ela apenas "a segunda melhor cama" da propriedade. Outros autores, porém, questionam essa visão, lembrando que ele frequentemente visitava a família em Stratford-Upon-Avon, mesmo trabalhando em Londres, e que a segunda melhor cama da casa de uma família próspera costumava ser a do casal - o que daria ao desejo de Shakespeare uma carga simbólica e, quem sabe, até mesmo romântica.
Quanto à produção do autor, porém, praticamente inexistem divergências. Não há formato de arte que não tenha bebido dessa fonte. Desde a pintura (com obras icônicas como Ophelia, de John Everett Millais) até a escultura, passando por música, literatura e cinema: em todos, são incontáveis as obras que trazem William Shakespeare como motivo, inspiração ou elemento de imaginário.
Obras que tratam não apenas das peças, mas da própria figura difusa e incerta do escritor. Na sétima arte, as supostas infidelidades do autor surgem com tom romântico em Shakespeare apaixonado (1998), e Anônimo (2001) tem como argumento uma das mais antigas teorias de conspiração do mundo da arte: a de que ele, na verdade, nunca teria escrito coisa alguma.
Além dos muitos filmes que levam para a tela grande obras lendárias da dramaturgia, há adaptações tão numerosas quanto variadas, indo desde a animação O rei leão (1994) - uma releitura não de Rei Lear, mas de Hamlet - até o clássico de ficção científica Planeta proibido (1956), baseado em A tempestade, ou o icônico musical Amor, sublime amor (1961), uma modernização de Romeu e Julieta que ganhou 10 Oscar.

Vida pessoal de William Shakespeare é misteriosa e pouco conhecida do público

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NATIONAL PORTRAIT GALLERY/DIVULGAÇÃO/JC