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Cultura

- Publicada em 10 de Dezembro de 2019 às 03:00

Livro 'Hique Gomez para além da Sbørnia' será lançado nesta terça no Theatro São Pedro

Obra retrata a carreira artística de Hique, que ficou conhecido pelo espetáculo  'Tangos e Tragédias'

Obra retrata a carreira artística de Hique, que ficou conhecido pelo espetáculo 'Tangos e Tragédias'


OTÁVIO FORTES/DIVULGAÇÃO/JC
Igor Natusch
Durante décadas, a chegada do verão trazia apenas uma certeza aos porto-alegrenses: a de que haveria uma nova temporada de Tangos e Tragédias no Theatro São Pedro. As atrações do veraneio nunca foram páreo para Kraunus Sang (incorporado por Hique Gomez) e o Maestro Pletskaya (Nico Nicolaiewsky), vindos da distante Sbørnia para lotar inúmeras sessões durante três décadas em cartaz. Mesmo após a morte de Nico, em 2014, a conexão da cidade com o inesquecível espetáculo segue presente - e é essa a grande força motriz de Hique Gomez para além da Sbørnia (Besouro Box, 368 págs., R$ 59,90), livro que conta essa trajetória pelo olhar de um dos artistas que criaram esse universo singular.
Durante décadas, a chegada do verão trazia apenas uma certeza aos porto-alegrenses: a de que haveria uma nova temporada de Tangos e Tragédias no Theatro São Pedro. As atrações do veraneio nunca foram páreo para Kraunus Sang (incorporado por Hique Gomez) e o Maestro Pletskaya (Nico Nicolaiewsky), vindos da distante Sbørnia para lotar inúmeras sessões durante três décadas em cartaz. Mesmo após a morte de Nico, em 2014, a conexão da cidade com o inesquecível espetáculo segue presente - e é essa a grande força motriz de Hique Gomez para além da Sbørnia (Besouro Box, 368 págs., R$ 59,90), livro que conta essa trajetória pelo olhar de um dos artistas que criaram esse universo singular.
A obra terá sessão oficial de lançamento nesta terça-feira (10), às 18h, no mesmo Theatro São Pedro (Praça Mal. Deodoro, s/nº) onde tanto se dançou o copérnico em tempos idos. Além da sessão de autógrafos, a noite contará com um bate-papo com o músico.
Com uma linguagem leve, Hique Gomez resgata a própria história artística, que se iniciou ainda na adolescência, em Soledade, e avançou em direção a Porto Alegre no começo dos anos 1980. Foi na Capital que ele e Nico iniciaram a parceria que, a partir de 1984, tomaria forma em um verdadeiro fenômeno cultural. Como era de se esperar, Hique Gomez para além da Sbørnia recupera desde os primeiros ensaios da peça até o sucesso dentro e fora do São Pedro, contando histórias de bastidores e oferecendo um rico panorama do que aconteceu (no Brasil e no universo de Kraunus e Pletskaya) durante esses anos todos. Em meio a esse turbilhão, a vida pessoal de Hique vai pontuando os acontecimentos, com muitas menções à vida familiar e a sua experiência com a meditação.
Seja como for, está em Tangos e Tragédias o interesse natural da maioria dos leitores. Em entrevista ao Jornal do Comércio, Hique reconhece esse fato com naturalidade. "Tem episódios na vida de artistas que são tão marcantes que definem a sua vida inteira. Gil, Caetano e Rita Lee são da Tropicália para sempre, Tom Jobim é da Bossa Nova, Didi Mocó é dos Trapalhões, Paul McCartney, do Beatles E nós, guardando todas as proporções, nascemos na pequena e anárquica Sbørnia!", diz ele.
Quem assistiu Tangos e Tragédias sabe bem como o caráter espontâneo e imprevisível era uma característica fundamental do espetáculo, em sintonia com o regime anarquista hiperbólico da pequena nação estrangeira. Diante do desafio de escrever sobre tudo isso, Hique Gomez optou por ser fiel a essa liberdade de movimentos, escrevendo uma obra "solta" do ponto de vista cronológico - quase como se os acontecimentos fossem sendo contados na medida em que eram lembrados pelo autor. "Preferi manter a tensão entre a narrativa e o leitor. Pegar o leitor pela mão durante as passagens engraçadas e conduzi-lo por um passeio sobre música clássica, espiritualidade, experiência transcendentais e conceitos sobre a consciência", pondera.
A relação entre Hique e Nico surge em tons que, para quem conheceu a dupla do lado de cá do palco, podem ser até surpreendentes em alguns momentos. Ficam claras, por exemplo, as diferenças de personalidade e de visão artística - algo que, por outro lado, dá à dupla uma potência humana bastante especial. "A melhor forma de lidar com as idealizações é ignorá-las. Porque não são reais", acentua Hique. "Eu acho um risco grande de acreditar nestas posições (idealizadas). O ego é um trapaceiro que adora galgar essas posições e geralmente te puxa o tapete no melhor da festa. Não dá pra levar muito a sério o que as pessoas acham do nosso trabalho, nem para o bem, nem para o mal."
Mesmo que o Maestro Pletskaya tenha regressado à Sbørnia, o universo em torno dela segue vivo. Além do espetáculo A Sbørnia kontr'atracka, no qual Hique divide o palco com Simone Rasslan (e que volta a cartaz no mesmo local em janeiro), e do longa de animação Até que a Sbørnia nos separe, de Otto Guerra e Ennio Torresan Jr., as possibilidades seguem infindáveis. "A Sbørnia pode prosseguir mesmo sem os dois criadores. É um universo vivo, basta ter quem o ative", garante o músico.
E o legado que permeia Hique Gomez para além da Sbørnia talvez sirva também como um anárquico farol, guiando novos navegantes em meio à tempestade política e social do País. "Iniciamos nosso trabalho em um momento bem pior do que este. Imagine que, quando estreamos, tivemos que passar o nosso texto pela censura federal. Hoje, se vive algo similar, mas longe do que foi tudo aquilo. Existe uma cena muito consistente", assegura. "Estamos em um ponto sem retorno. Diante da negação da cultura pelos atuais governantes, não há nada que eles possam fazer contra o nosso setor que dure muito tempo. Eles passarão e nós... Passarinhos. Acredito que toda essa confusão vai passar. Tudo vai melhorar!"
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