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Cultura

- Publicada em 31 de Março de 2020 às 19:18

Em 'Manacô', James Liberato explora sonoridades brasileiras com pegada jazzística

Quarto disco solo do músico traz parte do material que produziu nos últimos 15 anos

Quarto disco solo do músico traz parte do material que produziu nos últimos 15 anos


ANA CRIS BIZARRO/DIVULGAÇÃO/JC
Igor Natusch
Para muitos artistas, um álbum vai além da simples função de vender cópias e servir de justificativa para shows, servindo para pontuar momentos chave de uma trajetória instrumental ou criativa. No caso de James Liberato, as sete faixas de Manacô são a fotografia de um momento, em mais de um sentido. Na fronteira entre o jazz característico de sua obra e as sonoridades brasileiras e sul-americanas, o músico captura em seu quarto CD solo muito do que criou durante os 15 anos desde Sotaque Brasil (2005), seu disco anterior - ao mesmo tempo em que dá a essas canções o sabor fugidio do improviso, em arranjos que se tornam tão marcantes quanto irrepetíveis.
Para muitos artistas, um álbum vai além da simples função de vender cópias e servir de justificativa para shows, servindo para pontuar momentos chave de uma trajetória instrumental ou criativa. No caso de James Liberato, as sete faixas de Manacô são a fotografia de um momento, em mais de um sentido. Na fronteira entre o jazz característico de sua obra e as sonoridades brasileiras e sul-americanas, o músico captura em seu quarto CD solo muito do que criou durante os 15 anos desde Sotaque Brasil (2005), seu disco anterior - ao mesmo tempo em que dá a essas canções o sabor fugidio do improviso, em arranjos que se tornam tão marcantes quanto irrepetíveis.
"Se eu fosse gravar (esse álbum) de novo agora, não seria o mesmo resultado. Poderia ser melhor ou pior, mas igual não seria. É assim que ele existe e nunca mais vai se repetir", diz o músico, por telefone, ao Jornal do Comércio.
Manacô é uma expressão da tribo dos Kulina, da Amazônia, e se refere à maneira como se relacionam e se apoiam em comunidade, em uma lógica baseada no que se oferece, ao invés de aquilo que se possui. Uma forma de solidariedade, enfim. E solidariedade é, de fato, um conceito central no CD. O trabalho, que levou cerca de um ano para ficar pronto, conta com um extenso time de convidados, todos se revezando para gravações no estúdio caseiro de Liberato. Mesmo a arte gráfica é um negócio em família, tendo sido produzida por Miguel Liberato, filho do músico.
"Essa coisa de não gravar há muito tempo estava me incomodando, produzi vários discos de outras pessoas e o meu foi ficando na gaveta. E eu nem sabia como ia fazer um disco, não tinha dinheiro. Mas as pessoas começaram a me estimular, a vestir a camiseta (do projeto). Eu dizia 'mas eu não tenho grana' e elas respondiam 'não tem problema'. Foi a partir daí que a coisa começou a crescer", relembra.
Participam de Manacô músicos como Dudu Penz (baixo), Guilherme Goulart (acordeon), Luís Henrique New (teclados) e Luís Barcelos (bandolim) - todos com a oportunidade de improvisar seus próprios solos, o que deu um sentimento de fluidez e leveza aos arranjos. "Quis variar os improvisadores, ao invés de dizer 'o disco é meu' e improvisar em todas as músicas. Não é um disco de guitarrista, no qual o cara sola o tempo todo: é um disco de música. Minha preocupação é fazer música boa de ouvir", reforça.
Duas das faixas (Sete chaves e Espelho d'água) já haviam aparecido no CD Trezegraus (2009), único disco do projeto homônimo, no qual Liberato dividia as ações com Thiago Colombo, Ana Paula Freire e Luiz Jakka. As demais eram, até aqui, inéditas. Quase totalmente instrumental (a exceção é Amor e música, com voz de Anacruz Bizarro), Manacô é pura música brasileira - o que reflete bem o movimento seguido por James Liberato na última década e meia.
"Eu sempre fui visto como músico de jazz, e a coisa que eu menos toco hoje em dia é jazz. Outro dia fui tocar jazz com um amigo e eu nem lembrava direito das músicas", diz ele, rindo. "Meus outros CDs eram meio fusion, sempre tinha música brasileira, mas dali a pouco aparecia uma distorção no meio. Não tenho nada contra (atualmente), é claro, mas acho que o meu momento é de buscar sonoridades brasileiras, tocar e gravar música brasileira."
O que não quer dizer, de forma alguma, que o espírito jazzístico não esteja lá. Ao contrário. "O jazz está junto", assegura. "O conceito de jazz é pegar a música e brincar com ela. E o choro, por exemplo, tem uma linguagem de improvisação que é totalmente jazzística. Hoje a gente vê (o bandolinista brasileiro) Hamilton de Holanda rodando o mundo tocando um som que eu nem chamaria de choro, é música instrumental brasileira. E aí, isso é jazz ou não é? Para mim, é jazz", frisa.
A divulgação de Manacô acabou sendo bastante prejudicada pela indesejada chegada do novo coronavírus ao Estado. Com uma agenda de shows acertada para os próximos meses, o músico está destinando suas seis cordas às aulas por videoconferência, enquanto vai tratando de colocar o disco nas plataformas digitais. "Isso tudo puxou o nosso tapete", admite. "Agora o que a gente tem que fazer é sobreviver, manter a casa em pé. A ideia é retomar forte a agenda de shows quando tudo isso passar, possivelmente já no segundo semestre."
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